As tropas de paz das Nações Unidas estão sendo acusadas de abusar sexualmente de crianças em situação de rua na República Centro-Africana. De acordo com um porta-voz da ONU, em declarações proferidas nesta terça-feira (23/06), uma investigação foi aberta pelo país de origem das tropas. A nacionalidade dos soldados, no entanto, não foi revelada.
ONU/ Jesús Serrano Redondo
Soldados brasileiros da Minustah patrulham bairro de Bel Air, em Porto Príncipe, Haiti
Após o início dos confrontos na República Centro-Africana, em 2013, foram enviados ao país cerca de 10 mil capacetes azuis — nome pelo qual são conhecidas as forças de segurança das Nações Unidsa. Os embates tiveram início após combatentes muçulmanos tomarem o poder, iniciando ataques contra a milícia cristã.
“Se as acusações forem comprovadas, isso poderá constituir uma grave violação aos princípios da ONU e do código de conduta das tropas de paz”, disse o porta-voz Stephane Dujarric. Ele acrescentou ainda que o país de origem dos soldados “será requisitado para tomar uma rápida e apropriada ação punitiva”.
Dujarric não disse quantas crianças foram abusadas, mas informou que a missão da ONU foi notificada do fato na última sexta-feira (19/06) e o país que contribuiu com as tropas foi notificado no dia seguinte.
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“Cuidados médicos e assistência estão sendo providenciados para as supostas vítimas”, disse Dujarric a repórteres em Nova York. “O que nós sabemos é que os crimes podem ter ocorrido desde 2014 e mais recentemente este ano”.
Outros casos
As acusações contra as tropas de paz vieram após um relatório interno da ONU detalhando acusações de abuso infantil por parte de capacetes azuis de França, Chade e Guiné Equatorial entre dezembro de 2013 e junho de 2014 em Bangui, capital da República Centro Africana. Um dos pontos mais criticados é a demora nas investigações, que levam mais de um ano, dificultando a punição, como reconhece a própria ONU.
O documento da organização divulgado no ano passado revela que no foram registradas 51 denúncias de exploração e abuso sexual contra integrantes das forças de paz em 2014. De 2008 a 2013, a maioria dos casos aconteceu na República Democrática do Congo, na Libéria, no Haiti e no Sudão do Sul.
Só no Haiti, 231 pessoas admitiram, em entrevistas, terem recebido dinheiro, comida, celulares e joias, em troca de sexo com militares, civis e policiais da ONU. Um terço dos casos envolve menores de idade.
O Brasil, que comanda as tropas militares no Haiti desde o início da missão em 2004, não aparece no relatório entre os países com militares acusados de abuso. A lista é encabeçada por África do Sul, Uruguai e Nigéria.