Parte da sociedade brasileira apoiou a deposição de João Goulart e jogou o país numa longa noite que nos atemoriza até os dias de hoje continuamente.
Formalmente, o golpe de 1964 arrefeceu em dois momentos: em 1985, com a eleição indireta de Tancredo Neves/José Sarney, e em 1989, com a eleição de Fernando Collor.
Mas perdura o entulho.
Houve um intervalo democrático. Duas eleições e mandatos de FHC, duas eleições e mandatos de Lula, uma e 1/2 mandatos de Dilma. E veio o golpe jurídico-empresarial em 2016.
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Como disse, o entulho autoritário perdura e se consubstanciou através de um subproduto da ala radical das forças armadas, capitão Jair Bolsonaro, sujeito que foi expelido e aposentado do Exército, um apologista da tortura, misógino, autoritário, que tirou trinta anos de férias dentro da Câmara de Deputados, para surgir como solução de continuidade do golpe de 2016.
Bolsonaro é o elo perdido entre 1964 e os dias de hoje.
Para comemorar o ato contínuo do golpe de 2016, nada mais grotesco do que o 31 de março do golpe matriz em meio a um governo de Jair Bolsonaro e uma pandemia que nos atola numa crise política, sanitária e econômica.
A cereja no bolo desse dia bizarro é a notícia de que dois personagens centrais do governo Bolsonaro, portanto do golpe contínuo, parecem anunciar uma nova fase do golpe.
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Moro, Guedes e Bolsonaro na ‘coletiva das máscaras’: equação perfeita do aniversário do golpe
O ex-juiz Sérgio Moro, hoje dublê de ministro da Justiça, um dos principais caudatários da eleição do capitão Jair, o braço jurídico do golpe versão 2016, nesse momento acena de forma covarde, bem característica do seu estilo, que quer abandonar o barco. Ele usa como argumento pretensas discordâncias com o chefe sobre o enfrentamento do coronavírus.
Ele diz isso em off para interlocutores e é evasivo em público. Moro que acha feio aquilo que não é espelho, está com vergonha, e já não enxerga mais conveniência nessa fase da obra suja que ajudou a criar. Alea jacta est, talkey.
O outro personagem central na continuidade golpista é o ministro da Economia, Paulo Guedes, uma espécie de especulador metido a teórico ultraliberal, também subproduto de uma ditadura, só que da chilena de Augusto Pinochet. Ele é o pistolão do capitão Jair no mercado financeiro, o posto Ipiranga da derrocada economicista.
Guedes afirmou no último final de semana que, como cidadão, é a favor do isolamento horizontal, método recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combate ao avanço do coronavírus, e um dos pesadelos de Jair. Como ministro, defende o método vertical, que coloca parte da população em risco, na rua trabalhando, exatamente aqueles precarizados que sua política econômica aprofundou. Para o povo, o vírus; para mim, a proteção. Homus Canalhus Economicus.
Moro e Guedes e a soma Jair Bolsonaro formam a equação perfeita desse sempre abjeto 31 de março. O golpe é contínuo. Vamos descomemorar, mas qual será o próximo ato?