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Opinião

Refugiados e o temor do Golfo Pérsico: porque países da região se omitem na crise

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Questões internas causadas, direta e indiretamente, por refugiados nas últimas décadas poderiam explicar a atual postura dos países do Golfo

Filipe Figueiredo

2015-09-16T20:23:00.000Z

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Compreender o Oriente Médio não é tarefa fácil, em especial quando se desconsidera sua história recente. Crítica recorrente em relação ao deslocamento de refugiados é o fato de que os países economicamente ricos do Oriente Médio não se esforçam para receber essas pessoas, em sua maioria sírios. Humanitariamente, virar as costas para refugiados é uma atitude condenável, especialmente quando se tratam de nações que possuem recursos disponíveis; recentemente, as nações do Golfo Pérsico anunciaram contribuições de bilhões de dólares para refugiados. Para uma crítica sustentada e construtiva, entretanto, deve-se primeiro contextualizar os motivos e os interesses dessa omissão dos países da região. Resgatar a memória dos refugiados palestinos na região após 1948, seus episódios de instabilidade relacionados e também decorrentes, ajuda na compreensão da atualidade.

Após a partilha da região da Palestina e a formação do Estado de Israel, cerca de 700 mil palestinos fugiram ou foram expulsos de suas antigas casas, seja por estar em território agora cedido a Israel, seja em decorrência do conflito subsequente. O número bruto pode não soar grande, mas se deve lembrar de que isso equivale a cerca de 80% da população da região. Nos primeiros anos seguintes ao conflito, cerca de outros 40 mil palestinos foram deslocados e, após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel ocupou a Cisjordânia, mais 300 mil palestinos viraram refugiados. Ironia trágica, muitos dos refugiados de 1967 foram deslocados originalmente em 1948.

A maioria dos refugiados palestinos no período deslocou-se para o vizinho Reino da Jordânia, um povo etnicamente também palestino e, em sua maioria, também sunita. Inclusive, boa parte dos palestinos que residia na Cisjordânia já possuía nacionalidade jordaniana, pois a região foi anexada pela Jordânia até a ofensiva israelense de 1967. Nos anos seguintes, tensões internas ao país cresceram. Os palestinos eram maioria populacional em um país estrangeiro, em que a agora minoria jordaniana tinha total representação e controle do governo. Com crescentes tensões tanto com Israel quanto com o governo do rei Hussein, a Organização para a Libertação da Palestina radicalizou ainda mais, tornando-se um “Estado dentro do Estado”, com milícias armadas e administrações de campos palestinos. 

Agência Efe

Com a fronteira para a Hungria fechada, refugiados tentam chegar na Alemanha pela Croácia


O ápice da disputa ocorreu em setembro de 1970, conhecido como Setembro Negro, e durou até julho de 1971. Uma guerra interna pelo controle e hegemonia dentro da Jordânia, disputada entre a OLP de Yasser Arafat e as forças armadas do rei Hussein. O episódio batizou a organização que executou onze membros da delegação israelense na Olimpíada de Munique de 1972. Após a derrota da OLP e milhares de mortos, a organização e seus militantes foram banidos para o Líbano. Grupos armados palestinos já operavam contra Israel no sul do Líbano, com “vistas grossas” do governo libanês, após articulação do líder egípcio e mentor do nacionalismo pan-árabe Gamal Abdel Nasser.

O próprio Nasser teve problemas internos com deslocamento de palestinos, já que, após o armistício entre Egito e Israel, a Faixa de Gaza foi formada e colocada sob autoridade egípcia. A situação permaneceria até a citada Guerra dos Seis Dias, quando Gaza foi ocupada por Israel. No período, a Faixa de Gaza era, nominalmente, administrada pelos palestinos dentro do Egito; na prática, o governo egípcio ocupou e anexou o território. Os palestinos de Gaza não receberam nacionalidade egípcia, ao contrário dos palestinos da Cisjordânia com a Jordânia. O trânsito foi restrito pelo governo egípcio, causando crises de abastecimento e protestos.

