Fredric Jameson, influente filósofo marxista e crítico literário, faleceu no último domingo (23/09) aos 90 anos. Reconhecido como uma das vozes mais importantes no cenário cultural e literário das últimas cinco décadas, Jameson escreveu de forma prismática, bebendo da fonte de pensadores como Theodor Adorno, Walter Benjamin, Georg Lukács e Ernst Bloch.
Defensor do pensamento dialético, sua visão foi fortemente influenciada por uma filosofia que remonta a Hegel, é aprimorada por Karl Marx e expandida por Lukács. Um exemplo disso é seu argumento de que a forma de comunicação é constitutiva do conteúdo, conforme expresso em seu livro de 1971, Marxismo e forma: teorias dialéticas da literatura no século XX.
Desde 1985, ele lecionava na Universidade de Duke, na qual desenvolveu análises que conciliavam, à sua maneira dialética, perspectivas por diversas vezes vistas como incompatíveis, como a psicanálise freudiana e o existencialismo sartreano.
Sua obra é marcada por uma originalidade notável e uma abrangência que atravessou diversos campos, incluindo o pós-modernismo, a crítica cultural e o marxismo. Em seus escritos, Jameson abordava as transformações da sociedade pós-industrial e a luta de classes, analisando essas questões à luz da expansão global do capitalismo e do papel da mídia e das comunicações nesse contexto.
Em sua obra Pós-modernismo ou a lógica cultural do capitalismo tardio, de 1991, Jameson examinou como a subjetividade e a forma literária refletem as mudanças sociais constantes no contexto do “capitalismo tardio”. Ele recorreu às ideias de Ernest Mandel, que dividia o capitalismo em três fases principais — de mercado, monopolista/imperialista e multinacional — e sugeriu que cada uma dessas fases tinha seu estilo cultural específico, para argumentar que a cultura serve como base para a expansão capitalista.
A impossibilidade de uma utopia viável já era discutida em O inconsciente político: a narrativa como um ato socialmente simbólico (1981). Neste livro, Jameson aborda o “inconsciente” como uma hipótese sobre a produção artística, destacando que a criação envolve um contexto histórico imediato, seu campo ideológico e as identificações coletivas entre indivíduo e grupo.
Conforme resgatado pela London Review of Books, uma vez, seu colega e historiador marxista Perry Anderson, observou que Jameson desenvolveu “pela primeira vez uma teoria da ‘lógica cultural’ do capital que simultaneamente oferece um retrato das transformações dessa forma social como um todo”. Também foi destacado que, ao passar “do setorial para o geral”, Jameson alcançou a mais plena consumação do marxismo ocidental.
Jameson contribuiu com 17 artigos para a London Review entre 1994 e 2022, na qual abordou autores como Gabriel García Márquez, Margaret Atwood, Olga Tokarczuk, Walter Benjamin, Joseph Conrad e Slavoj Žižek. Parte desses textos foram reunidos em Present: The Novel in its Crisis of Globalisation, uma coletânea publicada pela editora ainda este ano.
Sua obra final, The Years of Theory: Postwar French Thought to the Present, por sua vez, tem lançamento previsto para 8 de outubro. O livro promete explorar o pensamento intelectual francês do pós-guerra, conectando eventos políticos importantes, como a Libertação de Paris, a Guerra da Argélia, as revoltas de maio de 68 e a criação da União Europeia, à sua análise da lógica cultural do “capitalismo tardio”.