Parece livro de autoajuda
O que temos aqui não é apenas a grosseria, a estupidez, o oportunismo e o fanatismo no poder, mas a sua exibição deliberada e orgulhosa
Nunca foi tão fácil e nunca foi tão difícil escrever uma coluna.
A divulgação do vídeo da reunião de meliantes que usurpou a noção de presidência, de república e de ministério, não deixou margem a dúvidas na escolha do tema. Nem propiciou falta de assunto, dada a enxurrada de impropriedades, a indigência mental e a prevalência da sofisticação de linguagem própria de um churrasco de milicianos.
Mas a quantidade de descalabros é de tal ordem que a sua mera indicação ultrapassaria o espaço de uma coluna. E as redes sociais já indicavam, logo depois da reunião, que seu efeito seria o de uma espécie de empate, entre aqueles que não precisavam do vídeo para saber do enxovalhamento do país e os que provavelmente continuarão atribuindo a degradação moral e política à simplicidade do líder que “fala a verdade”.
Talvez seja cedo para saber qual será o real impacto na opinião pública (ou publicada) nacional. Mas já nos próximos dias veremos que seu efeito internacional não será pequeno e nos jogará ainda mais fundo na vala dos párias internacionais.

Marcos Corrêa/PR
Reunião ministerial realizada no dia 22 de abril
Não pelo autoritarismo, mas pelo nível de indigência, intelectual e moral. Não sabemos se Hitler, Stalin, Mussolini ou algum de seus admiradores hoje, Putin, Orbán, Erdogan ou Trump, seriam capazes de tal número de baixarias numa reunião fechada de governo. Mas é certo que nenhum deles o faria numa reunião gravada!
O que temos aqui não é apenas a grosseria, a estupidez, o oportunismo e o fanatismo no poder, mas a sua exibição deliberada e orgulhosa. Um mês antes de atingirmos a condição de segundo colocado em número de infecções no planeta, os 27 palavrões proferidos pelo chefe do bando tiveram o delicioso complemento de repetir que ele próprio era mais educado que o ministro... da educação.
O encarregado de destruir a Amazônia e o meio ambiente propôs que se aproveitasse “a tranquilidade” oferecida pelo fato de que a imprensa só se preocupa com a pandemia, para passar de “baciada” toda a desregulamentação ambiental. O do turismo sugere cassinos como solução para atrair capitais; a ministra de passado são-carlense avisa que o ministério da saúde está cheio de feministas e o gênio da economia conta que leu oito livros.
Para usar uma palavra que, além de reuniões ministeriais passou a frequentar as estantes de auto-ajuda, este desgoverno ligou o foda-se para o Brasil.
O que é que os especialistas em prever o futuro a serviço dos donos da grana vão dizer agora?
(*) *Carlos Ferreira Martins é Professor Titular do IAU-USP São Carlos.