‘Eleições judiciais são passo importante para a democracia no México’, afirma ativista
Daniela González López, do Observatório de Direitos Humanos, falou sobre o pleito deste domingo, no qual serão eleitos mais de dois mil magistrados através das urnas
Foi em frente ao Hemiciclo Benito Juaréz, monumento em homenagem ao ex-presidente mexicano, e que agora está cercado por um painel em defesa da Palestina, que Opera Mundi encontrou Daniela González López, coordenadora internacional do Observatório de Direitos Humanos e dos Povos.
A ativista de 44 anos analisa o cenário partir das eleições populares para o Poder Judiciário, considerado um marco histórico e inédito no país, pois através delas serão eleitos 881 magistrados para cargos federais e 1.800 para cargos estaduais. Ademais, também comenta sobre os pontos positivos e as contradições do governo de Claudia Sheinbaum, a primeira mulher a presidir o segundo país mais populoso da América Latina.
“Estamos lidando com muitos espaços onde a corrupção continua prevalecendo e não é culpa apenas do nosso atual governo, neste caso da nossa presidenta. Toda essa herança deixada por governos neoliberais é brutal porque há grupos ou máfias de poder que se enraizaram e que ainda exercem muita força no sistema”.
Admiradora do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Daniela já esteve no Brasil diversas vezes. Ao recordar a visita feita à Escola Nacional Florestan Fernandes, ela considera importante compreender de perto as lutas populares travadas pelos campesinos e organizações em defesa dos povos originários e quilombolas.
De acordo com Daniela, a busca por soberania, justiça social e direitos humanos deve permanecer como prioridade na agenda da América Latina. Por seu ativismo à frente do Observatório, fundado em 2016, teme por sua própria segurança. Ela revelou à reportagem que tem recebido ameaças de grupos paramilitares devido ao seu trabalho em defesa de comunidades indígenas e da causa palestina.
Sua crítica mais forte ao atual governo do México está relacionada à decisão de manter vínculos econômicos e políticos com interesses sionistas e a reluta em romper relações com Israel, apesar do genocídio em Gaza.
A ativista também fala do papel do México na cena regional e global, destacando a importância do fortalecimento de alianças latino-americanas e a participação no BRICS como uma alternativa contra o imperialismo estadunidense. Ela menciona ainda a mudança do nome do Golfo do México pelo governo dos Estados Unidos como símbolo das tentativas do governo Trump em desestabilizar o país.
Ainda no cenário internacional, reforça a necessidade de ações concretas na COP 30, incluindo a defesa dos territórios indígenas, a atenção às vítimas de desaparecimentos e a resistência às políticas coloniais e de exploração.
Daniela conclama por uma resistência popular baseada na cultura de vida, paz, justiça e respeito à natureza, enfrentando o avanço de tecnologias de morte impulsionadas pelo capitalismo. “Não há nenhuma receita pronta. Não é o mesmo para o México, não é o mesmo para o Brasil, mas podemos dizer, com base nas experiências de resistência popular, que estão sendo desenvolvidas novas formas e pensamentos de vida a partir dos nossos próprios territórios”.

Stefani Costa
Confira a entrevista concedida a Opera Mundi pela coordenadora internacional do Observatório de Direitos Humanos e dos Povos, Daniela González López:
Opera Mundi: Qual a importância das eleições judiciais para a luta dos povos indígenas e dos mais pobres no México?
Daniela González López: No contexto em que estamos, é uma ocasião complicada ao nosso país. Existem muitas situações que não foram resolvidas, embora tenham havido governos diferentes desde o sexênio passado com Andrés Manuel López Obrador e atualmente com Claudia Sheinbaum.
Muitas necessidades históricas que viemos arrastando ainda não foram atendidas, tanto como povos originários, povos afro e também setores variados que ainda estão muito marginalizados e excluídos. Não se conseguiu dar voz e também protagonismo real a todas essas conjunções.
Mas, as eleições judiciais são um passo importante no intuito de abrir portas para o exercício democrático cidadão em nosso país, no qual se pretende que os povos tenham uma participação cidadã protagonista. No entanto, acho que há muitas questões que não estão suficientemente claras e resolvidas para o resto da população no México, sobretudo a nível da execução de todo esse processo eleitoral. Talvez alguns setores que estão mais informados ou que têm mais acesso à informação, de maneira geral, tenham um caminho claro.
