No último dia 12 de maio, a ativista Nora Cortiñas visitou a Praça de Maio, no centro de Buenos Aires, para reivindicar o paradeiro do seu filho, Carlos Gustavo Cortiñas, desaparecido durante a última ditadura militar da Argentina (1976-1983). Foi a última vez que ela realizou o hábito que repetia desde meados de 1977, quando ela e outras oito mulheres fundaram o movimento das Mães da Praça de Maio.
Nora faleceu nesta quinta-feira (30/05), aos 94 anos, metade deles dedicados à busca por informações sobre seu filho, que nunca chegaram, e também ao apoio à luta pela democracia na Argentina, e a causas sociais em diversos lugares do mundo, especialmente na América Latina.
Nascida em março de 1930, Nora perdeu seu filho primogênito no dia 15 de abril de 1977. Carlos Gustavo era militante da Juventude Peronista (JP) e trabalhava no Ministério da Economia, para onde foi trabalhar naquela manhã, e nunca mais voltou.
Após dias de ausência do filho, Nora decidiu ir até a Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do Poder Executivo na Argentina – que, naquele então, liderado pelo general Jorge Rafael Videla.
Lá ela encontrou outras mães pedindo por informações sobre os seus filhos, incluindo Azucena Villaflor, Esther Ballestrino, Josefina García e María Eugenia Ponce, com quem se associou para a fundação do Movimento das Mães da Praça de Maio, grupo que se notabilizou por se reunir periodicamente em frente ao palácio presidencial argentino, denunciando os crimes cometidos pela ditadura da época.
Mesmo com o fim do regime militar na Argentina, as Nora e as Mães da Praça de Maio continuaram se reunindo com frequência na frente da Casa Rosada, não só para insistir em informações sobre seus filhos como para defender causas sociais no país.
As Mães também apoiaram diversos movimentos sociais em outros países do mundo, especialmente na América Latina. No caso de Nora, sua última viagem internacional foi a Santiago do Chile, em 2019, quando participou de eventos relacionados à revolta social que ocorreu no país naquele ano.
Mais recentemente, Nora se tornou também ícone do movimento feminista da Argentina, ao qual aderiu, mesmo admitindo que não era feminista em sua juventude, mas que entendeu a importância de defender as causas das mulheres nos últimos anos. Tamanho foi o efeito desse apoio que, em 2022, um grupo de mulheres chegou a fundar um clube de futebol em sua homenagem, o Norita Fútbol Club.