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Opinião

Eleições no Peru: um sopro de esperança popular no coração dos Andes

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Esquerda aposta em Pedro Castillo, do partido Peru Libre, cuja base social são as chamadas Rondas Camponesas

Pedro Carrano
Soniamara Maranho

Brasil de Fato Brasil de Fato

Curitiba (Brasil)
2021-06-01T14:06:00.000Z

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Dia 6 de junho de 2021, o povo peruano vai às urnas, no segundo turno de uma eleição polarizada entre a esquerda, representada pelo professor, sindicalista e filho das greves de 2017 do magistério, Pedro Castillo, à frente nas pesquisas, com um programa democrático, nacional e popular, contra a candidatura de extrema-direita em uma de suas variantes na história da América Latina: Keiko Fujimori é filha de Alberto Fujimori, preso neste momento por crimes contra a humanidade.

A filha reivindica o legado político do pai. Eleito nos anos 90 contra o escritor neoliberal Mario Vargas Llosa, o governo de Fujimori foi marcado por perseguição contra a esquerda e movimentos populares, autoritarismo, buscou implantar uma ditadura, ao lado da aplicação do neoliberalismo. 

O Peru é um país no coração dos Andes, que herda a marca da luta anticolonial e da resistência dos povos originários. Nos anos 1990 e 2000, não tendo tido a referência de um governo progressista, o povo peruano amargou apenas o programa neoliberal, marcado pela exploração das corporações transnacionais, com destaque para o ramo da mineração, extraindo os recursos naturais e obtendo taxas de lucro de até 80% - desafio semelhante ao que a Bolívia vivia antes da chegada do MAS ao governo (2006). 

A aplicação do programa neoliberal, do Tratado de Livre Comércio com os EUA e mais 20 diferentes acordos com outros países, cobra o seu preço: hoje, no Peru, 21,8% das crianças e adolescentes são obrigados a trabalhar. Não há, além disso, no país um patamar de leis trabalhistas consistente. O número de analfabetos é de 2,7 milhões, em uma população de 32,5 milhões de pessoas, sendo que 84% entre as vítimas de analfabetismo são mulheres.

É também um país marcado pela corrupção que faz seu povo soprar a esperança para uma alternativa estruturante ao projeto capitalista que, em essência, é corrupto, quando explora e rouba o fruto do trabalho da classe trabalhadora. Situação estrutural que o programa do Peru Libre quer combater. Não à toa, uma das palavras de ordem da campanha é “não mais pobres em um país rico”.

Intensa disputa

Neste momento, a esquerda peruana se aglutina em torno da chance de vitória de Castillo, do partido Peru Libre, um partido que reivindica Marx, Lenin e também o legado do marxista peruano José Carlos Mariátegui.

O Peru Libre tem como uma das bases sociais as organização das chamadas Rondas Camponesas, que são comunidades camponesas, organizadas com jurisdição própria, críticas ao limite e caráter de classe do Estado, porém conscientes do papel que Castillo pode cumprir ao chegar ao governo – ainda que tenha pela frente o mesmo desafio dos governos bolivarianos na Venezuela, Equador e Bolívia: avançar na direção do poder e combater um Estado com pesada herança colonial.

E, sem dúvida, acumular força popular elevando o nível de organização e consciência política para se manter no poder frente aos bloqueios e ataques que certamente virão do imperialismo.

Ao final do primeiro turno, Castillo surpreendeu pelo resultado, vindo graças a uma organização subterrânea, via, que o levou a 20 pontos à frente de Fujimori, mesmo sem aparecer nos meios de comunicação e sem força nas redes sociais, em um país no qual 60% do povo não tem acesso à internet. Com isso, a campanha se construiu com lastro em atividades nos rincões peruanos ou, como dizem, no Peru profundo. De povoado em povoado.

As áreas mais pobres do país rendem o principal apoio a Castillo, ao passo que a capital Lima é um dos centros da atual disputa. Recentemente, Fujimori tirou a diferença que separava as duas campanhas, a partir de forte cerco da mídia empresarial, que promove campanha declarada contra o professor e sindicalista, reavivando o discurso do medo do “terrorismo e do comunismo”. As pesquisas variam e alguns veículos da mídia empresarial chegam a divulgar empate técnico entre as duas candidaturas.

Pedro Castillo/Twitter
Pedro Castillo, do Peru Livre, aparece tecnicamente empatado com sua adversária Keiko Fujimori, do Fuerza Popular

Importância continental

Uma vitória da esquerda no Peru contribuiria muito no cenário continental. País estratégico, detém o segundo potencial hídrico da América Latina, vizinho do Brasil, que possui o primeiro potencial. Se a energia é compreendida como um recurso estratégico para o Capital e como uma mercadoria, sendo assim o Peru acaba sendo um dos focos da disputa na geopolítica mundial, fonte de alta lucratividade para capital especulativo internacional.

