Há uma semana: Se a humanidade acabar agora, a mãe natureza vai apenas continuar existindo
Enquanto a maior pandemia que a humanidade já vivenciou passa pela sua janela, vamos pensar juntos na eficiência do matriarcado para resolver situações como essa. Sim, estou novamente pedindo para que sejamos criativos e utópicos
Nesta pandemia de coronavírus, as coisas mudam tão rápido que a gente perde a noção do que aconteceu ontem, antes de ontem, há uma semana. O que choca pela manhã já é notícia velha à tarde.
Pensando nisso, Opera Mundi estreou a coluna “Notícias da Semana Passada”. O texto que você lê abaixo foi escrito há uma semana e publicado só agora.
Com esse "distanciamento temporal", procuramos mostrar o que estava ocorrendo na semana anterior e como a epidemia afetava nossas vidas. A ideia é responder: quem nós éramos na semana passada?
Hoje, publicamos o terceiro texto, da jornalista Ludimilla Balduíno:
São Paulo, 29 de março de 2020.
No último 8 de março, quando o novo coronavírus ainda era uma ameaça distante de nós, brasileiros, um amigo veio conversar comigo sobre uma postagem do Mídia Ninja. Nela, um desenho de uma mulher, esteticamente semelhante aos que estavam na moda nos anos 1980, com um telefone também da época, diz:
- Que comece o matriarcado.
Meu amigo, homem branco hétero classe média paulistana, ficou um pouco impressionado com essas palavras. Como se o matriarcado fosse ocupar e dominar, como se o matriarcado fosse o maior poder do mundo, e como se o matriarcado fosse uma ameaça e pudesse se tornar opressivo.
Tem vários equívocos aí. Vou listar:
1. O matriarcado é o maior poder do mundo. Nisso ele acertou.
LEIA TODOS OS 'NOTÍCIAS DA SEMANA PASSADA'
2. O matriarcado não é uma ameaça e nem um sistema de opressão. Achar que opressão e poder são a mesma coisa é um pensamento típico do patriarcado. Um pensamento arcaico, baseado na ideia de competição, que chegou a níveis que estão nos desequilibrando enquanto humanidade.
3. O matriarcado é um sistema justo em que todos são tratados como iguais. Isso não quer dizer que todos são tratados como lixo. Pelo contrário, todos são tratados com muito amor. Não acredite que o nivelamento é por baixo.
4. Parafraseando o nome daquela novela que é uma brilhante obra da televisão nacional neste início de anos 20 (cujas gravações foram canceladas por causa do corona): o matriarcado é, pura e simplesmente, amor de mãe.
5. O matriarcado vai ocupar e dominar. Só vai doer se você quiser que doa.
Pense no matriarcado como se ele fosse a mãe natureza. Até porque é.
A mãe natureza sempre dá um jeito de se equilibrar e, assim, a vida segue o seu curso. Alguns nascem, outros morrem, outros viram comida, outros se saciam comendo quem matou, alguns cantam, alguns constroem, alguns choram, alguns brigam, outros não, alguns transam, outros nascem, e assim tudo segue. Sem julgamento sobre justiça, sem pensamento sobre igualdade ou desigualdade, sem ansiedade e sem depressão, sem os “problemas” que a humanidade inventa só para explicar e fazer valer como se fossem verdades os “problemas econômicos”.
Aliás, se a humanidade acabar agora, e não restar nenhum Homo sapiens sapiens para contar história, a mãe natureza vai continuar assim: apenas existindo. Talvez alguns cães chorem, mas aí fazer o que: o nome disso é domesticação.
A mãe natureza está pouco se fodendo para os problemas econômicos do mundo. Até porque, se estivesse, não deixaria gente pobre com a casa alagada, nem inventaria de chover para cair ribanceira na favela, nem criaria eventos naturais trágicos para devastar os lugares mais miseráveis do planeta terra.
Com essas catástrofes ambientais que estamos acostumados a vivenciar toda vez que começam as águas de março fechando o verão, a mãe natureza só manda um sinal, que já foi decodificado pelos cientistas do mundo inteiro: estamos em desequilíbrio.
Nós estamos desequilibrados.
As catástrofes ambientais acontecem e as pessoas morrem, ficam doentes, pegam coronavírus, porque existe um desequilíbrio. Um desequilíbrio causado por nós mesmos, seres humanos, que estamos acostumados a agir baseados na velha ilusão patriarcal-econômica.
Aquela velha ideia de desenvolvimento ilimitado, de crescimento e de metas que não tem fim.
Afinal, se não houvessem pobres no planeta, estaríamos usufruindo de toda a tecnologia necessária para suportarmos os eventos mais catastróficos e todas as pessoas (reitero: todas as pessoas) seriam protegidas, também. De uma forma mais segura, mais econômica e mais eficiente. Porque deixaríamos de ter uma economia ilimitada para ter uma tecnologia ilimitada. Sim, estou falando da obsolescência programada - um monstro grotesco criado pelo sistema capitalista - e de tudo o que isso implica: uso de energias não-renováveis e poluentes, poucos novos materiais sendo desenvolvidos (ainda estamos na era do plástico), computadores que estragam, lâmpadas que queimam, lixo em excesso, consumo desnecessário, lucro para poucos, prejuízo para muitos - inclusive para o planeta.
O matriarcado não tem nada disso. Trata-se da liberdade, no seu sentido mais profundo, e está longe, muito longe, do sentido patriarcal de liberdade econômica. Não existe liberdade econômica: a economia está enraizada na noção patriarcal de desenvolvimento eterno e competição. Isso não está dando certo, patriarcas.
Quando existe liberdade no seu sentido mais intrínseco, existe a garantia de que todos vivam em plenitude. Viver em plenitude é viver sem medo. É viver com amor. É disso que trata o matriarcado. Proteção. Amor de mãe.
Já começou.