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A relação com a China é benéfica economicamente para o Brasil?
NÃO
Escavar coisas da terra e vendê-las no exterior não faz da China uma economia inteligente: apenas traz uma prosperidade falsa. Calcular o material no chão como riqueza é um jeito muito traiçoeiro. Assim se repete a falácia fisiocrática que leva à falácia mercantilista.
A falácia fisiocrática diz que a riqueza consiste em natureza. Esta teoria postula que a fonte da riqueza são bens da terra, os bens que crescem na terra e os bens dentro da terra. No entanto, esta tese ignora que é apenas pelo trabalho humano e pela tecnologia que os recursos tornam-se mercadorias. O ferro ou o petróleo e até batatas são de pouca ou de nenhuma utilidade quando não processados e refinados. Enquanto o produto primário permanece quase sempre o mesmo, o progresso tecnológico acontece com a sua extração e refinação, seja a tecnologia offshore ou genética. São estas as áreas de criação de riqueza. Ou seja, quanto mais próximo um produto está do consumidor, maior seu valor, e vice versa.
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Esta primeira falácia leva, imediatamente, à falácia mercantilista que diz que é dinheiro na forma de divisas, originalmente ouro e prata, que representam a riqueza. No entanto, deve ser bastante óbvio que o dinheiro por si não serve para nada sem uma economia que funciona.
Xinhua
Congresso que aprovou medidas de reformas econômicas e socias chinesas, em novembro do último ano
Imaginem Robinson Crusoé em uma ilha com abundância de petróleo no solo, ouro nos rios e peixes no mar. Ele é extremamente pobre porque faltam as tecnológicas e o capital de transformar os recursos naturais em bens. Sem capital (maquinas, instrumentos), o trabalho de Robinson rende baixa produtividade e todo seus conhecimentos tem pouco valor sem capital físico.
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A cadeia de valor começa com o consumidor e não com o produto cru. Assim, petróleo no solo recebe um preço porque os consumidores querem ter bens para cuja produção o petróleo é necessário. Enquanto a cadeia da produção começa com o produto básico e finaliza com o consumidor, a cadeia de valorização começa com os bens de consumo, vai para os bens de investimento e assim finalmente pelos recursos naturais.
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Riqueza de recursos também leva a consequências sociais e políticas prejudiciais. Extração de recursos é tipicamente um negócio de grandes empresas e, portanto, favorece monopólios. A agricultura em grande escala tem efeitos semelhantes. Daqui surge a tendência para alta desigualdade de renda e patrimônio.
Provavelmente o pior efeito da riqueza de recursos naturais mostra-se na vida política. A extração e o transporte desses recursos acontece com a presença maciça do estado. Como os recursos naturais tipicamente são “staple goods”, os negócios geralmente envolvem grandes quantidades e, portanto, representam uma mina de ouro para quem recebe comissões, subornos e outras formas de corrupção.
Assim a economia de recursos naturais se torna altamente atrativo para políticos e burocratas participarem. Empresas estatais de recursos naturais representam o maior instrumento no jogo político de distribuição de posições profissionais de alto rendimento. Na chefia dessas grandes empresas, que estão nas mãos do governo, se encontra uma acumulação de incompetência.
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Um país rico em recursos também tente a sofrer com uma má política econômica. Além da corrupção e ineficiência, a riqueza natural afeta também a política macroeconômica. A riqueza da terra promove uma atitude mental que tende a agir com descuido, com irresponsabilidade e desperdício com a falsa crença de que porque “somos ricos” podemos pagar por tudo facilmente.
Economias baseadas em recursos naturais sofrem da síndrome de voo de galinha. Confundem um boom temporário pela decolagem, e uma expansão temporária pelo crescimento e desenvolvimento econômico.
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Estes fatores tiveram um papel quando o Brasil declarou-se pronto para sediar a Copa e as Olimpíadas. Naquele tempo o crescimento econômico foi alto devido a um boom na demanda pelos produtos primários. Agora, em 2014, as coisas são bem diferentes. A galinha caiou no chão.
Antony P. Mueller é Fundador do Continental Economics Institute, acadêmico adjunto do Mises Institute, diretor acadêmico do Instituto Ludwig von Mises Brasil e professor da UFS
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