Com muito pouco você
apoia a mídia independente
Opera Mundi
Opera Mundi APOIE
  • Política e Economia
  • Diplomacia
  • Análise
  • Opinião
  • Coronavírus
  • Vídeos
  • Podcasts
Opinião

Noam Chomsky: Se EUA conseguirem destruir EI, terão que lidar com algo ainda mais extremista

Encaminhar Enviar por e-mail

Invasão do Iraque está na origem de grupos como o Estado Islâmico; EI ficará ainda mais violento à medida que o conflito se desenvolva, diz o filósofo

David Barsamian

2015-03-15T15:54:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

Os Estados Unidos são responsáveis pelo surgimento do EI (Estado Islâmico). Longe de ser uma teoria da conspiração, o linguista, filósofo e ativista político norte-americano Noam Chomsky defende, em entrevista ao jornalista David Barsamian, do site informativo Jacobin, que a invasão do Iraque em 2003 provocou as divisões sectárias que provocaram a desestabilização da sociedade iraquiana.

Assim, o resultado foi um clima onde os radicais apoiados pelos sauditas prosperaram. Ele alerta ainda que o grupo ficará ainda mais extremista à medida que o conflito se desenvolva e que os grupos que ganharão predominância serão os mais brutais e mais duros: “se conseguirem destruir o EI, terão de lidar com algo mais extremista”, afirma.

Agência Efe

Ataque do Exército iraquiano em 
Faluya para combater grupo Estado Islâmico

David Barsamian: O Oriente Médio está em chamas, da Líbia ao Iraque. Há novos grupos jihadistas. As atenções focam-se no Estado Islâmico. Que pensa deste grupo e das suas origens?

Noam Chomsky: Há uma entrevista interessante a Graham Fuller, publicada há dias. Trata-se de um ex-agente da CIA, um dos principais analistas do Médio Oriente. O título é “Os Estados Unidos criaram o Estado Islâmico”. Esta é uma das teorias da conspiração, das milhares que há no Médio Oriente.

Mas esta vem de outra fonte: do coração do establishment dos EUA. Fuller apressa-se a esclarecer que não quer dizer que os EUA decidiram dar existência ao EI e depois financiá-lo. O que ele sustenta – e eu acho uma opinião correta – é que os EUA criaram o ambiente do qual nasceu e se desenvolveu o EI. Em parte, a abordagem foi o padrão martelada: esmaga-se aquilo de que não se gosta.

Leia mais: Wikileaks: EUA armaram Estado Islâmico e se recusaram a ajudar Síria no combate ao grupo

Em 2003, o Reino Unido e os EUA invadiram o Iraque, um grande crime. Ainda esta noite, o Parlamento britânico concedeu ao governo a autoridade para bombardear o Iraque de novo. A invasão foi devastadora. O Iraque já tinha sido virtualmente destruído, em primeiro lugar pela guerra de dez anos contra o Irã, na qual, diga-se de passagem, o Iraque foi apoiado pelos EUA; e logo em seguida, pela década de sanções econômicas.

Estas foram descritas como “genocidas” pelos respeitados diplomatas internacionais que as administraram, e ambos se demitiram em protesto. As sanções devastaram a sociedade civil, reforçaram o ditador, forçando a população a depender dele para sobreviver. Esse é provavelmente o motivo de não ter seguido o mesmo caminho de todo um grupo de ditadores que foram derrubados.

Leia mais: Estado Islâmico destrói estátuas milenares da civilização assíria no Iraque; veja vídeo

Finalmente, os EUA decidiram atacar o país em 2003. O ataque é comparado por muitos iraquianos à invasão mongol ocorrida mil anos antes. Terrivelmente destrutiva. Centenas de milhares de pessoas mortas, milhões de refugiados, milhões de outras pessoas deslocadas, destruição de riquezas arqueológicas do país dos tempos da Suméria.

