A nova ofensiva israelense à Faixa de Gaza, que já deixou mais de 80 mortos do lado palestino, tem dois nomes, com propósitos diferentes. Em hebraico, se chama “Tzuk Eitan”, que em tradução livre para o português significa “Penhasco Sólido”, ou “Rochedo Firme”. Em inglês, os porta-vozes israelenses divulgaram para o resto do mundo que a recente operação tem o nome de “Protective Edge”, ou “Margem Protetora”.
Efe
Palestina e seu filho observam movimentação após bombardeios israelenses à cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza
Vale notar os significados diferentes dados pelos porta-vozes oficiais do país, para consumo interno e externo. Em Israel, prevalece um significado que irradia força diante de uma ameaça abismal, já que um penhasco geralmente se depara com um abismo. Para o exterior, a imagem transmitida é mais amena e menos agressiva: de proteção e defesa.
Essa nova e grave escalada da violência entre israelenses e palestinos teve início com a morte de quatro adolescentes: três israelenses, que foram assassinados a tiros na Cisjordânia, e um palestino, assassinado em Jerusalém, após ser queimado vivo.
Os israelenses foram sequestrados perto do assentamento de Gush Etzion, supostamente por dissidentes do grupo palestino Hamas, cuja cúpula central não assumiu a autoria do atentado. Já o adolescente palestino foi sequestrado no bairro onde morava, em Jerusalém Oriental. Seu corpo foi encontrado carbonizado 50 minutos depois.
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Os suspeitos, que já foram capturados pelas autoridades israelenses, são seis jovens pertencentes à comunidade ultraortodoxa sefardita. De acordo com a informação, já divulgada pela policia israelense, os jovens confessaram terem assassinado o palestino com o objetivo de vingar a morte dos sequestrados israelenses.
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Logo após a descoberta dos corpos dos três jovens, Israel iniciou uma ofensiva contra o Hamas, tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza, atribuindo ao grupo a autoria do crime. Na Cisjordânia foram presos centenas de membros da organização islamista, que recentemente firmou um acordo de união nacional com o partido governista da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Fatah. Contra a Faixa de Gaza, Israel lançou bombardeios aéreos, os quais rapidamente foram revidados com foguetes contra as cidades israelenses.
Efe
Israelenses observam danos provocados pelo lançamento de um foguete palestino contra um carro, no centro de Tel Aviv
Israel já convocou 40 mil reservistas e está se preparando para uma invasão terrestre à Faixa de Gaza, com o objetivo de “acabar de uma vez por todas com a infraestrutura militar do Hamas”, como disse o porta-voz do premiê israelense Benjamin Netanyahu, Mark Regev.
Seja penhasco solido ou margem protetora, já se sabe de antemão que a nova operação militar não vai “resolver o problema”, mas sim agravá-lo. Trata-se de mais um capítulo sangrento na longa Marcha de Insensatez da ocupação israelense, que em junho completou 47 anos.
(*) Guila Flint cobre o Oriente Médio para a imprensa brasileira há 20 anos e é autora do livro 'Miragem de Paz', da editora Civilização Brasileira.