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Morre Otelo Saraiva de Carvalho, comandante da Revolução dos Cravos que derrubou ditadura salazarista

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Moçambicano de Lourenço Marques, atual Maputo, Otelo foi o estrategista da ação que mudaria para sempre a história de Portugal

Lúcia Rodrigues

Viomundo Viomundo

São Paulo (Brasil)
2021-07-26T21:38:30.000Z

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Morreu neste domingo (25/07), aos 84 anos, o coronel Otelo Saraiva de Carvalho, comandante da Revolução dos Cravos, que derrotou a ditadura salazarista que oprimiu os portugueses por 48 longos anos.

Moçambicano de Lourenço Marques, atual Maputo, Otelo foi o estrategista da ação que mudaria para sempre a história de Portugal.

Quando criança, sonhava ser ator, mas foi impedido pelo pai. Migrou para a carreira militar por sugestão do avô. Mal sabia ele que seria personagem central no palco de uma história assistida pelo mundo.

A partir do posto de comando do Regimento de Engenharia N° 1 da Pontinha, vizinho a Lisboa, deu as orientações decisivas ao capitão Salgueiro Maia, que chefiava as tropas que encurralaram o regime no Quartel do Carmo, no centro da capital portuguesa.

Otelo chegou a ser considerado o Che Guevara português. Foi a Cuba a convite de Fidel Castro e recebido com honras de chefe de Estado, em julho de 1975, para participar das comemorações da tomada do Quartel de Moncada.

“O movimento do 26 de julho foi um movimento de libertação para Cuba, como para Portugal é o Movimento das Forças Armadas. Assim como o movimento do 26 de julho foi a vanguarda do povo trabalhador cubano, também o Movimento das Forças Armadas portuguesas está ao lado das classes mais desfavorecidas de Portugal na sua justa luta”, afirmou a milhares de cubanos durante discurso feito em Santa Clara, local onde os revolucionários cubanos impuseram a derrota final ao ditador Fulgencio Batista.

Comandante militar de Lisboa, alçou o Comando Operacional do Continente (Copcon) durante o Processo Revolucionário em Curso (Prec), mas começou a cair em desgraça quando optou por se aliar a posições esquerdistas para acelerar o aprofundamento da Revolução.

A tática frustrada acabou tendo efeito contrário, culminando na derrubada do coronel Vasco Gonçalves, homem próximo ao Partido Comunista Português (PCP), da chefia do Governo Provisório.

A destituição de Gonçalves, em setembro de 1975, abriu as portas para o fortalecimento de setores da direita do Movimento das Forças Armadas (MFA).

Otelo viria, inclusive, a ser vítima do refluxo da esquerda na condução do processo revolucionário.

Após o episódio do 25 de Novembro de 1975, em que se atribuiu a ele o incentivo a ação de paraquedistas da Base de Tancos na tomada de várias áreas militares, perderá o comando do Copcon e será preso na sequência, por determinação do grupo à direita do MFA, que viu na iniciativa a possibilidade da radicalização da Revolução.

Reprodução/Flickr
Moçambicano de Lourenço Marques, atual Maputo, Otelo foi o estrategista da ação que mudaria para sempre a história de Portugal

Ao deixar a prisão, ainda concorreria nas eleições presidenciais do ano seguinte, como candidato independente apoiado por partidos de esquerda, alguns dos quais viriam a compor o Bloco de Esquerda décadas depois.

Obteve pouco mais de 16% dos votos, mas o suficiente para conquistar a segunda colocação, numa eleição vencida pelo general António Ramalho Eanes, integrante da ala dita moderada do MFA.

Otelo ainda disputaria mais uma eleição à Presidência da República, em 1980, desta vez pelo partido Força de Unidade Popular (FUP), que ele fundou a partir da união de diversos pequenos partidos de esquerda e extrema esquerda. Mas nesta disputa, o comandante da Revolução dos Cravos teve menos de 2% dos votos.

O partido dele era acusado de ligação com as Forças Populares 25 de Abril, popularmente conhecidas como FP25, responsabilizadas por uma série de atentados ocorridos na década de 1980. A imputação de envolvimento da FUP nas ações da FP25, sempre negadas por Otelo, o levaria à prisão novamente, desta vez por cinco anos.