Um dos efeitos da invasão foi imediatamente instituir divisões sectárias. Parte do fulgor da força de invasão e do seu diretor civil, Paul Bremer, foi separar as seitas, sunitas, xiitas, curdos e provocar os conflitos entre elas. Num par de anos, havia um enorme, brutal conflito sectário incitado pela invasão.

Agência Efe

Armados pelos EUA, militantes do Estado Islâmico conseguiram lutar em cinco frente concomitantemente

Para comprovar isto basta olhar para Bagdá. Se virmos um mapa de, digamos, 2002, trata-se de uma cidade misturada: sunitas e xiitas vivem nos mesmos bairros, por vezes nem se sabe quem é sunita ou xiita. É como saber se os seus amigos são de um grupo protestante ou de outro. Havia diferenças, mas não hostilidade.

De fato, durante alguns anos ambos os lados diziam: nunca haverá conflitos sunitas-xiitas. Estamos demasiado misturados na natureza das nossas vidas. Mas em 2006 já havia uma guerra enraivecida. Esse conflito espalhou-se a toda a região. Hoje, toda ela está dividida pelos conflitos sunitas-xiitas.

A dinâmica natural de um conflito como esse é que os elementos mais extremistas começam a ser predominantes. Tinham raízes. As raízes vêm do maior aliado dos EUA, a Arábia Saudita, que tem sido o principal aliado dos EUA na região desde que Washington se envolveu seriamente, de facto desde a fundação do estado saudita. É uma espécie de ditadura familiar. O motivo é ter uma quantidade enorme de petróleo.

O Reino Unido, antes dos EUA, preferia habitualmente o islamismo radical ao nacionalismo laico. E quando os EUA assumiram o seu papel, na essência seguiram o mesmo padrão. O islamismo radical tem o centro na Arábia Saudita. É o mais extremista, radical estado islâmico do mundo. Faz o Irã parecer um país tolerante e moderno por comparação e, evidentemente, as partes laicas do Médio Oriente árabe ainda mais.

Não só é orientado por uma versão extremista do Islão, a versão salafista wahabista, como também é um estado missionário. Usa os seus enormes recursos do petróleo para promulgar estas doutrinas por toda a região. Cria escolas, mesquitas, clérigos por toda a parte, do Paquistão ao Norte de África.

A doutrina abraçada pelo Estado Islâmico é uma versão extremista do extremismo saudita. Cresceu ideologicamente da mais extremista forma do Islã, a versão saudita, e os conflitos que foram engendrados pelo martelo dos EUA que esmagou o Iraque espalharam-se agora para todo o lado. É o que Fuller quer dizer.

A Arábia Saudita não só fornece o núcleo ideológico que levou ao extremismo radical do EI, como também o financia. Não o governo saudita, mas os ricos sauditas e kuwaitianos e outros dão fundos e apoio ideológico a estes grupos jihadistas que florescem por todo o lado. O ataque à região levado a cabo por britânicos e os EUA é a fonte onde tudo isto tem origem. Foi o que Fuller quis dizer ao afirmar que os EUA criaram o EI.

Divulgação/ Dailymail

Decapitações tornaram-se prática comum adotada pelos jihadistas

Pode-se ter a certeza de que à medida que o conflito se desenvolva, eles vão ficar mais extremistas. Os mais brutais, mais duros grupos vão ganhar predominância. É o que acontece quando a violência se torna no meio de interação. É quase automático. Isto é assim tanto nos bairros quanto nos assuntos internacionais. As dinâmicas são perfeitamente evidentes. É o que está a acontecer. É de onde vem o EI. Se conseguirem destruir o EI, terão de lidar com algo mais extremista.

E os meios de comunicação são obedientes. No discurso de 10 de setembro, Obama citou dois países como histórias de sucesso da estratégia de contra-insurgência dos EUA. Que países são esses? Somália e Iêmen. Toda a gente devia estar de queixo caído, mas no dia seguinte o silêncio era total, não havia comentários sobre isto.

