Saudações do Reino da tradição e da pompa, dos súditos da Elizabeth, a rica velhinha viúva, que reina poderosa por ser filha do pai.
Aqui as coisas estão indo tão bem quanto no Reino da Dinamarca. Dominic Dom Cummings, o assessor maquiavélico do primeiro-ministro, que com seus dons levou ao Brexit, quer contar tudo! Dizem que sai vazando por aí. Coitado, se sentiu lesado. Depois das eleições foi descartado por Lady Carrie Macbeth Symonds. Dizem que com “Bobo” Johnson prevalece sempre a voz do travesseiro: por detrás de Boris há sempre uma mulher.
E o que vazou Dom? São essas histórias de reformas da casa com fundos de doadores secretos, dos influentes amigos de Carrie, dos erros e ilegalidades no manejo da covid-19. E Dom promete muito mais! Não que haja nada de errado, claro. Não duvide. Aqui no Reino somos todos íntegros! (Oi? Alguém mencionou “vácuo de integridade”?). Boris bamboleia, mas não cai. É a pandemia estúpido!
A pandemia é uma redenção. Boris, o Bobo, pegou no WhatsApp e pediu para o amigo Dyson (o dos aspiradores) fazer ventiladores. Aliás, ele falou e Dyson financiou – o Brexit. Depois levou a empresa para o Paraíso Singapura, deixando o querido Reino. Dyson retrucou que só ajudaria se o amigo baixasse os impostos. O “Bobo” assentiu: “está feito!”. Aí os impostos caíram, mas Dyson, o aspirador de notas, não entregou, e Johnson só desconversou: Não fui eu, foi a covid! É a pandemia estúpido!
Enquanto isso, Cameron, ex-primeiro-ministro, (aquele que inventou o Brexit e deixou a baderna para os outros), estava se sentindo pobrezinho, (os dinheiros da família nos off-shore trusts, não devia ser suficiente, coitado), resolveu se empregar com o amigo Greensill, financista. E quando a empresa estava para falir, Cameron foi com o chapéu para o ministro das finanças de Boris. O ministro tesoureiro, talvez um pouco mais sensato, não ajudou. Então, Cameron levou o chapéu pro Banco Central! Se não funciona uma primeira vez, quem sabe uma segunda, né mesmo?
Number 10/Flickr
Poderíamos falar que a boiada já passou; passaram os carneiros, aqueles da imunidade de rebanho, tentada por Boris no começo da pandemia
Ah, ia me esquecendo do Bill Crothers, servidor público e diretor comercial do governo, que trabalhava para o Tesouro e para Greensill ao mesmo tempo. Aí já era demais, e Boris, o Íntegro, se indignou com o seu antecessor, colega de Eton e Oxford, e pediu um inquérito, comandado por ele, claro, em vez do Parlamento.
Não pensem que só existem primeiros-ministros no oba-oba da covid. O ministro da saúde, Hancock, em vez de usar a expertise do famoso NHS, preferiu dar contratos sem licitações para os amigos e familiares. Foram mais de 50 contratos sem licitação ou transparência. E agora, vejam só, ficamos sabendo que o ministro salvador de vidas, junto com a irmã, são acionistas de um dos fornecedores do NHS aprovados por ele mesmo. Quem diria! É a pandemia estúpido!
Na pandemia, é claro, tudo pode. Negociações escusas são dispensadas de transparência. Não importa se a firma vende papelão, mas quer fazer EPPs, ou se a CEO era de uma empresa de celular e se torna chefe da logística de testes e rastreamentos, por tanto que fique entre amigos. Aliás, o ministro da Saúde foi até condenado na justiça pela falta de transparência e o Ministério gastou quase $300.000,00 no processo para se defender, enquanto as enfermeiras aplaudidas receberam um pífio aumento de 1% (o primeiro em vários anos de austeridade). Você pensa que ele foi demitido? Que nada! Nem ele, nem ninguém.
Tudo pode sob a pandemia. Se tivesse mais bois aqui poderíamos falar que a boiada já passou. Passaram os carneiros, aqueles da imunidade de rebanho, tentada por Boris no começo da pandemia.
Enfim, tivéssemos nós aqui o nosso Cavaleiro Reluzente, Sergio Moro, em seu cavalo branco, com sua espada cortaria o ar grosso que envolve o governo britânico, separando os homens de bem dos de mal, destruindo empresas e empresários, políticos e políticas, prendendo tudo quanto é ministro e primeiro-ministro corrupto. Mas como aqui não há corrupção, esta foi inventada pelo PêTê no Brasil, como é que vamos ter herói pra sanar um mal que não existe?