Questionado se tinha alguma amargura por ter sido preso depois de ter libertado Portugal de uma ditadura de quase meio século, respondeu que não.

A única coisa que dizia afligi-lo era a morte da filha de sete anos quando participava da guerra colonial na Guiné. Ele se culpava por ter levado a família para o país africano onde a criança contraiu uma doença mortal.

Bígamo assumido, viveu até o fim da vida dividido entre o amor de duas mulheres que ele jurava amar com a mesma intensidade.

Neste 25 de julho, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho inscreveu definitivamente seu nome no panteão da história de Portugal como o rosto da luta por liberdade.

*Lúcia Rodrigues é jornalista e formada em Ciências Sociais pela USP

Memória

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Política e Economia

Argentina promulga lei que regula cannabis medicinal e cânhamo industrial

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'Um triunfo da sociedade contra a hipocrisia', assegurou o presidente Alberto Fernández sobre a nova legislação

Fernanda Paixão

Brasil de Fato Brasil de Fato

Buenos Aires (Argentina)
2022-05-27T21:20:00.000Z

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Nesta sexta-feira (27/05), o governo argentino promulgou oficialmente a lei 27.669 que regulariza a cannabis medicinal e o cânhamo industrial no país, conforme publicado no Boletim Oficial. A nova legislação estabelece a criação da Agência Reguladora da Indústria do Cânhamo e da Cannabis Medicinal (Ariccame) e será responsável por "regulamentar, controlar e emitir as autorizações administrativas com respeito ao uso de sementes da planta de cannabis, da cannabis e seus produtos derivados".

A Lei do Marco Regulatório para o Desenvolvimento da Indústria da Cannabis Medicinal e o Cânhamo Industrial também prevê a criação do Conselho Federal para o Desenvolvimento da Indústria do Cânhamo e Cannabis Medicinal, que contará com um representante do governo nacional e um por cada província do país. O já existente Instituto Nacional de Sementes (Inase) ditará as normas complementares.

"Este é um passo para o acesso ao direito à saúde", alegou o presidente Alberto Fernández durante o ato de promulgação da lei na última terça-feira (24/05) na Casa Rosada, sede do governo argentino. "Começamos a escutar as mães que, com a cannabis, faziam com que seus filhos pudessem ter uma vida melhor. Começamos a prestar atenção e hoje estamos ganhando uma batalha contra a hipocrisia", disse o mandatário.

"Por trás dessa lei, há uma indústria que produz, que dá trabalho, que trará dólares mas que, fundamentalmente, cure", agregou o presidente.

Também presente na cerimônia, o ministro de Ciência e Tecnologia, Daniel Filmus, ressaltou que a lei representa uma alternativa produtiva, e estima que levará à criação de pelo menos 10 mil postos de trabalho em três anos.

Twitter/Alberto Fernández
'Este é um passo para o acesso ao direito à saúde', alegou o presidente Alberto Fernández

Luta das mães contra o tabu da cannabis

O projeto de lei foi aprovado no dia 5 de maio na Câmara dos Deputados, com 155 votos a favor e apenas 56 contra. O projeto define um marco legal para o investimento público e privado em toda a cadeia da cannabis medicinal e do cânhamo industrial.

A conquista de uma lei para regularizar o uso medicinal da maconha foi resultado da luta de mães cujos filhos padecem alguma doença tratável com cannabis. Diante do tabu e da penalização sobre o cultivo e o uso da maconha, essas mães conformaram uma rede de troca de conhecimentos e produtos para o tratamento de seus filhos. A organização Mamá Cultiva esteve na linha de frente dessa militância.

O cânhamo, apesar de altamente estratégico industrialmente, também padece do tabu por ser também uma planta da família Cannabis. Neste caso, consiste em uma variedade da planta, a espécie Cannabis ruderalis, cujas fibras possuem alto valor industrial, sendo matéria-prima sustentável para a produção têxtil, como algodão, de alimentos, remédios, produtos de beleza e óleos.

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