Porém, infelizmente, sabemos que não é assim para a maioria da população, principalmente em relação à mais vulnerável. O pleito de domingo é o começo para limpar justamente esse aparato, pois o poder judiciário em nosso país tem sido muito corrupto impedindo um acesso à justiça real. Esperamos que haja realmente a capacidade disso se aprofundar e, sobretudo, se abrir realmente ao povo, o que mais importa afinal.
É preciso reforçar o fato de que estamos lidando com muitos espaços onde a corrupção continua prevalecendo e não é culpa apenas do nosso atual governo, neste caso da nossa presidenta. Toda essa herança deixada por governos neoliberais é brutal porque há grupos ou máfias de poder que se enraizaram e que ainda exercem muita força no sistema.
Então há uma correlação de forças relevante desses políticos na atual administração?
Podemos dizer que eles ocuparam os espaços do partido Morena. E precisamos lembrar que desses grupos priistas (militantes o PRI, o Partido Revolucionário Institucional, representante da direita tradicional) e panistas (militantes do PAN, Partido da Ação Nacional, de extrema direita), muitos têm vínculo direto com os grupos paramilitares em nosso país.
Essas situações são muito graves porque corroem por dentro o processo democrático popular, que deveria ser melhor e se fortalecer. Mas, sabemos que na realidade não é assim. Reconhecemos que a eleição é algo inédito que o povo mexicano está vivendo, trata-se de um exercício muito novo que cabe a nós, organizações populares, aprofundar e continuar contribuindo desde a parte técnica e educativa para que os diferentes setores dos nossos povos realmente tenham essa capacidade e essa confiança de exercerem os seus votos de maneira adequada, para que não haja muitas terminologias ou metodologias complexas demais.
E quais são as principais organizações populares atuantes no momento?
Temos uma das principais figuras mobilizadas, a Coordenadora Nacional dos Trabalhadores da Educação, que obviamente não concorda com esse processo. Alguns membros dizem que não vão boicotar, e, tomara que seja assim.
Só que há muitos grupos da esquerda mais radical que estão totalmente contra esse processo eleitoral e contra a presidenta do nosso país. Todavia, evidentemente, são movimentos mais isolados, que não têm uma base social muito forte. As grandes organizações populares, massivas, estão com o processo da Quarta Transformação e estão impulsionando fóruns, reuniões de análise profunda e debates para ver quais são os candidatos e candidatas com melhores perfis.
E quais são essas organizações?
O Movimento Urbano Popular é uma das maiores, não só da Cidade do México, já que possui base social a nível nacional. É um grupo que está muito envolvido nessas eleições. Esperamos que esse processo ocorra sem nenhum tipo de violência. Essa também é a perspectiva do nosso Observatório de Direitos Humanos e dos Povos. Fazemos esse apelo ao povo do México, aos diferentes setores, para que se respeite a participação cidadã, seja como for. Não temos cifras precisas de quanto será a participação real das pessoas, mas fazemos esse apelo para que tudo se realize em um ambiente pacífico, com respeito mútuo a diversidades e opiniões. Claro, haverá quem não queira votar, então que assim seja. Cada cidadão e cidadã no México pode decidir, esse é o apelo que temos feito, para isso se desenvolver da melhor maneira. Precisamos de um processo democrático que seja realmente impactante no poder judiciário do nosso país.
E qual tem sido o papel dos Estados Unidos nesta eleição?
A interferência dos Estados Unidos em nosso país é grande. Por razões óbvias, é o país vizinho e sempre temos ali a voz deles tentando uma ingerência direta ou indireta nos assuntos internos do México.
Acredito que o nosso atual governo esteja tendo uma postura firme e digna com respeito à nossa soberania e à autodeterminação de nosso povo. Temos a presença e o desenvolvimento diplomático mais positivo em relação à nossa presidenta, já que as linhas hegemônicas do imperialismo estadunidense sempre se chocam muito com tudo que vivemos.
Recentemente, tivemos o caso dos companheiros Ximena Guzmán e José Muñóz, que foram assassinados. Ela era secretária particular da prefeita da Cidade do México, Clara Brugada, e ele assessor da administração da cidade, gente de muita confiança, mas sem cargos ostentosos na administração da cidade, que também é parte da Quarta Transformação e do Partido Morena. Depois do lamentável episódio, vimos o embaixador dos Estados Unidos declarar que é necessário que haja um apoio do seu país em relação à segurança no México.
Então, existe sim uma linha clara de interposição, talvez não direta, só que sempre à procura de algum motivo para influenciar nos assuntos internos do nosso país. E isso se dá justamente nesse marco de tais eleições, inclusive porque tem sido difícil encontrar uma análise generalizada como a das organizações ou a do próprio Observatório, que considera esse fato um ataque para deslegitimar tanto o governo da Cidade do México quanto o governo liderado pela presidenta Claudia.
