Com muito pouco você
apoia a mídia independente
Opera Mundi
Opera Mundi APOIE
  • Política e Economia
  • Coronavírus
  • Diplomacia
  • Cultura
  • Análise
  • Opinião
  • Podcasts
Opinião

Ativista brasileira deportada: Solidariedade à Palestina é questão de segurança para Israel

Encaminhar Enviar por e-mail

Doutoranda em Política Internacional, Moara Crivelente foi deportada por Israel quando se encaminhava à Palestina; ela conta neste artigo sua experiência

Moara Crivelente

2016-07-28T23:12:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

Mensagens pichadas nas paredes e nos estrados dos beliches declaram: “para cada membro do Movimento Internacional de Solidariedade deportado, mais dez virão”. Foi lendo essas frases escritas com pasta de dentes ou até com comida que as horas passaram no centro de detenção da Autoridade de População, Imigração e Fronteiras do Ministério do Interior israelense, para onde eu e tantos outros antes e depois de mim fomos levados para esperar a deportação. Após horas de interrogatório no aeroporto internacional de Ben Gurion, em Tel Aviv, fomos declarados banidos por 10 anos, por “questões de segurança” – sem mais explicações. Somos ameaças.

A política israelense de deportação de ativistas solidários à causa palestina pelo fim da ocupação não é novidade. Em 2003, por exemplo, oito membros do International Solidarity Movement (Movimento Internacional de Solidariedade), todos europeus e norte-americanos, foram deportados porque protestavam contra o confisco de terras palestinas para a construção do muro israelense próximo a Jenin, na Cisjordânia ocupada, ou porque removiam obstáculos nas estradas próximas a Nablus, colocando em evidência a dificuldade para a movimentação dos palestinos em suas próprias terras.

Arquivo pessoal

A jornalista e ativista brasileira Moara Crivelente em uma de suas visitas à Palestina

Em 2011, cerca de duas centenas de ativistas foram detidos e deportados ao chegarem no aeroporto. Uma notícia do diário israelense Haaretz de julho daquele ano comenta que um grupo de 25 pessoas “suspeitas de serem ativistas pró-palestinos” teriam suas entradas negadas. Além deles, outros 69 já haviam sido interrogados por aqueles dias e seus destinos eram a deportação. O Ministério do Transporte de Israel entregara também uma lista com os nomes de outras 342 pessoas que as companhias aéreas estrangeiras não deveriam sequer deixar embarcar.

A notícia no Haaretz conta que “Israel teve sucesso em impedir até o momento [9 de julho de 2011] a entrada de 200 passageiros que desejavam vir a Israel como parte da campanha Bem-Vindo à Palestina, que organizou um ‘vooaço’ ao Oriente Médio neste final de semana para visitas de solidariedade aos territórios palestinos.” E esta é apenas uma parte da tática israelense de perseguir qualquer manifestação de solidariedade aos palestinos. As campanhas acadêmicas e o movimento por Boicote, Desenvolvimento e Sanções têm sido os alvos mais visíveis. Também são perseguidas organizações israelenses de defesa dos direitos humanos e uma rede de soldados que decidiu comentar as arbitrariedades que o Exército comete na Palestina ocupada – Breaking the Silence.

Também há inúmeros casos de palestinos deportados por Israel desde o início da ocupação militar. De 1967 a 1992, de acordo com a organização israelense B’Tselem, Israel deportou 1.522 palestinos dos seus próprios territórios. Em 2002, haviam sido deportadas 32 pessoas da Cisjordânia para a Faixa de Gaza, por “decisões administrativas”, ou seja, sem que os deportados fossem acusados de algo ou tivessem suas defesas ouvidas.

Deportar a solidariedade como “razão de segurança”​

Em sete horas de espera no aeroporto, fui interrogada repetidamente. Logo na primeira vez uma dupla dos serviços de segurança se apresentou dizendo já estar decidido que eu seria deportada, a menos que – disse aquele que representava o papel do compreensivo – eu cooperasse.
 

“Cooperar” significava contar sobre cada canto da Palestina em que estive nas visitas anteriores e cada pessoa que conheci. Quase insistiram também que eu dissesse ter visto manifestantes palestinos atirarem pedras contra soldados nos protestos em que afirmaram saber que eu estive, porque tinham fotos tiradas pelos soldados. Pediram-me a senha do meu celular. Fui cordial e respondi o máximo de perguntas até então — inclusive contando que meu propósito era fazer um curso de Direito Internacional com a organização Al-Haq e que sou também doutoranda, com foco na questão — mas recusei a dar minha senha ou contatos. Aquilo era uma oportunidade para os “serviços de segurança” conseguirem nomes e “culpados” palestinos. Em 2015, Gary Spedding, um ativista britânico, passou por algo semelhante. As autoridades de segurança copiaram contatos e mensagens pessoais do seu telefone. Ele foi deportado, acusado de possivelmente vir a causar tumultos devido às suas mensagens nas redes sociais.