As crises internas causadas pelo deslocamento de refugiados palestinos não acabam com os casos citados. O Líbano, historicamente, é um país multirreligioso e seu país tinha um governo com representação divida pela proporção religiosa. Com a chegada de refugiados palestinos ao país ainda na década de 1940, essa proporção foi afetada. Após 1967, a demografia do país ficou ainda mais desproporcional; o banimento da OLP para o Líbano foi o estopim que transformou a tensão interna em guerra civil em 1975. Novamente a OLP criou um “Estado dentro do Estado”, afetando não somente a delicada demografia libanesa, mas também sua política. A disputa de poder interna, com choques sectários entre palestinos e cristãos maronitas, e o uso do Líbano como plataforma de lançamento de ataques contra Israel colocam os palestinos como uma facção protagonista da guerra entre 1975 e 1982.

Após 1982, a OLP é expulsa para a Tunísia e, de 1982 até 1990, o conflito, além de sectário, teria protagonistas internacionais, Israel e Síria; essa, é claro, é uma perspectiva resumida, já que a complexidade da guerra no Líbano é grande e escapa ao texto. A participação da OLP no conflito foi central para a intervenção militar da ONU na guerra, uma força intencionalmente muçulmana em sua maioria, e o Acordo de Taif, em 1989, estabeleceu o Líbano como de maioria islâmica e de influência síria. Como exemplo mais recente da relação entre refugiados palestinos com instabilidade interna no Oriente Médio, pode-se citar a Guerra do Golfo, tema de texto recente em Opera Mundi.

Saddam Hussein, antigo líder do Iraque, apoiava a OLP e outros grupos palestinos, com suporte político, financeiro e bélico. Parte desse apoio era dirigido ao conflito, agora diplomático, com Israel. A invasão iraquiana do Kuwait recebeu declarações de apoio de Yasser Arafat, líder da OLP; a solução do conflito entre israelenses e palestinos foi, inclusive, usada como moeda de troca por Saddam em negociações. Em decorrência do conflito e dessa relação, cerca de 400 mil palestinos que viviam no Kuwait fugiram ou foram forçados para fora do país durante e após a guerra. A distensão acabaria apenas em 2004, após a morte de Arafat, quando Abbas, atual líder palestino, pediu desculpas pela postura da OLP durante a guerra.

Os problemas internos causados, direta e indiretamente, pelos refugiados palestinos nas últimas décadas poderiam, então, contribuir na explicação da atual postura dos países do Golfo, especialmente a Arábia Saudita. Centenas de milhares de refugiados sírios, em sua maioria alauítas, poderiam ser um fator de desestabilização em países sunitas e “ocidentalizados”. A justificativa geográfica às vezes utilizada não é razoável; argumenta-se que o deslocamento de refugiados sírios para os países do Golfo é impedida pela própria área dominada pelo autointitulado Estado Islâmico. Isso não é verdadeiro, já que, segundo o ACNUR (Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados), cerca de 600 mil sírios estão na Jordânia, país que possui fronteiras com a Arábia Saudita.

Se o histórico dos refugiados palestinos pode explicar parte da atitude dos países do Golfo Pérsico, está longe de justificar, pois os atuais refugiados sírios são decorrentes de uma guerra que conta com a influência desses países, especialmente a Arábia Saudita. A Síria possui maioria demográfica sunita, mas um governo alauíta, próximo aos xiitas. As ligações entre a monarquia saudita e a “oposição síria” sunita, o embrião do que posterirmanete seria o atual EI, são documentadas, como também visto em Opera Mundi. A guerra na Síria tem suas origens no constante crescimento geopolítico da sunita Arábia Saudita, fortalecendo seus aliados e disputando especialmente com o rival regional, o xiita Irã. A atual guerra no Iêmen e a tensão entre governo libanês e Hezbollah são outras facetas dessa disputa. Os países do Golfo e a Arábia Saudita, acima de temer crises internas causadas por refugiados sírios, são parcialmente responsáveis por esses mesmos refugiados e o preço, humanitário e em vidas, que está no centro das atenções do mundo. 

