Quarta-feira, 18 de junho de 2025
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Ampliar a participação feminina no comércio internacional deixou de ser apenas uma pauta de equidade para se tornar uma prioridade estratégica de desenvolvimento econômico. Incluir mulheres de forma equitativa nas cadeias globais de valor é uma decisão que beneficia não só as empresárias, mas toda a sociedade. De acordo com o Instituto Global McKinsey, se houvesse plena igualdade de gênero no mercado de trabalho, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial poderia aumentar em até 28 trilhões de dólares. Trata-se de um volume de riqueza que permanece adormecido, impedido por estruturas sociais e econômicas que ainda privilegiam os homens nos espaços de decisão e liderança.

Esse desequilíbrio é reflexo de uma divisão de trabalho baseada em gênero que persiste há séculos. Enquanto os homens ocupam a maioria dos cargos de liderança, com maiores salários e visibilidade, as mulheres são historicamente direcionadas para atividades menos valorizadas economicamente — muitas vezes limitadas ao ambiente doméstico ou a setores com baixa inserção internacional. O resultado é uma sub-representação feminina nos fluxos de comércio e investimento global, e, com isso, um enorme desperdício de potencial produtivo.

Para enfrentar essa lacuna, foi criado, em 2023, o Programa Mulheres e Negócios Internacionais, uma iniciativa da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). O objetivo do programa é ampliar a participação de empresas lideradas por mulheres na base exportadora brasileira e nas cadeias globais de valor. A proposta adota uma abordagem transversal, incorporando a perspectiva de gênero em todas as frentes de atuação da agência — da inteligência de mercado à promoção comercial, da capacitação à atração de investimentos estrangeiros.

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O modelo inclui tanto ações afirmativas — como pontuação adicional para empresas lideradas por mulheres em editais e programas da ApexBrasil — quanto iniciativas exclusivas para esse público. A estratégia prioriza micro e pequenas empresas, organizações socioprodutivas, startups e empreendimentos da sociedade civil de todas as regiões do país, independentemente do grau de maturidade exportadora ou setor de atuação.

Nos primeiros seis meses de implementação, os resultados foram expressivos. Os atendimentos da ApexBrasil a empresas com liderança feminina cresceram 32% entre 2022 e 2023, passando de 2.161 para 2.883. Quase 700 novas empresas passaram a ser atendidas, participando de mais de 30 ações específicas realizadas no âmbito do programa. São dados que indicam não apenas aumento de acesso, mas também maior engajamento dessas empresas com o comércio internacional.

Ainda assim, os desafios são muitos. Segundo o Relatório Global de Lacuna de Gênero 2023, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, a paridade de gênero na força de trabalho global é de apenas 68,6%. No ritmo atual, serão necessários 131 anos para que homens e mulheres alcancem igualdade plena nesse campo. No comércio exterior, o cenário não é mais animador: apenas 14% das empresas exportadoras brasileiras são lideradas majoritariamente por mulheres.

Fatores estruturais ajudam a explicar essa realidade. Empreendimentos liderados por mulheres costumam estar concentrados em setores menos voltados à exportação, como serviços, e tendem a ser de menor porte, o que dificulta o acesso a mercados externos. Além disso, muitas empresárias enfrentam barreiras adicionais, como acesso limitado a crédito, redes de contato restritas e maior aversão ao risco — muitas vezes condicionada por contextos sociais e familiares.

Mesmo diante dessas barreiras, o comércio internacional pode ser uma poderosa ferramenta de inclusão e transformação. Empresas que exportam tendem a ser mais produtivas, inovadoras e geradoras de empregos de maior qualidade. Um estudo do Banco Mundial e da OMC mostrou que, quando países em desenvolvimento dobram suas exportações de manufaturados, a participação das mulheres nos salários totais da indústria cresce, em média, 5,8 pontos percentuais. Ou seja, expandir a presença feminina no comércio global é também uma forma de distribuir renda e ampliar oportunidades.

Há, portanto, um enorme potencial inexplorado. Iniciativas como o Programa Mulheres e Negócios Internacionais mostram que é possível reduzir desigualdades por meio de políticas públicas bem desenhadas, com ações específicas e intencionais. Quando há prioridade institucional e vontade política, resultados aparecem — e com rapidez.

Fomentar a participação de mulheres nos negócios internacionais não é apenas uma correção histórica. É a construção de um futuro mais equilibrado, eficiente e representativo. E isso interessa a todos: governos, empresas, trabalhadores e consumidores. Incluir mais mulheres é ampliar horizontes — econômicos, sociais e culturais — para o Brasil e para o mundo.

Fonte: Mulheres e Negócios Internacionais