O caso da Somália é particularmente horrendo. O Iêmen é mau demais. A Somália é um país extremamente pobre. Não vou falar da história toda. Mas um dos grandes sucessos da política de contra terror da administração Bush foi que conseguiram fechar uma instituição de caridade, a Barakat, que abastecia o terrorismo na Somália. Grande excitação na imprensa. Grande triunfo.

Uns meses depois, os fatos começaram a ganhar a luz do dia. A instituição de caridade não tinha absolutamente nada a ver com o terrorismo na Somália. Tinha a ver sim com a banca, o comércio, os hospitais. Mantinha de certa forma viva a economia somali, profundamente empobrecida e abalada. Ao fechar a instituição, a administração Bush acabou com isto. Foi a contribuição para a contra-insurgência. Foram-lhe dedicadas umas poucas linhas, que podem ser lidas em livros sobre finanças internacionais. É o que foi feito à Somália.

Houve um momento em que os chamados Tribunais Islâmicos, uma organização islâmica, tinha conseguido uma espécie de paz na Somália. Não era um regime bonito, mas pelo menos era pacífico e o povo estava mais ou menos a aceitá-lo. Os EUA não o toleraram, e apoiaram uma invasão etíope para destruí-lo e fazer toda a região numa enorme confusão. Grande sucesso.

O Iêmen tem também a sua história de terror.

Esta é a tradução de uma parte da entrevista publicada no site informativo Jacobin.

Traduzido por Luis Leiria para o Esquerda.net

Você que chegou até aqui e que acredita em uma mídia autônoma e comprometida com a verdade: precisamos da sua contribuição. A informação deve ser livre e acessível para todos, mas produzi-la com qualidade tem um custo, que é bancado essencialmente por nossos assinantes solidários. Escolha a melhor forma de você contribuir com nosso projeto jornalístico, que olha ao mundo a partir da América Latina e do Brasil.

Contra as fake news, o jornalismo de qualidade é a melhor vacina!

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Política e Economia

Alemanha reduz imposto sobre o gás em meio a alta dos preços

Encaminhar Enviar por e-mail

Scholz afirma que imposto sobre valor agregado cairá temporariamente de 19% para 7% a fim de 'desafogar consumidores'. Governo alemão estava sob pressão após anunciar uma sobretaxa ao consumo de gás durante o inverno

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-18T22:00:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou nesta quinta-feira (18/08) que o governo vai reduzir temporariamente o imposto sobre valor agregado (IVA) do gás, de 19% para 7%, a fim de "desafogar os consumidores" em meio a alta dos preços.

Em coletiva de imprensa, o líder alemão disse esperar que as empresas de energia repassem a economia possibilitada pela medida de maneira proporcional aos consumidores, que usam o gás, por exemplo, para aquecer suas casas em meses mais frios.

A medida deve entrar em vigor em outubro e durar ao menos até o fim do ano que vem. A ideia é diminuir o peso de uma sobretaxa ao uso de gás anunciada pelo governo alemão no início desta semana.

Essa sobretaxa, que também entrará em vigor em outubro para residências e empresas alemãs, foi fixada em 2,4 centavos de euros por quilowatt-hora de gás utilizado durante o inverno europeu.

O anúncio levou a indústria e políticos da oposição a pressionarem o governo alemão a tomar alguma medida para suavizar o aumento dos preços.

"Com essa iniciativa, vamos desafogar os consumidores num nível muito maior do que o fardo que a sobretaxa vai criar", afirmou Scholz.

Inicialmente, o governo alemão havia dito que esperava amenizar o golpe da sobretaxa ao gás tornando somente ela isenta do IVA. Mas, para isso, Berlim precisaria do aval da União Europeia (UE), que não aprovou a ideia.

Por outro lado, o que o governo de Scholz poderia fazer sem precisar consultar Bruxelas é alterar a taxa do IVA sobre o gás em geral. E foi o que ele fez.

O gás é o meio mais popular de aquecimento de residências na Alemanha, sendo usado em quase metade dos domicílios do país.

