Com muito pouco você
apoia a mídia independente
Opera Mundi
Opera Mundi APOIE
  • Política e Economia
  • Coronavírus
  • Diplomacia
  • Cultura
  • Análise
  • Opinião
  • Podcasts
Opinião

Furar a bolha ou cair numa armadilha? Sobre Haddad no Manhattan Connection e Glenn no Pânico

Encaminhar Enviar por e-mail

Quando olhamos para os programas destas emissoras, verificamos que há uma parcela deles que não merece o título de 'jornalísticos'

Renata Mielli
Haroldo Ceravolo Sereza

São Paulo (Brasil)
2021-02-12T19:20:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

Vivemos em um país com praticamente nenhuma pluralidade e diversidade na radiodifusão. O modelo privado comercial - que tomou conta da prestação deste serviço público indispensável para a circulação de informações na sociedade - criou um ambiente de monopólio, no qual as emissoras são propriedades de um pequeno leque de agentes econômicos cujas posições editoriais revelam um discurso único sobre diferentes temas políticos, com viés neoliberal e de centro/direita.

Quando olhamos para os programas jornalísticos destas emissoras, verificamos que há uma parcela deles que não merece o título de “jornalísticos”. São espaços que reúnem a elite dos articulistas/apresentadores mais grosseiros, indivíduos que estão à serviço do quanto pior melhor, servos da extrema direita que destilam ódio e promovem a violência, que não estão amparados pela liberdade de expressão e nem pelas poucas regras em vigor para o funcionamento e a programação de canais de rádio e televisão – que são concessões públicas. 

Nesse rol, podemos citar o Manhattan Connection, o Pânico, os programas policialescos como Cidade Alerta e outros deste calibre. Tratam-se de espaços que violam direitos humanos de forma sistemática. 

Neste sentido, é preciso questionar: o que leva pessoas consideradas progressistas, como o jornalista Glenn Greenwald ou políticos como Fernando Haddad, a aceitarem participar desse tipo de programa? 

Glenn aceitou integrar a mesa do programa Pânico, na rádio Jovem Pan, em setembro de 2019, e foi atacado não apenas verbalmente, mas também fisicamente, por Augusto Nunes, um desses cânones da extrema direita agressiva que há muito tempo rasgou qualquer compromisso com o jornalismo. 

As cenas grotescas chocaram muitos. Mas aquelas imagens, cirurgicamente editadas pelos gabinetes de ódio, serviram para alimentar a horda de bolsonaristas e fascistas através do WhatsApp e incitar a violência física e moral contra jornalistas, alimentar homofobia e, assim, tentar diminuir a relevância da Vaza-Jato, ou seja, das conversas eletrônicas dos integrantes da Lava-Jato que o Intercept, naquele momento, tornava públicas. Não é à toa que cresce exponencialmente a violência contra jornalistas e comunicadores no Brasil: Augusto Nunes serviu de exemplo para coisa muito pior por aí. 

Haddad, na última quarta-feira (10/02), participou do Manhattan Connection, exibido pela TV Cultura, para conversar com um dos mais virulentos porta-vozes da grosseria de extrema direita na televisão, Diogo Mainardi. Mainardi há alguns anos tem se notabilizado pela coleção de xingamentos que derrama quando menciona qualquer político que não esteja sentado à direita de Donald Trump.

Reprodução
Nomes como Mainardi, Augusto Nunes, Datena e assemelhados representam o que pior existe na radiodifusão brasileira

Não deu outra. Mainardi chamou Haddad de "poste de ladrão" e o programa, longe de um debate de ideias, se transformou numa sucessão de grosserias e armadilhas contra o dirigente do PT. Os memes não tardaram e não se prestam só ao momento de hoje: serão exaustivamente retomados pelos próximos meses, com o objetivo simultâneo de atacar Haddad e Lula, diante de uma aparente tendência de redução da rejeição ao Partido dos Trabalhadores. 

Registre-se que Haddad se saiu melhor que Glenn, quando se expôs a ser alvo de Augusto Nunes na Jovem Pan. Mas Haddad não deveria estar lá. Assim como Glenn também não deveria ter ido ao Pânico. Isso não é furar a bolha, não é debater publicamente: é se sujeitar à violência verbal de gente desqualificada e em baixa, que sobrevive profissionalmente gastando os restos de um prestígio anterior, destruído no afã de alimentar correntes de difamação e ódio. 

É certo que, por vivermos um cenário de discurso único na mídia hegemônica, encontrar frestas que permitam dar expressão a visões diferentes das anunciadas exaustivamente por estes grandes conglomerados é fundamental. É um problema real, e, portanto, legítima a pergunta que o expressa: devemos ocupar todos os espaços? 

Será? 

É preciso refletir sobre quais espaços valem ou não a pena serem ocupados e em que situações. O Manhattan Connection é hoje um programa decadente e sem sentido na sociedade contemporânea. Foi salvo do fim com dinheiro público, por uma emissora que tem abrigado muita gente que queimou sua credibilidade. 

Ao invés de furar a nossa bolha e falar para mais gente, o que essa ingenuidade garante é engordar bolhas que estão murchando e dar claque para a extrema direita e para os gabinetes do ódio. 

Quando Glenn e Haddad aceitam participar de programas que são show de pugilato, tudo o que fazem é dar sobrevida e publicidade a programas que violam direitos fundamentais. 