Depois de uma onda de golpes e retomada de governos de direita, desde 2015, a atual crise  econômica, política e sanitária que se agrava na América Latina tem movido as peças do xadrez e produzido revoltas e movimentos de massa, caso da Guatemala, Haiti, Colômbia, Equador, Chile e Paraguai. Ao lado da retomada do governo na Bolívia, da conquista da Constituinte chilena, uma vitória de Castillo significaria mais uma situação na qual a forte luta de massas conflui para a chegada da esquerda ao governo. Contribui também para um cenário necessário de isolamento do governo neofascista de Bolsonaro no Brasil.

As consequências de uma condução negligente diante da crise os peruanos também conhecem bem: o país reviu seus índices no dia 29 de maio, alcançando a maior taxa de mortalidade do mundo, com com 5.484 mortes por milhão de habitantes e um total de 180.764 mortes.

O programa do Peru Libre, de Pedro Castillo, identifica os principais problemas da realidade peruana, propõe uma sociedade de mercado, porém sob controle de um Estado investidor e controlador das principais empresas públicas. No rol de difamações contra sua candidatura, acusada de “tão conservadora quanto a de Fujimori”, vale explicar aqui que o programa de Castillo identifica as principais formas de desigualdade da realidade peruana e propõe medidas concretas para combatê-las. Muitas vezes, periódicos como El País, que costuma equiparar esquerda e direita, quer um discurso progressista, mas não parece querer as medidas que efetivamente socializem a renda, distribuam poder ao povo, rompam as amarras de nossos povos na América Latina. Retomem nossa soberania.

É tarefa da esquerda e dos setores democráticos brasileiros e latino-americanos até o 6 de junho acompanhar a intensa disputa eleitoral no Peru, divulgar e compartilhar materiais de apoio a Castillo, fortalecer a importante articulação da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba Movimentos, que envolve movimentos populares de todo o continente), estar vigilante sobre as tentativas de golpe – durante e após a vitória popular.

Afinal: “No lápis está a esperança!”

 

* Soniamara Maranho é integrante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

** Pedro Carrano, integrante da direção nacional da Consulta Popular.

Eleições 2021 no Peru

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Meio Ambiente

Desmatamento na Amazônia Legal é o maior em 15 anos, aponta Imazon

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De agosto de 2021 a julho de 2022 foi destruída uma área equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-17T22:12:00.000Z

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Nos últimos 12 meses, a Amazônia Legal teve o maior índice de desmatamento em 15 anos. De agosto de 2021 a julho de 2022, foram derrubados 10.781 quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo e 3% a mais do que nos 12 meses diretamente anteriores. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (17/08), são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

É a segunda vez consecutiva em que o desmatamento na região ultrapassa os 10 mil quilômetros quadrados no período. Somadas, as áreas destruídas nos últimos dois calendários (ou seja, de agosto a julho) chegaram a 21.257 quilômetros quadrados, quase o tamanho do estado do Sergipe.

Ao analisar apenas o desmatamento em 2022, o índice de destruição é ainda maior. No período de janeiro a julho, a área de floresta perdida cresceu 7% em relação a 2021, passando de 6.109 quilômetros quadrados para 6.528 quilômetros quadrados. Isso significa que, somente em 2022, a região já teve destruída uma área de aproximadamente cinco vezes a cidade do Rio de Janeiro. E esse também foi o maior desmatamento para o período dos últimos 15 anos.

"O aumento do desmatamento ameaça diretamente a vida dos povos e comunidades tradicionais e a manutenção da biodiversidade na Amazônia. Além de contribuir para a maior emissão de carbono em um período de crise climática. Relatórios da ONU já alertaram que, se não reduzirmos as emissões, fenômenos extremos como ondas de calor, secas e tempestades ficarão ainda mais frequentes e intensos. Isso causará graves perdas tanto no campo, gerando prejuízos para o agronegócio, quanto para as cidades", alerta Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

Pará no topo do ranking de desmatamento

Levando em conta o desmatamento ocorrido nos últimos 12 meses, 36% ocorreu apenas na região conhecida como Amacro, onde se concentram 32 municípios na divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia. Nessa área, há um processo de expansão do agronegócio, que derrubou quase 4 mil quilômetros de florestas entre agosto de 2021 e julho de 2022. A destruição na Amacro também atingiu o maior patamar dos últimos 15 anos para o período, com alta de 29%.

O Pará é o estado que mais desmata na Amazônia Legal. Nos últimos 12 meses, foram derrubados 3.858 quilômetros quadrados de floresta -  36% do destruído na Amazônia. A segunda maior área desmatada no período foi registrada no Amazonas: 2.738 km² (25%).

O que é a Amazônia Legal

A Amazônia Legal é um conceito criado ainda na década de 1950 para promover uma agenda de desenvolvimento para a região. Sua delimitação não é baseada exclusivamente na vegetação, mas inclui conceitos geopolíticos. Por isso que, além da Floresta Amazônica, há uma parte de Cerrado e do Pantanal em seu mapa.2:42

Segundo dados atualizados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a região tem uma área de 5,2 milhões de km², o que corresponde a 59% do território brasileiro. Ela engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,Tocantins e parte do Maranhão, onde vivem atualmente cerca de 28 milhões de habitantes.

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