Atualizada às 18h51
“Eu não queria morrer sem poder abraçá-lo”: foi o que afirmou a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, ao encontrar o neto que procurava desde os anos 70. Ele nasceu enquanto a filha dela era mantida no centro clandestino de detenção La Cacha, em La Plata.
Durante entrevista coletiva à imprensa, concedida nesta terça-feira (05/08), Estela ressaltou que outros 400 netos seguem desaparecidos. Os detalhes sobre a identidade de Guido serão preservados, como informou sua avó. “A cadeira que estava vazia agora tem dono. Os porta-retratos vazios terão sua imagem”, comentou.
Telám
Estela de Carlotto (ao meio, de colete cinza), comemorou o encontro do neto durante entrevista coletiva à imprensa em Buenos Aires
Sobre o fato de terem encontrado mais um neto, afirmou que “isso é para os que dizem ‘basta’, os que duvidam se fazemos bem” em seguir nessa busca pelas crianças que desapareceram durante o período em que o país viveu sob uma ditadura militar. “É uma resposta aos que querem que viremos a página, como se nada tivesse acontecido”.
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Depois de pelo menos 36 anos de busca, Estela ressaltou que é uma reparação não só “para ele e para nossa família”, mas para “a sociedade no conjunto”. Por isso, “temos que seguir buscando o que falta porque outras avós têm que sentir o que eu estou sentindo”.
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O fato, considerado histórico, está sendo amplamente comemorado na Argentina. A presidente do país, Cristina Kirchner, ligou para Estela pessoalmente para confirmar a notícia. “Choramos juntas”, contou.
“O que todas nós queremos é que esta história não se repita nas futuras gerações, por isso estamos lutando”, ressaltou, ao destacar a importância de a Argentina viver uma democracia na qual “podemos caminhar em liberdade”.
Busca pela identidade
O neto número 114 fez o teste de DNA voluntariamente. Guido nasceu em cativeiro no Hospital Militar de Buenos Aires em 26 de junho de 1978. Músico, se apresentou voluntariamente na sede das Avós para realizar o exame porque tinha dúvidas sobre sua identidade.
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“Os netos [estão vivos e] esperando que os sigamos buscando”, afirmou Carlotto. Sobre os jovens que ainda estão desaparecidos, ela comentou que muitos não as procura porque sentem que têm uma “dívida com os pais que os criaram”. Eles “não vêm para que os que os criaram não sejam enviados para a cadeia. Então esperam que [esses pais] morram para tomar esta decisão, mas nesta espera, muitas vezes as avós morrem”.
Trata-se, em sua visão, de um trabalho de conscientização. “Cada vez a sociedade nos entende mais. Na Argentina temos desaparecidos vivos que estão próximos e esperando”.
Questionada sobre como se sente neste momento, Estela disse que tudo o que mais quer neste momento é “abraçar e ver seu rosto como sempre sonhei”.