Liberalismo xenófobo contra social democracia moderada. Cerca de 46 milhões de franceses elegerão neste domingo (05/05), pela nona vez na história da Quinta República, seu próximo chefe de Estado tendo como pano de fundo a crise econômica e um candidato-presidente que jogou todas as suas forças na batalha virando o timão à direita de sua direita, sem hesitar em evocar os temas prediletos da extrema-direita da Frente Nacional e se colocar como uma vítima dos meios de comunicação. O socialista François Hollande prometeu uma mudança com justiça, enquanto que Nicolas Sarkozy, até o último momento, seguiu advertindo que se o socialismo vencer a França terá um destino similar ao da Espanha.
O presidente francês espera alguma “surpresa” na reta final para desmentir a constância das pesquisas de opinião que, no fechamento da campanha do segundo turno das eleições presidenciais deste 6 de maio, seguiam prognosticando a vitória de seu rival, o socialista François Hollande. Nos últimos três dias, Sarkozy diminuiu a distância de dez pontos que o separavam de Hollande para se situar a uma distância que oscila entre 4 e 6 pontos. O resultado final talvez seja um pouco mais incerto do que o previsto ao cabo de uma semana onde a violência verbal levou a campanha a um estranho ponto e de incandescência e a dar uma guinada inesperada: pela primeira vez na história, o candidato centrista François Bayrou disse que votaria pessoalmente por François Hollande.
Este dirigente político prestigiado que fez pouco mais de 9% dos votos no primeiro turno de 22 de abril sempre foi um aliado da direita. No entanto, Bayrou explicou sua eleição pelo fato de que o perfil de extrema-direita que Nicolas Sarkozy imprimiu na sua campanha entre o primeiro e o segundo turno lhe parecia incompatível com os valores republicanos. Entre a decisão de Bayrou de votar a favor de Hollande e as urnas há ainda cerca de 16% de indecisos. É difícil medir a influência desses dados na decisão final. Em suas últimas declarações, o aspirante socialista se apresentou como um “continuador” e um “renovador”. Sarkozy, por sua vez, reiterou seu credo de medo, atacando a imprensa, os sindicatos, os estrangeiros, a Europa e o centrista Bayrou que mudou de campo.
A torta populista que o presidente candidato repartiu em seus discursos através do país foi designada pelo jornal Le Monde como “a louca esperança de Nicolas Sarkozy”, ou seja, revalidar sua presidência contra o balanço desastroso de sua gestão e a adversidade das pesquisas. A dúvida permaneceu no ar às 24 horas de sábado após meses e meses durante os quais Hollande acumulou grandes distâncias nas pesquisas de opinião: onde será a festa neste domingo? Na Praça da Bastilha – a esquerda – ou na esplanada da Concorde – a direita. As amplas certezas de uma vitória socialista voaram como pássaros à leitura das últimas pesquisas de opinião.
Quatro pontos, mais os indecisos, mais a margem de erro própria das pesquisas, as pesquisas não garantem a vitória da esquerda tantas vezes apontada na loteria das sondagens.
Ao longo destes duros meses de campanha eleitoral, duas palavras servem para retratar os candidatos: as fronteiras para Sarkozy; o normal para Hollande. Graças a uma hábil recuperação de uma ideia muito arraigada na extrema direita, o presidente candidato fez do conceito de fronteira o seu motor político: “sem fronteiras não há Estado, não há República, não há civilização”. François Hollande, em troca, buscou encarnar o anti-Sarkozy: tranquilo, pacífico, consensual, o candidato socialista repetiu à exaustão que era um “candidato” normal e que assumiria uma presidência “normal”. Diante de um presidente herói de sua própria história e de sua própria presidência, Hollande se apresentou como o anti-herói e a normalidade como argumento contra o excessivo.
Sarkozy disse sexta à noite que a eleição seria definida no “fio da navalha’. As últimas pesquisas parecem lhe dar razão. A mudança, se houver mudança, será mais árdua. A direita, no entanto, saiu golpeada. Sarkozy teve que enfrentar um motim no seu próprio campo, recebendo uma onda de críticas contra a direitização de suas propostas eleitorais e, quase na linha final da campanha, viu o apoio do centro-direitista Bayrou migrar para Hollande. No entanto, o efeito conjugado desses terremotos não pareceu debilitar o candidato conservador, pelo contrário. Os socialistas explicam a aproximação das curvas nos últimos dias por um fenômeno natural de “reequilíbrio” entre a esquerda e a direita que se configura nos momentos finais do segundo turno.
De fato, a vitória de um ou outro campo depende da opção dos eleitores da extrema direita e da opção dos eleitores de centro: 45% dos eleitores da extrema-direita devem votar em Sarkozy, e entre 15% e 22% em Hollande. Os eleitores de centro estão mais divididos: 38% optariam por Sarkozy, 30% por Hollande e o resto se absteria de votar. No entanto, estas projeções não levam em conta o apoio que François Bayrou deu a Hollande, um gesto inédito nas fileiras da direita. Nicolas Sarkozy convocou seus eleitores a um “sobressalto” para forçar o destino das urnas. François Hollande fez um chamado à “união”.
Nada distingue mais os dois candidatos do que as palavras empregadas nas horas finais da campanha eleitoral: a união contra o sobressalto. A França escolherá entre um liberalismo com uma agenda cheia de ajustes e que aponta para o desmonte do Estado de bem-estar, e uma plataforma social-democrata com um claro rumo na direção da justiça e um objetivo que ultrapassa as fronteiras da França: transformar o perfil ultra-liberal da União Europeia com a introdução de uma variável de crescimento acima da ditadura dos ajustes e do arrocho a qualquer preço.
*Artigo publicado originalmente na Carta Maior
Tradução de Marco Aurélio Weissheimer
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