Nossa situação, análoga à da República de Weimar frente à ascensão de Adolf Hitler ao cargo de chanceler (por meio do qual se tornou ditador), me faz pensar naquele texto de Theodor Adorno, Educação após Auschwitz. Nele, o filósofo se pergunta por que pessoas letradas e diplomadas foram tão facilmente seduzidas pelo fascismo. No caso do perfil bolsonarista, eu consigo responder com mais proximidade: aqui também há pessoas de classes médias e abastadas, letradas e diplomadas que votarão em Jair Bolsonaro. “O fascismo dialoga intimamente com o senso comum”, disse o professor de direito constitucional Pedro Serrano. É neste campo que Bolsonaro joga.
Por mais que um diploma possa abrir portas para um mercado profissional, ele não garante uma educação crítica (que ensine a pensar) e continuada. Uma pesquisa divulgada na 4ª edição dos Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida em março de 2016, atesta que o brasileiro lê em média menos de três livros por ano. Destes, 30% nunca leram um livro na vida. Eu gostaria de entender quantos brasileiros diplomados cultivam o hábito da leitura, lendo mais do que livros técnicos ou estritamente religiosos (tenho muito respeito a livros sagrados, mas eles não bastam numa formação cidadã). Além de livros, quem tem o hábito de acompanhar jornais e revistas com notícias por veículos minimamente fidedignos?
Não responsabilizo aqueles cuja educação fora deficitária por falta de acesso, num mundo marcado por abismos colossais entre a educação de elites e a de pessoas com menos recursos (recursos em todos os sentidos). Refiro-me a meus pares, de classes médias e abastadas, que, como eu, foram honrados com seus diplomas, mas estagnaram seu processo de aprendizado, optando por se informar por memes e mensagens de grupos de WhatsApp.
Faltam conhecimentos gerais sobre história, leituras e reflexões sobre os principais fenômenos do século XX. É constrangedor saber que pessoas letradas e diplomadas acreditam em mentiras tão infantis sobre o Haddad, associando sua candidatura à patética Ursal ou outros planos mirabolantes de ameaça comunista. Pergunto: onde essas pessoas estavam nos 13 anos de gestão petista? De que maneira houve quaisquer indícios de que o PT transformaria o Brasil numa Venezuela? O Brasil privatizou a rodo, seguindo na direção contrária do projeto chavista… Mesmo assim, creio que essas pessoas acreditem nas mentiras que leem e compartilham. Mentiras estas que, repetidas tantas vezes, passam a ser aceitas como verdades, seguindo o velho e inexorável slogan de Goebbels.
Antonio Cruz/Agência Brasil
Manifestação pró-Bolsonaro em Brasília, em setembro de 2018