Aos leitores que possam ficar chocados com a falta de elegância do título, é forçoso perguntar por que um presidente da República pode se manifestar nesse tom e um modesto colunista não. E talvez algumas outras coisinhas.
Por que um presidente pode pronunciar 43 palavrões numa reunião ministerial cuja gravação foi amplamente divulgada a toda a população e obter de muitos a avaliação de que é “autêntico”?
Por que um grupo de empresários paulistas “ovacionam” o genocida no dia em que passamos de 4.000 mortes causadas pela autêntica crueldade e ignorância?
Por que a grande imprensa está louvando o “compromisso democrático” dos militares quando a população está morrendo em fila de espera para UTI e os hospitais militares, com 85% dos leitos vazios, não recebem civis?
Por que o Advogado Geral da União e o Procurador Geral da República defendem cultos presenciais quando o próprio papa celebrou a missa de Páscoa no Vaticano vazio, exatamente para dar testemunho do compromisso cristão com a vida?
Por que importantes redes hospitalares continuam receitando cloroquinas e outras inas que, já está comprovado, acarretam efeitos colaterais nefastos, especialmente em situação de colapso hospitalar?
Por que continuam e continuarão dormindo em sono esplêndido os mais de cem pedidos de impeachment do genocida?
Por que o chamado mundo político continua concentrado na eleição de 2022 quando até lá teremos bem mais de meio milhão de mortos, o risco de convulsão social provocada pela fome e as eternas tentativas de golpe pelo chefe dos milicianos?
Essas perguntas não têm uma única resposta. Podemos falar no descrédito das instituições democráticas. Ou na falência dos partidos como forma de representação. Ou na ação deseducadora dos meios de comunicação de massa e até no poder subterrâneo das fake news.
O que não podemos é deixar de falar de um bom motivo para tudo isso: o pessoal limpinho ainda está ganhando um monte de grana com a pandemia.
A atualização da lista da Forbes merece várias colunas. Hoje, fiquemos só com um aperitivo.
O leitor sabe que a merreca do auxílio emergencial, que só fará cosquinhas nos mais de 20 milhões de brasileiros recém-rebaixados à miséria, custará, ao câmbio de hoje, pouco mais de 7 bilhões de dólares?
E o leitor sabe que um só dos brasileiros mais ricos do mundo, aquele que mora em Zurique e financia bolsas de estudos em Harvard, aumentou seu patrimônio, só no ano da pandemia, em 6,5 bilhões de dólares?
Não, esse não é o valor da fortuna dele. E só o que ela cresceu no ano da pandemia. É aquilo sobre o que ele não paga um centavos de impostos, enquanto os ovacionadores do presidente que está sempre com o caralho na boca repetem que é preciso cortar… o salário dos funcionários públicos.
A realidade é complexa e é preciso desconfiar de respostas simples. Mas enquanto não formulamos teorias mais completas para explicar por que grandes empresários aplaudem o cara que nos transformou em párias internacionais, ainda vale o velho conselho: Follow the money!
Ao que o presidente agregaria um, espontâneo e autêntico, Caralho!