A revista satírica El Jueves (A quinta-feira), editada desde 1977 e uma referência de humor político espanhol, costuma circular toda quarta-feira (fazendo jus à sátira que se propõe), mas esta semana acabou circulando na própria quinta-feira. A razão? Censura.
Cerca de 60 mil exemplares da revista estavam prontos para serem distribuídos pelas bancas da Espanha quando foram impedidos de circular e posteriormente destruídos por ordem da editora, a RBA. A informação oficial veiculada era a de que não havia nada de errado e que a capa que chegou às bancas, com o líder do partido de esquerda PODEMOS, Enrique Iglesias, era a capa original. A história contada por fontes diversas dentro do próprio El Jueves, porém, é a de que houve censura.
Na segunda-feira, após o anúncio feito por Mariano Rajoy de que o rei abdicaria, a diretora da revista, Mayte Quílez, teria convocado diversos desenhistas para alterar a capa e várias páginas para incluir a abdicação. No mesmo dia o material estava pronto para ser impresso, porém um responsável da RBA teria ido à redação e comunicado que a capa não seria impressa.
Agência Efe
Rei Juan Carlos em evento com um toureiro na última quarta-feira, dois dias depois do anúncio da abdicação
Na capa censurada figurava o Rei Juan Carlos, que acabara de abdicar, colocando sobre a cabeça de um exitante Felipe, seu filho e futuro rei Felipe VI, uma coroa suja de excrementos e rodeada de moscas.
Acredita-se que a censura tenha vindo por pressão da Zarzuela, a sede da monarquia espanhola. Em outras palavras, a RBA, editora que produz o El Jueves, teria sido forçada a censurar uma capa incômoda para a monarquia em um momento de tensão, com centenas de protestos pela república tomando a Espanha e acontecendo em diversas cidades por todo o mundo, após a abdicação do rei em um momento de grande impopularidade da monarquia. Outras fontes, porém, apontam para a amizade entre o dono da RBA, que comprou a revista El Jueves há 7 anos, com o rei e que tudo não passou de uma troca de favores.
Imediatamente a capa censurada começou a circular pelas redes sociais e colaboradores da revista começaram a se demitir em protesto.
Alberto Monteys, ex-diretor da revista, anunciou pelo Twitter sua demissão. Ele foi logo seguido pelo autor da capa censurada, Manel Fontdevila. Bernardo Vergara, ilustrador, e Isaac Rosa, escritor, também postaram no Twitter que deixavam a revista. Paco Alcázar, ilustrador há 9 anos na El Jueves colocou em seu blog que se junta aos companheiros que se demitiram e, em tom de humor, escreveu: “agora quero falar para vocês do MacDonald's. Creio que é uma empresa com grande potencial e estupendo capital humano e que estou a ponto de me unir e…”.
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E mais demissões são esperadas ao longo da semana.
Pelas redes sociais diversos leitores anunciaram seu apoio aos que se demitiram, garantindo que iriam boicotar a El Jueves e exigindo que a situação seja esclarecida e que a fonte da censura, apontada. Enquanto isso, apostam no chamado Efeito Streisand, ou seja, na capacidade do boca a boca e da divulgação da imagem censurada de fazer estragos.
Este não é, porém, o primeiro caso de censura contra a revista satírica. Em 2007 o juiz Juan del Olmo, da Audiência Nacional, ordenou o sequestro de um número da revista que tinha na capa o Príncipe de Astúrias (o futuro rei Felipe VI) mantendo relações sexuais com Letizia, sua esposa e futura Rainha da Espanha. A edição acabou escapando da censura pela decisão judicial ter chegado após sua distribuição.