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Notícias da Semana Passada

Há uma semana: na luta contra o coronavírus, a agonia de ser secretária de Saúde

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Em 11 de abril, ficava para mim uma sensação de agonia, já que as barreiras sanitárias detectaram o quanto o isolamento social não vem sendo feito

Renata Martins Domingos

Conde (Brasil)
2020-04-18T13:30:00.000Z

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Nesta pandemia de coronavírus, as coisas mudam tão rápido que a gente perde a noção do que aconteceu ontem, antes de ontem, há uma semana. O que choca pela manhã já é notícia velha à tarde.

Pensando nisso, Opera Mundi estreou a coluna “Notícias da Semana Passada”. O texto que você lê abaixo foi escrito há uma semana e publicado só agora. 

Com esse "distanciamento temporal", procuramos mostrar o que estava ocorrendo na semana anterior e como a epidemia afetava nossas vidas. A ideia é responder: quem nós éramos na semana passada?

Hoje, publicamos o texto de Renata Martins Domingos, secretária de Saúde da cidade de Conde, na Paraíba:


Conde (PB), 11 de abril de 2020.

Sábado que antecede a Páscoa, acordei às 5h30. Cansaço, preguiça, rolei por mais 5 minutos cronometrados na cama. Estou dormindo sozinha na nossa suíte de casal de casa, porque sou a única que não cumpro o isolamento social por dever de ofício.

Levantei, tomei banho, e fiz meu café com tapioca. Precisava estar pronta às 6h30, quando um carro viria me buscar para ir para Conde, cidade de aproximadamente 25 mil habitantes da Paraíba, litoral sul, onde trabalho como secretária de Saúde.

A casa estava silenciosa, não fosse o barulho dos ventiladores, que tentavam afastar o calor desses dias dos meus filhos e de meu companheiro, que dorme no quarto de visitas.

Privilégio o nosso morar numa casa com três quartos!

Apressei-me tentando afastar a vagareza que me toma todas as manhãs.

6h25 saí pela porta de trás da cozinha, entrei na lavanderia e peguei meu sapato, minha bolsa, coloquei o tênis e a calça jeans, a camiseta, peguei o chapéu e arrodeei a casa para sair pelos lados. Desde que a quarentena começou, tentamos afastar a possível contaminação da casa em função do meu trabalho com medidas de prevenção, como essas.


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Em outras situações, quando era preciso trabalhar aos sábados, usava nosso carro para o deslocamento. Mas até isso temos tentado evitar, para diminuir os riscos de contaminação. Portanto, um carro da Secretaria de Saúde veio me buscar, como vem fazendo com os demais profissionais da Saúde de Conde que moram em João Pessoa, capital, e também dentro da própria cidade de Conde, em função da paralisação do transporte coletivo e da dificuldade de deslocamento.

Chegamos a BR 230, e seguimos rumo a Conde. Na ida, fui lendo as mensagens do WhatsApp e postando fotos nas redes sociais da Secretaria de Saúde de Conde.

Ser secretária de Saúde de uma cidade com pouca estrutura e pequena como Conde significa fazer de tudo um pouco, da reunião ao ofício, registrar os eventos, postá-los nas redes, presidir comissões, redigir termos de referências para as aquisições, editais, o que for preciso. Tem que ser pau para toda obra!

O motivo da ida a Conde em pleno feriado deve-se à decisão tomada pela Comissão de monitoramento da covid-19 da Prefeitura de instalar barreiras sanitárias nas três entradas da cidade. Na reunião com a equipe de gestão da Secretaria de Saúde nesta terça passada, decidimos por começar as barreiras sanitárias neste feriado. Isso porque as praias mais lindas da Paraíba encontram-se em Conde, onde muitas pessoas têm casas de veraneio. Com a chegada do feriado de Páscoa, previmos aumento de pessoas, que já era percebido nas regiões de Jacumã e Carapibus nas últimas semanas de quarentena. Fui pra Conde para monitorar e dar apoio às barreiras, como ver a questão da água aos trabalhadores, refeições, pilhas para os termômetros com raio ultravioleta, dentre outras questões. Aproveitei para planilhar as notificações decorrentes das medições de temperaturas acima de 37,8° feitas nos últimos dias nelas, para monitorar as pessoas que adentraram na cidade.

A implantação das barreiras sanitárias necessitou de planejamento para atender às recomendações de evitar o contágio pelo coronavírus pelos trabalhadores da Saúde e garantir a sua saúde: compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e dos termômetros possíveis de aferir a temperatura à distância (termômetros sem contato com infravermelho). Ausentes do mercado para compra, foi preciso que um profissional da Secretaria de Saúde fizesse real investigação mercadológica, deslocando-se para Recife e Caruaru em busca das poucas unidades encontradas, passíveis de pagamento a ele por indenização, graças às facilidades que a legislação federal trouxe para as aquisições públicas que visem combater a covid-19. Ufa, ao menos facilidade para gerir os recursos públicos essa doença trouxe, um dos grandes gargalos da gestão pública que impacta sobremaneira na implementação do Sistema Único de Saúde nos territórios.

Pois bem, ainda faltava contratar profissionais para as barreiras sanitárias, por meio de processo seletivo simplificado, o que ainda não aconteceu e que nos fez, no feriado, convidar profissionais de serviços de saúde que estariam paralisados para atuar, de forma remunerada, nessas barreiras.

