Argentina: Avós da Praça de Maio anunciam recuperação de mais uma neta, a de número 139
Organização fundada em 1977 trabalha na busca de pessoas que foram sequestradas pela ditadura argentina quando eram bebês, filhas de opositores daquele regime
(*) Matéria atualizada às 14h31.
A organização argentina Avós da Praça de Maio anunciou nesta terça-feira (21/01) a descoberta da identidade de mais uma neta sequestrada pela ditadura militar do país (1976 – 1983), a de número 139.
A primeira mensagem divulgada nas redes sociais dizia que a entidade havia encontrado a neta número 139, sem apresentar maiores detalhes, além do fato de que se trata de uma mulher. Porém, a postagem convocou os seguidores a participar de uma coletiva marcada para as 14h (mesmo hora em Buenos Aires e em Brasília), na qual foram reveladas mais informações sobre o caso.
“Hoje, nós damos as boas-vindas à filha de Noemí Beatriz Macedo e Daniel Alfredo Inama, nascida entre janeiro e fevereiro de 1978. Inexoravelmente, a verdade sobre os crimes da ditadura continua vindo à tona”, diz o comunicado das Avós, lido durante a coletiva.
As Avós da Praça de Maio são uma organização fundada em 1977 por mães de militantes de esquerda que foram opositores da última ditadura da Argentina e terminaram sequestrados e mortos pelo regime.
Como é de costume, o anúncio da nova neta não revela o nome da pessoa cuja identidade foi descoberta, por considerar que esta é uma decisão pessoal que cabe à pessoa decidir se quer fazê-lo e quando se sente preparada para dar esse passo.
Noemí Beatriz Macedo e Daniel Alfredo Inama
A organização contou que Noemí nasceu em 8 de fevereiro de 1955 em Mar del Plata e Daniel em 12 de novembro de 1951 em La Plata. Ambos eram militantes do Partido Comunista Marxista-Leninista da Argentina e que Daniel era chamado de “Pablo”, “El Pelado” ou “El Loco”. Já Noemí era apelidada pela família de “Noe” e seus colegas a chamavam de “Negrita”.
Com duas parceiras antes, Daniel teve dois filhos, Ramón Oscar e Paula Lorena.
Segundo o relato desta tarde, o casal foi sequestrado em 2 de novembro de 1977, mas não está explicado qual a localização exata em que foram detidos.
“A jovem estava grávida de seis ou sete meses. Os dois foram vistos por sobreviventes no centro clandestino “Clube Atlético”. Na mesma operação em que Daniel foi sequestrado, também foram levados outros colegas de partido: Teresa Galeano, Jorge Giorgieff, Beatriz Longhi e Oscar Ríos. Todos eles continuam desaparecidos”, afirmou o coletivo.
Busca pela neta 139
A Avós contaram que receberam informações sobre o caso de forma anônima e trabalharam para sistematixar a a investigação. “Depois, em coordenação com a Comissão Nacional do Direito à Identidade (Conadi), o caso continuou a ser tratado. A Conadi solicitou documentação às diferentes agências nacionais e provinciais, cujas respostas em tempo útil são essenciais para a resolução destas buscas”, afirmaram.

Avós da Praça de Maio apresentaram a neta 139 nesta tarde na Argentina
A organização relatou que a neta foi convocada pela Conadi em novembro de 2024 para esclarecer algumas informações e acabou concordando em ir ao Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG) para deixar sua amostra de DNA.
Ontem o Banco confirmou que ela é filha de Noemí e Daniel, e Conadi voltou a contactá-la para lhe dar a boa notícia.
“A partir de hoje, a nova neta poderá abraçar os dois irmãos, Ramón e Paula, que cresceram juntos graças ao bom vínculo que suas mães mantiveram e que sempre souberam da gravidez de Noemí”,salientaram as avós.
Avós da Praça de Maio
A entidade trabalha na busca de pessoas que eram bebês, filhas de opositores daquele regime, e que também foram sequestradas e tiveram suas identidades apagadas: algumas foram adotadas por militares que torturaram e mataram seus pais, outras foram vendidas a casais estrangeiros ou a civis argentinos que apoiavam o governo ditatorial.
Antes de encontrar a filha de Noemí Beatriz Macedo e Daniel Alfredo Inama, a última descoberta das Avós aconteceu em dezembro de 2024, quando foi anunciada a descoberta do neto número 138, filho de Marta Enriqueta Pourtalé e Juan Carlos Villamayor, ambos desaparecidos em 1976.
A organização também atua na defesa de diversas causas relacionadas aos direitos humanos e tem travado fortes embates contra o governo de Javier Milei por suas políticas de sucateamento de espaços de memória e sua aliança com setores que apoiaram a última ditadura argentina.