Por quê?
Foram mortas pessoas que estavam muito próximas da chefe de governo. E foi de forma muito violenta. Nem sequer tinham uma motivação maior para isso, o que colocou a nossa sociedade em um estado de terror generalizado, gerando uma desestabilização imensa. Considero isso como algo muito importante, muito forte, o que aconteceu em torno desses atentados que foram cometidos.
Além disso, eram pessoas muito próximas aos movimentos populares na Cidade do México. Ximena, por exemplo, era uma companheira, uma socióloga muito comprometida e que há anos trabalhava com a Clara Brugada. Era uma pessoa comprometida pelo seu esforço e dedicação, totalmente transparente em todos os cargos que ocupou.
No caso do José, ele era um companheiro que tinha saído das fileiras da União Popular Revolucionária Emiliano Zapata, uma das organizações populares mais potentes do nosso país e que tem um grande vínculo com Clara Brugada. Ele também emanou dos movimentos populares em torno da UPRES. Ou seja, isso é também como um aviso para mostrar que eles estão aqui causando danos e que, obviamente, possuem vínculos com grupos paramilitares financiados pela direita fascista no nosso país.
Apesar de tudo, é evidente que os dois últimos governos geraram rompimentos das relações econômicas e também das relações que têm a ver com negócios sujos e afins desses grupos que ainda ostentam o poder em nosso país. Esta situação pode ser configurada como uma ingerência dos Estados Unidos para que haja um pretexto de dizer que na Cidade do México precisamos de presença do exército estadunidense.
E como reverter essa situação?
Vamos continuar tendo mais conversas com a presidenta Claudia Sheinbaum para ver como podemos ajudar a melhorar a segurança no México. Sabemos que todas essas questões têm sido manejadas pelos Estados Unidos. Esses dois assassinatos me comoveram muito. E o mais curioso é que ocorreram justamente em dias prévios às eleições, ou seja, acredito que foi tudo bem pensado e que já vinham trabalhando nisso há muito tempo. A execução saiu quase perfeita, não tiveram nenhum contratempo para assassiná-los. Agora estão utilizando o caso para atacar a administração da Cidade do México.
Você também tem sofrido ameaças?
Evidentemente que sim. Antes da pandemia, há cerca de quatro anos, nós estávamos acompanhando e defendendo uma comunidade indígena mixteca, que em Oaxaca se chama Ojite Cuauhtémoc, presente na parte de Tlaxiaco. Por conta desse trabalho, um grupo paramilitar que se chama Antorcha Campesina, nos ameaçou de morte, a mim e a outras companheiras e companheiros da própria comunidade.
Nós temos o mecanismo de proteção para defensoras, defensores e jornalistas, que emite informações à Secretaria de Governo em nosso país a nível de todo o seu território. Muitas vezes esse mecanismo é ineficaz e isso também deve ser dito, mas é um sistema que realmente nos dá um botão de segurança. Hoje eu esqueci de trazê-lo, mas normalmente ando com ele. Eles chamam de ‘botão de pânico’.
Porém, na verdade, com ou sem ele, as chances de morte existem. Então a ideia é que o levemos sempre a todos os lugares que vamos. Qualquer coisa basta pressioná-lo e o sinal vai diretamente para o Ministério do Interior. Isso também não deixa de ser um risco, porque o governo pode mudar. Por exemplo, o ex-presidente Enrique Peña Nieto nunca teria dado isso a nós.
Ao mesmo tempo, então, é algo assustador porque eu realmente não quero que, nesse caso, saibam onde estou. Poderiam enviar alguém para me assassinar diretamente. Sofremos perseguição, assédio e ameaças de morte de grupos paramilitares, embora eles atualmente tenham diminuído, só que que ainda têm poder territorial.
E o que mais tem chamado a atenção dessas forças no seu caso?
Atualmente estou envolvida quase que 100% com a solidariedade ao povo palestino contra o genocídio, a ocupação israelense e tudo o que isso implica, ou seja, os crimes de desumanidade. O trabalho do Observatório, a partir de 7 de outubro de 2023, tem sido ainda mais concentrado e focado no genocídio em Gaza.