Na quinta-feira, primeiro dia, percebi o quanto a medida tinha sido importante. Mais do que aferir a temperatura das pessoas, já que a febre acima de 37,8° é um dos principais sintomas da Covid-19, as barreiras sanitárias serviram para demonstrar para os visitantes da cidade a preocupação da Prefeitura, por meio da atuação conjunta da Secretaria de Saúde com a Guarda Civil Municipal, com a recomendação de não haver aglomerações nem nos espaços públicos nem nos privados. Importante dizer que a prefeita Márcia Lucena recebe muitas denúncias de festas, churrascos que acontecem na cidade, principalmente nas regiões das casas de veraneio, e por essas e outras questões de âmbito administrativo decretou estado de calamidade pública na cidade. A população sentiu-se cuidada!

Neste sábado, dia 11, minha percepção das barreiras continuou a ser positiva. Todavia, me bateu uma desesperança quando percebi a quantidade de carros que estavam se acumulando em filas nas duas principais entradas da cidade. Como só conseguimos três termômetros apropriados para uso em pessoas em áreas externas, não pudemos ampliar as aferições nas entradas. A desesperança decorreu da quantidade, centenas de carros adentrando na cidade vindo de outras cidades, João Pessoa, Recife, Pitimbu, Alhandra, Cruz do Espírito Santo, Campina Grande, a grande maioria vindo veranear, embora o acesso às praias esteja impedido. Medição feita pela Guarda Civil Municipal de Conde indicou a entrada de aproximadamente 5600 veículos na quinta-feira, 6600 veículos na sexta-feira e 7600 veículos neste sábado! Que isolamento social é esse, com tamanho deslocamento?

Bateu agonia, desespero!

O que será dos moradores de Conde após esse feriado, com o grande transitar de pessoas pela cidade? O que pode fazer uma Secretaria de Saúde, com poucos recursos para dar conta dessa irresponsabilidade social de investir no deslocamento entre cidades?

Conde não tem hospital público, não tem respirador, depende dos hospitais de João Pessoa para atender sua população em casos de média e alta complexidade decorrentes da covid-19.

A grade maioria da população de Conde, 75%, é extremamente pobre e vive com renda de até R$ 89,00 por pessoa por mês. Nesse sentido, se o coronavírus chegar na cidade, as repercussões serão desastrosas, o que pode prejudicar imensamente a população condense, que, apesar de todos os investimentos feitos pela Prefeitura nos últimos 3 anos, fortalecendo políticas públicas de efetivação de direitos e de afirmação das identidades e potenciais econômicos municipais, expressa a realidade brasileira da desigualdade social.

Fica para mim a sensação de agonia, já que embora as barreiras sanitárias tenham sido uma ação pública acertada da Secretaria de Saúde, elas detectaram o quanto o isolamento social não vem sendo feito.

Mas amanhã é um outro dia, outro dia de guerra contra a covid-19, outro dia de busca de novas saídas para esse cenário assustador. A força da vida há de prevalecer!

A Covid-19 reforça as letras da música da melhor cantora brasileira de todos os tempos, Elis Regina: “vivendo e aprendendo a jogar”.

(*) Renata Martins Domingos é secretária de Saúde da Prefeitura de Conde, na Paraíba.

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Eleições 2022 na Colômbia

'Colômbia será democrática', afirma Lula ao declarar apoio a Gustavo Petro

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Petista disse que voto em Petro deve ser de 'todos que defendem a democracia'; eleições na Colômbia acontecem neste domingo (29/05)

Redação Opera Mundi

São Paulo (Brasil)
2022-05-28T15:30:00.000Z

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou na noite desta sexta-feira (27/05) apoio a Gustavo Petro, afirmando que uma vitória do candidato na Colômbia é a "certeza" que o país "será democrático".

Segundo Lula, o voto em Petro deve ser de "todos que defendem a democracia". As eleições na Colômbia acontecem neste domingo (29/05) com o candidato à Presidência pelo Pacto Histórico na liderança nas pesquisas de voto. 

"Nós que lutamos para derrubar um governo fascista no Brasil, pedimos ao povo da Colômbia e todos que defendem a democracia, que no próximo domingo, vote no companheiro Gustavo Petro como presidente da Colômbia", disse.

Nós que lutamos para derrubar um governo fascista no Brasil, pedimos ao povo da Colômbia e todos que defendem a democracia, que no próximo domingo, vote no companheiro @petrogustavo como presidente da Colômbia.

— Lula (@LulaOficial) May 27, 2022

Para o petista, que se encontrou com movimentos sociais nesta sexta, uma vitória do campo progressista na Colômbia e no Brasil fortalece uma América Latina com "integração política, econômica e cultural". "Petro é a certeza que a Colômbia será democrática depois das eleições", defendeu Lula.

Petro, por sua vez, agradeceu o apoio do brasileiro, declarando torcer para que possam construir uma região "unida em produção, justiça social e conhecimento".

Gracias Lula, futuro presidente del Brasil, por su apoyo. ojalá podamos construir una latinoamérica unida en la producción, la justicia social y el conocimiento. https://t.co/DmTC33rxh4

— Gustavo Petro (@petrogustavo) May 27, 2022


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