Alemanha corre para encher reservatórios

Além de planos para diminuir o uso de energia, a Alemanha também segue tentando encher suas reservas de gás natural liquefeito antes do início do inverno.

O vice-chanceler federal e ministro da Economia e da Proteção Climática, Robert Habeck, anunciou recentemente um plano para preencher os reservatórios com 95% da capacidade até 1º de novembro.

No momento do anúncio, as reservas estavam em 65% do total e, no fim de semana passado, chegaram a 75%, duas semanas antes do previsto.

Julian Stratenschulte/dpa/picture alliance
Redução no imposto sobre o gás ocorreu após pressão da indústria e de políticos da oposição

Ainda assim, o chefe da agência federal alemã responsável por diferentes redes, como redes de trens e de gás, disse nesta quinta-feira que tem dúvidas sobre o alcance da meta.

"Não acredito que vamos atingir nossas próximas metas de reserva tão rapidamente quanto as primeiras. Em todas as projeções ficamos abaixo de uma média de 95% até 1º de novembro. A chance de isso acontecer é baixa porque alguns locais de armazenamento começaram num nível muito baixo", disse Klaus Müller ao site de notícias t-online.

Ele também alertou que os consumidores provavelmente terão que se acostumar com as pressões no mercado de gás de médio ou longo prazo.

"Não se trata de apenas um inverno, mas de pelo menos dois. E o segundo inverno [a partir do final de 2023] pode ser ainda mais difícil. Temos que economizar muito gás por pelo menos mais um ano. Para ser bem direto: serão pelo menos dois invernos de muito estresse", afirmou Müller.

Plano de contingência

Em 26 de julho, a União Europeia aprovou um plano de redução do consumo de gás, com o objetivo de armazenar o combustível para ser usado durante o inverno e diminuir a dependência da Rússia no setor energético. O plano de contingência entrou em vigor no início de agosto.

Na Alemanha, o governo segue analisando maneiras de limitar o consumo de energia, antevendo a situação para o próximo inverno.

Prédios públicos, com exceção de hospitais, por exemplo, serão aquecidos somente a 19 ºC durante os meses frios. Além disso, diversas cidades na Alemanha passaram a reduzir a iluminação noturna de monumentos históricos e prédios públicos.

Em Berlim, cerca de 200 edifícios e marcos históricos, incluindo o prédio da prefeitura, a Ópera Estatal, a Coluna da Vitória e o Palácio de Charlottenburg, começaram a passar por um processo de desligamento gradual de seus holofotes no final de julho, em um processo que levaria quatro semanas.

Hannover, no norte do país, também anunciou seu plano para reduzir o consumo de energia em 15% e se tornou a primeira grande cidade europeia a desligar a água quente em prédios públicos, o que inclui oferecer apenas chuveiros frios em piscinas e centros esportivos.

Você que chegou até aqui e que acredita em uma mídia autônoma e comprometida com a verdade: precisamos da sua contribuição. A informação deve ser livre e acessível para todos, mas produzi-la com qualidade tem um custo, que é bancado essencialmente por nossos assinantes solidários. Escolha a melhor forma de você contribuir com nosso projeto jornalístico, que olha ao mundo a partir da América Latina e do Brasil.

Contra as fake news, o jornalismo de qualidade é a melhor vacina!

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!
Opera Mundi

Endereço: Avenida Paulista, nº 1842, TORRE NORTE CONJ 155 – 15º andar São Paulo - SP
CNPJ: 07.041.081.0001-17
Telefone: (11) 4118-6591

  • Contato
  • Política e Economia
  • Diplomacia
  • Análise
  • Opinião
  • Coronavírus
  • Vídeos
  • Expediente
  • Política de privacidade
Siga-nos
  • YouTube
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Google News
  • RSS
Blogs
  • Breno Altman
  • Agora
  • Bidê
  • Blog do Piva
  • Quebrando Muros
Receba nossas publicações
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

© 2018 ArpaDesign | Todos os direitos reservados