Tive mais algumas interações com agentes, que se dirigiam a mim à base de imperativos, levando-me de uma sala para outra, para o serviço de fronteiras, onde recolheram minhas digitais e tiraram uma foto, depois para o local onde revistaram meticulosamente minha mala e o meu corpo, e então para outra sala, onde esperei – só depois entendi, já que não me davam informações – pelo transporte até o centro de detenção. Veio como uma nova ordem: “entre no carro.” Estava sozinha com dois agentes; entrei no banco de trás de uma van com os vidros e o espaço do condutor tapados com placas de metal.

No centro de detenção, finalmente consegui informações sobre meu voo de volta, que sairia em nove horas. Lá conheci uma jovem australiana que esperava havia quatro dias e só partiria no quinto. Deram-nos uma ligação telefônica e comida, 10 minutos no pátio e uma porta trancada por fora. Esperamos. Num momento do dia, chegamos a ser nove pessoas naquele quarto feito cela, com cinco beliches. A maior parte era de mulheres da Ucrânia, Moldávia, Geórgia e do Uzbequistão que planejavam fazer turismo, mas cuja entrada foi negada.

A australiana era outra ameaça: ousara participar de um protesto, em uma visita anterior, em Bil’in, onde também estive. Lá, um comitê popular luta contra a ocupação israelense manifesta na vila por detenções, repressão e pelo muro que engolfou uma porção das terras agricultáveis – não sem resistência, em parte vitoriosa, pois o curso do muro teve de ser desviado. O próprio coordenador do comitê, Abdallah Abu Rahma, que já esteve preso antes, espera o julgamento por novas acusações.

Do centro de detenção, fui levada de carro diretamente até a porta do avião. Um agente me acompanhou para dentro da aeronave e entregou ao comissário de bordo meus documentos – que estiveram com eles todo esse tempo. Brasileiros não precisam de visto para entrar em Israel, nem israelenses precisam de visto para entrar no Brasil. Entretanto, uma conta das deportações dificilmente seria equilibrada entre os dois países. Muito menos por questões políticas. Em 2015, mais dois brasileiros de ascendência palestina foram barrados quando integravam um grupo de movimentos sociais em visita de solidariedade, vindos do Fórum Social Mundial na Tunísia. Também estão banidos.

Voltar é uma impossibilidade pelos próximos 10 anos — ou até que os palestinos possam finalmente exercer soberania sobre suas fronteiras, ou ainda que a Embaixada de Israel conceda uma “permissão especial”. Se a experiência resulta em um apelo, é pelo fim da ocupação israelense. Afinal, este é o alvo: a solidariedade ao povo palestino, que resiste, e a luta pela libertação da Palestina.

 

*Moara Crivelente é doutoranda em Política Internacional e Resolução de Conflitos, jornalista e membro do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz). Artigo publicado originalmente no site Resistência.

Só o seu apoio pode garantir uma imprensa independente, capaz de combater o reacionarismo político, cultural e econômico estimulado pela grande mídia. Quando construímos uma mídia alternativa forte, abrimos caminhos para um mundo mais igualitário e um país mais democrático. A partir de R$ 20 reais por mês, você pode nos ajudar a fazer mais e melhor o nosso trabalho em várias plataformas: site, redes sociais, vídeos, podcast. Entre nessa batalha por informações verdadeiras e que ajudem a mudar o mundo. Apoie Opera Mundi.

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Notas internacionais

Notas internacionais: eleições no Equador e no Peru - 12 de abril de 2021

Encaminhar Enviar por e-mail

Equador e Peru foram às urnas eleger seus novos presidentes, com resultados que surpreenderam

Ana Prestes

Brasília (Brasil)
2021-04-12T22:11:48.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

EQUADOR: No Equador, o candidato da direita, Guilherme Lasso, do movimento Criando Oportunidades (CREO), em aliança com o Partido Social Cristão (PSC), venceu o segundo turno das eleições presidenciais com 52,5% dos votos contra 47,50 de Arauz. Havia muita expectativa em torno da candidatura do economista Andrés Arauz, que pontuava na dianteira nas pesquisas durante quase todo o período de campanha do segundo turno que durou dois meses. Nos dias que antecederam o domingo eleitoral (11) as pesquisas já apontavam perda de fôlego de Arauz e subida de Lasso. De todo modo, as pesquisas de boca de urna davam vitória apertada para Arauz. A Cedatos chegou a dar 53,2% a 46,7%. 