*Filipe Figueiredo é o redator do blog Xadrez Verbal

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Guerra na Ucrânia

Rússia diz que assumiu o controle total de Lugansk

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Ministério da Defesa da Rússia afirma que suas tropas tomaram a cidade estratégica de Lysychansk, assegurando o controle da região de Lugansk, no leste da Ucrânia

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-07-03T20:53:00.000Z

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A Rússia reivindicou neste domingo (03/07) o controle de toda a região de Lugansk, no leste da Ucrânia, após a conquista da cidade estratégica de Lysychansk, que foi palco de intensos combates.

Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, o titular da pasta, Serguei Shoigu, informou oficialmente "o comandante em chefe das Forças Armadas russas, Vladimir Putin, sobre a libertação da República Popular de Lugansk".

Mais tarde, o Estado-Maior da Ucrânia confirmou em um comunicado publicado no Facebook que as tropas ucranianas foram forçadas a se retirar de Lysychansk,

"Depois de intensos combates por Lysychansk, as Forças de Defesa da Ucrânia foram forçadas a se retirar de suas posições e linhas ocupadas", disse o comunicado.

"Continuamos a luta. Infelizmente, a vontade de aço e o patriotismo não são suficientes para o sucesso - são necessários recursos materiais e técnicos", disseram os militares.

Lysychansk era a última grande cidade sob controle ucraniano na região de Lugansk.

Na manhã deste domingo, o governador ucraniano da região de Lugansk, Serguei Gaidai, já havia sinalziado que as forças da Ucrânia estavam perdendo terreno em Lysychansk, uma cidade de 100.000 habitantes antes da guerra. "Os russos estão se entrincheirando em um distrito de Lysychansk, a cidade está em chamas", disse Gaidai no Telegram. "Eles estão atacando a cidade com táticas inexplicavelmente brutais", acrescentou.

A conquista de Lysychansk - se confirmada - pode permitir que as tropas russas avancem em direção a Sloviansk e Kramatorsk, mais a oeste, praticamente garantindo o controle da região, que já estava parcialmente nas mãos de separatistas pró-russos desde 2014.

Militärverwaltung der Region Luhansk/AP/dpa/picture alliance
Lysychansk está em ruínas após combates entre as forças russas e ucranianas

No sábado, um representante da "milícia popular de Lugansk" havia afirmado que os separatistas e as tropas russas haviam cercado completamente Lysychansk, algo que foi inicialmente negado pela Ucrânia

Explosões em cidade russa

Ainda neste domingo, a Rússia acusou Kiev de lançar mísseis na cidade de Belgorod, perto da fronteira entre os dois países.

"As defesas antiaéreas russas derrubaram três mísseis Totchka-U lançados por nacionalistas ucranianos contra Belgorod. Após a destruição dos mísseis ucranianos, os restos de um deles caíram sobre uma casa", informou o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov.

O governador da região, Viacheslav Gladkov, já havia anunciado anteriormente a morte de pelo menos três pessoas em explosões naquela cidade.

As acusações levantadas por Moscou foram divulgadas um dia depois de a Ucrânia denunciar o que chamou de "terror russo deliberado" em ataques na região da cidade ucraniana de Odessa.

Segundo autoridades militares e civis ucranianas, pelo menos 21 pessoas, incluindo um menino de 12 anos, foram mortas na sexta-feira por três mísseis russos que destruíram "um grande edifício" e "um complexo turístico" em Serhiivka, uma cidade na costa do Mar Negro, a cerca de 80 km de Odessa, no sul da Ucrânia.

"Isso é terror russo deliberado e não erros ou um ataque acidental com mísseis", denunciou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, na noite de sexta-feira, enquanto as autoridades locais asseguraram que "não havia qualquer alvo militar" no local dos ataques.

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