Nomes como Mainardi, Augusto Nunes, Datena e assemelhados representam o que pior existe na radiodifusão brasileira. São militantes da desumanização e do rebaixamento do debate democrático. Não são debatedores que mereçam ser legitimados, pelo contrário, o que esperamos de Glenn e Haddad é a denúncia permanente deste método de destruição da democracia.

(*) Renata Mieli é Jornalista, secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, estudante do Programa de Pós Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-USP. Haroldo Ceravolo Sereza é jornalista e editor do site Opera Mundi.

Só o seu apoio pode garantir uma imprensa independente, capaz de combater o reacionarismo político, cultural e econômico estimulado pela grande mídia. Quando construímos uma mídia alternativa forte, abrimos caminhos para um mundo mais igualitário e um país mais democrático. A partir de R$ 20 reais por mês, você pode nos ajudar a fazer mais e melhor o nosso trabalho em várias plataformas: site, redes sociais, vídeos, podcast. Entre nessa batalha por informações verdadeiras e que ajudem a mudar o mundo. Apoie Opera Mundi.

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Sociedade

Número de vítimas de pedofilia dentro da Igreja pode chegar a 10 mil na França

Encaminhar Enviar por e-mail

Em parceria com o Ministério da Justiça, uma linha telefônica foi colocada à disposição em 2019 para receber testemunhos de vítimas de todo o país

Redação

RFI RFI

Paris (França)
2021-03-02T22:41:00.000Z

Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

Desde 1950, 10.000 crianças e adolescentes podem ter sido vítimas de violências sexuais cometidas por membros da Igreja Católica na França. Essa é a estimativa do presidente da comissão independente que investiga a pedofilia dentro da maior instituição religiosa no país. 

A comissão foi criada em 2018 pelo episcopado francês e institutos religiosos após diversos escândalos no país. Em parceria com o Ministério da Justiça, uma linha telefônica foi colocada à disposição em 2019 para receber testemunhos de vítimas de todo o país. A estimativa foi feita a partir dos relatos recolhidos.

O número de crianças e adolescentes sexualmente abusados, no entanto, ainda pode mudar. “Nossa campanha está pedindo testemunhos, certamente não reuniu a totalidade [de vítimas]”, afirmou o presidente da comissão Jean-Marc Sauvé nesta terça-feira (02/03). “A grande pergunta neste momento é qual o percentual de vítimas que atingimos. 25%? 10%? 5%?”, completou.

O presidente da comissão não informou quantos são os possíveis agressores envolvidos. Segundo ele, no entanto, "em várias instituições católicas ou comunidades religiosas, tem havido um verdadeiro sistema de abuso, mas esta situação representa uma minoria muito pequena dos casos de que ouvimos falar".

Pxhere
Cerca de 10.000 possíveis vítimas de pedofilia cometida por membros da Igreja Católica na França foram identificadas desde 1950

O relatório final com recomendações de práticas de combate à pedofilia na Igreja deve ser divulgado em setembro. 

Responsabilidade pelo passado

Em fevereiro, a Conferência de Bispos da França reuniu 120 representantes ao longo de três dias para discutir a responsabilidade nos casos de pedofilia do passado. A discussão terminou sem nenhuma decisão prática.

"Nós concordamos todos que, no passado, houve falhas na gestão das coisas, sem falar dos crimes cometidos", afirmou o Monsenhor Luc Ravel. "Mas ainda estamos divididos sobre a noção de responsabilidade coletiva em relação ao passado. Alguns acreditam que é preciso solidariedade em relação às gerações precedentes", disse na ocasião da conferência.

Os 120 bispos devem se encontrar novamente no final deste mês para votar um dispositivo de reconhecimento do sofrimento vivido pelas vítimas que, se aprovado, pode prever medidas financeiras, criação de monumentos e políticas de prevenção à pedofilia.

Só o seu apoio pode garantir uma imprensa independente, capaz de combater o reacionarismo político, cultural e econômico estimulado pela grande mídia. Quando construímos uma mídia alternativa forte, abrimos caminhos para um mundo mais igualitário e um país mais democrático. A partir de R$ 20 reais por mês, você pode nos ajudar a fazer mais e melhor o nosso trabalho em várias plataformas: site, redes sociais, vídeos, podcast. Entre nessa batalha por informações verdadeiras e que ajudem a mudar o mundo. Apoie Opera Mundi.

Faça uma
assinatura mensal
Faça uma
assinatura anual
Faça uma
contribuição única

Opera Mundi foi criado em 2008. É mais de uma década de cobertura do cenário político internacional, numa perspectiva brasileira e única. Só o apoio dos internautas nos permite sobreviver e expandir o projeto. Obrigado.

Eu apoio Opera Mundi
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!
Opera Mundi

Rua Rui Barbosa, 381 - Sala 31
São Paulo - SP
CNPJ: 07.041.081.0001-17
Telefone: (11) 3012-2408

  • Contato
  • Política e Economia
  • Coronavírus
  • Diplomacia
  • Cultura
  • Análise
  • Opinião
  • Expediente
Siga-nos
  • YouTube
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Google News
  • RSS
Blogs
  • Breno Altman
  • Agora
  • Bidê
  • Blog do Piva
  • Quebrando Muros
Receba nossas publicações
Receba nossas notícias e novidades em primeira mão!

© 2018 ArpaDesign | Todos os direitos reservados