Lasso é um homem de 65 anos, historicamente vinculado ao setor financeiro, em especial ao Banco de Guayaquil, tendo sido ministro da economia do governo de Jamil Mahuad (1998-2000). Esta é a terceira vez que ele concorre à presidência do Equador (2013, 2017, 2021). Nas eleições anteriores ele ficou em segundo lugar. Um dos fatores que impactou muito no resultado eleitoral foi o fracionamento do movimento indígena. A Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) decidiu em seu conselho ampliado, no dia 10 de março, pelo voto nulo. No entanto, uma parte das nacionalidades amazônicas divergiram e foram acompanhadas do presidente da Conaie, Jaime Vargas, na declaração de apoio a Arauz. Vargas chegou a dizer em um encontro no dia 3 de abril, em Sucumbíos, que “suas propostas (de Arauz) têm o respaldo absoluto do movimento indígena”. No dia 4 de abril veio a reação do conselho dirigente da Conaie ao dizer que ia “impulsionar o voto nulo” e que “não cai em jogo eleitoral”. A apuração está apontando para um milhão e seiscentos mil votos nulos. O universo de votantes é de 13 milhões. (Com infos de resumenlatinoamericano.org)

PERU: O domingo também foi de eleições no Peru. Uma eleição que era extremamente imprevisível, com 18 candidatos concorrendo, teve um resultado de primeiro turno surpreendente. O candidato Pedro Castillo, professor e sindicalista, do Partido Político Nacional Peru Livre, obteve a maior votação, com 16%. Seguido de três candidatos com pouco mais de 10%: Hernando de Soto (Avança País), Keiko Fujimori (Força Popular), Jonhy Lescano (Ação Popular) e Rafael López Aliaga (Renovação Popular). Veronika Mendoza (Juntos por Peru) pontua com 8,8%. Aquele que apontou por um tempo como primeiro colocado nas pesquisas, o jogador de futebol George Forsyth (Vitória Nacional) está com 6,4%. Esses ainda são dados preliminares da Ipsos Perú para a América Televisión. 

Pedro Castillo tem 51 anos e ganhou notoriedade no país ao encabeçar uma prolongada greve nacional do magistério em 2017 e ao longo da campanha nunca pontuou entre os prováveis mais votados nas pesquisas. Uma de suas propostas é trocar a atual Constituição do país convocando uma Assembleia Constituinte. Ele se posicionou nas eleições contra o recorte de gênero no currículo escolar e disse que em um eventual governo seu não se legalizaria o aborto, o casamento homoafetivo e a eutanásia. Pautas polêmicas no país. Propõe ainda 10% do PIB para saúde e educação. As últimas pesquisas apontavam para uma liderança de Lescano. O segundo turno será em 6 de junho e o novo presidente assume em 28 de julho. Os peruanos também votaram ontem (11) para renovar o Congresso, que é unicameral e possui 130 cadeiras. A tendência é de que a votação para o parlamento tenha sido fragmentada e atomizada tal como a presidencial. O Peru vive uma crise institucional prolongada, sendo que dos dez presidentes que o país teve desde os anos 80, sete foram presos nos últimos anos envolvidos em escândalos de corrupção.

Só o seu apoio pode garantir uma imprensa independente, capaz de combater o reacionarismo político, cultural e econômico estimulado pela grande mídia. Quando construímos uma mídia alternativa forte, abrimos caminhos para um mundo mais igualitário e um país mais democrático. A partir de R$ 20 reais por mês, você pode nos ajudar a fazer mais e melhor o nosso trabalho em várias plataformas: site, redes sociais, vídeos, podcast. Entre nessa batalha por informações verdadeiras e que ajudem a mudar o mundo. Apoie Opera Mundi.

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!
Opera Mundi

Rua Rui Barbosa, 381 - Sala 31
São Paulo - SP
CNPJ: 07.041.081.0001-17
Telefone: (11) 3012-2408

  • Contato
  • Política e Economia
  • Coronavírus
  • Diplomacia
  • Cultura
  • Análise
  • Opinião
  • Expediente
Siga-nos
  • YouTube
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Google News
  • RSS
Blogs
  • Breno Altman
  • Agora
  • Bidê
  • Blog do Piva
  • Quebrando Muros
Receba nossas publicações
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

© 2018 ArpaDesign | Todos os direitos reservados