Também tivemos ameaças de grupos infiltrados, porque o sionismo está em todos os lugares, inclusive nas fileiras dos movimentos verdadeiramente pró-palestinos no México e em todo o mundo. Por isso o assédio contra mim neste último ano foi tremendo. Muitas pessoas tentaram desacreditar o meu trabalho e o trabalho do Observatório, porque sou uma das principais porta-vozes no México. Nós representamos a Palestina em outros países do mundo. Temos falado e feito coisas pela causa palestina há muitos anos, participando de fóruns, por exemplo, na Suíça, na Guatemala e aqui.
E, claro, estamos ligados ao BDS há muitos anos também. Nossa campanha pelo rompimento de relações com Israel, o movimento nacional no México, é constante e permanente. É algo que tivemos muita dificuldade em comunicar, mas neste momento é totalmente direto.

Stefani Costa
E existe a possibilidade real do rompimento de relações entre México e Israel?
É muito difícil para o nosso governo fazer isso porque há interesses muito fortes de empresas sionistas no México. Elas têm um relacionamento direto com o nosso governo. É preciso dizer que a administração da Claudia fortaleceu muitos desses vínculos com essas empresas também.
Vamos continuar exigindo e vamos continuar pedindo, gritando em todos os espaços. Nesse ponto a presidenta tem recebido fortes críticas, porque fala de um conflito quando na verdade sabemos que é um genocídio literal. Ela não quis tratar dessa forma. Há grupos que defendem o governo neste aspecto, sob o argumento de que houve uma posição boa, mas que as declarações condenatórias infelizmente não são suficientes.
E nesse contexto, fazemos uma crítica muito forte à Claudia. Quando López Obrador rompeu relações por causa da invasão na embaixada do México no Equador, foi quase um apelo à guerra contra o que Daniel Noboa fez em nosso território. Agora não entendemos por que eles não fazem isso diante desse genocídio.
Obviamente, compreendemos que há uma pressão dos Estados Unidos. Porém, ainda assim, não concordamos, mesmo com o risco de sanções contra o nosso país. Romper relações seria um passo muito importante que deveríamos dar, como o Gustavo Petro fez na Colômbia e o Luis Arce na Bolívia.
Já que citou esses dois países, acredita haver mais chances de um fortalecimento regional neste atual governo do México?
Há muitas expectativas na América do Sul e na América Central com relação ao nosso governo. Pela primeira vez representado por uma mulher. Considero que pode sim haver um fortalecimento na unidade latino-americana, é um progresso nessas questões a partir do momento em que Claudia tem participado de diferentes cúpulas internacionais. A sua representação tem sido boa e nós reconhecemos isso.
De certa forma, isso é muito importante diante do que assistimos nos governos de direita ou ultradireita, como Milei na Argentina, Noboa no Equador e Nayib Bukele em El Salvador. Eles estão rompendo totalmente o tecido social, os avanços populares e as conquistas que foram feitas historicamente nesses países da nossa América Latina.
Outro exemplo são os retrocessos que estão acontecendo na Bolívia, um verdadeiro atentado contra todo esse processo dos povos originários e que tem a ver com essa situação em relação ao Lucho Arce e de como ele vem se posicionando, sem ouvir as vozes dos povos originários no Estado Plurinacional boliviano.
A presidenta Claudia pode desempenhar um papel muito relevante para realmente fortalecer a unidade latino-americana em um momento histórico, porque diante desses governos progressistas, que também têm um apoio popular muito importante e devem se unir para conseguirem consolidar assim uma unidade real.
Para conter também as intenções de Trump que, inclusive, mudou até o nome do Golfo do México.
Exatamente! É uma forma de conter o imperialismo estadunidense na frente de todos esses governos fantoches que, literalmente, estão dando nossos territórios para os Estados Unidos. Nós do Observatório estávamos em Cuba, na sétima Cúpula para o Equilíbrio do Mundo, quando soubemos da mudança do nome do Golfo do México.
Os cubanos nos disseram que o povo do México vai continuar chamando de Golfo do México porque ele é nosso e, independentemente da vontade de Trump, vai continuar sendo. Nossa presidenta também disse o mesmo. Isso também é um ataque contra a nossa soberania, contra nossa autodeterminação enquanto mexicanos. É aí que a ‘bota do imperialismo’ está sempre presente penetrando em nossos territórios.
O BRICS é uma oportunidade para fortalecer essa unidade anti-imperialista?
É uma oportunidade muito forte e muito poderosa para fortalecer esses espaços unitários em nossos países porque realmente há um diálogo sobre fazer contrapesos importantes na geopolítica contra o imperialismo estadunidense. É uma opção em todos os sentidos, politicamente, economicamente, socialmente e culturalmente.
Trata-se de um espaço muito amplo de unidade, onde realmente estão emergindo ideias importantes. Há países muito poderosos em diferentes áreas e pode haver um impacto realmente preponderante, já que estamos falando de atores que são e que fazem parte desse cenário geopolítico global, que colocam em xeque a hegemonia imperialista.
É preciso lembrar que hoje estamos diante de um império que está de fato em declínio, mas é por isso que ele é mais perigoso. Basta observar o que eles têm feito, permitindo, por exemplo, que Israel viole todos os direitos humanos. É um Estado que já rompeu todas as normas internacionais existentes e absolutamente nada acontece. Eles têm o apoio total dos Estados Unidos e de outras potências europeias e da OTAN.
Portanto, com todo esse maquinário, o genocídio palestino é um exemplo do que eles podem fazer em outros territórios do mundo, especialmente na nossa América Latina. O que eles estão fazendo na Palestina é como um laboratório de experimentação para que todo esse mesmo regime de apartheid e esse colonialismo possam ser exportados para outros territórios.
Por isso, é muito importante que espaços como o BRICS, de dentro para fora, façam esse contrapeso e sejam realmente alternativas viáveis para os povos. As pessoas e todos os governos devem levantar as vozes pela Palestina. Aqueles que não o fazem, tornam-se cúmplices desse genocídio. Nós já sabemos disso, mas infelizmente muitas pessoas comuns aqui no México não fazem ideia do que acontece em Gaza.
E a relação do México com a União Europeia, também está em declínio?
Há uma relação histórica com a União Europeia. Entretanto, vejo que no momento ou desde o nosso governo anterior estamos mais focados em espaços regionais. E há assim uma relação evidente. Porém, com os Estados Unidos é mais forte. Sempre foi uma relação permanente. O BRICS poderia ser uma alternativa verdadeira na qual o México participa mais ativamente, com um papel de liderança. Porque com a União Europeia, a atuação que o México pode ou poderia ter é muito limitada. Acho que atualmente essas relações estão presentes, mas não estão muito ativas.
Quais são as principais demandas que o Observatório quer levar para a COP 30?
Primeiramente esperamos muito que seja possível participar, pois os recursos econômicos dificultam a nossa presença in loco. Mas, seria incrível poder dialogar sobre a questão da defesa dos territórios dos povos nativos em nosso país, já que no México ainda há assassinatos de defensores do meio ambiente.
Nós também queremos levar a voz das Mães Buscadoras (Madres Buscadoras de Sonora), porque os desaparecimentos em nosso país têm sido constantes e terríveis. Essas coisas estão presentes desde os governos neoliberais.
Por fim, a COP 30 também poderá ser uma oportunidade para defender os nossos territórios contra ocupação, genocídios e guerras. Apelamos pelo direito de viver em paz e precisamos romper com toda essa política colonialista imposta. É necessário descolonizar o pensamento dos nossos povos e de todos os sujeitos e súditos do mundo para que possamos enfim contra-atacar e acima de tudo propiciar também alternativas reais, que partam do coração dos nossos povos.
E como fazer isso?
Não há nenhuma receita pronta. Não é o mesmo para o México, não é o mesmo para o Brasil, mas podemos dizer, com base nas experiências de resistência popular, que estão sendo desenvolvidas novas formas e pensamentos de vida a partir dos nossos próprios territórios. Pela paz, por uma verdadeira construção coletiva de um mundo em que tenhamos respeito pela mãe natureza e pelas nossas terras, por nossos recursos naturais, que eles sejam respeitados e que tudo isso, toda essa barbárie, acabe, porque tudo o que está acontecendo atualmente na Palestina também tem muito a ver com a penetração dessa cultura necrófila.
É uma cultura de morte, é uma cultura colonial imposta também através das suas empresas que geram tecnologias de morte. Para eles, as pessoas não são pessoas, são apenas alvos para matar e pronto. Estamos chegando a um ponto em que a própria tecnologia está sendo usada pelos interesses imperialistas para a morte. A inteligência artificial, nesse sentido, não tem utilidade para nós enquanto povo. Não aceitamos isso, não vamos nos calar e vamos seguir em frente.
Sabemos muito bem que tudo o que nos dão, toda a esperança que as crianças da Palestina e o povo de Gaza nos dão é algo tremendo. Essa é a força que nos convida todos os dias a continuar com o nosso ativismo sem parar um único dia que seja. Contra o imperialismo, contra o patriarcado, contra o racismo, continuemos avançando pela paz, com justiça, igualdade e liberdade.
