Depois do último meme da fábrica Bolsonaro de iscas para debate nas redes sociais, estamos todos discutindo se é melhor perder a vida e preservar a liberdade contraindo o vírus no réveillon, no carnaval ou na volta às aulas.
Para quem esteve em Marte nessa semana, essa foi a penúltima pérola produzido pelo boneco de ventríloquo que responde (?) pelo ministério dos ataques à saúde. Penúltima, como na velha piada, porque a última ele pode estar produzindo agora e nós ainda não sabemos.
Para arriscar a vida, mas preservar a liberdade de ocupar uma cama de UTI, não é preciso sequer espera o réveillon ou o carnaval. Basta exercer a liberdade das comilanças natalinas, o que de imediato deixa claro que esta conversa só faz sentido para aquela parcela da população (10%, 20%?) que consegue chegar perto da comida sem ser para servi-la ou para quem o réveillon e o carnaval sejam motivo de festa e não uma rara oportunidade de trabalho temporário.
Com o planeta em alerta a partir da identificação da variante ômicron, qualquer debate sobre festas massivas como réveillon ou carnaval nem precisaria ser muito acirrado.
Mais complicada é a determinação em curso de retorno às atividades escolares presenciais, tanto no ensino fundamental e médio como no superior.
Não há dúvida que para o conjunto do alunado, quase dois anos sem atividades escolares regulares significa enorme prejuízo no processo de aprendizagem. Se e como esse prejuízo pode ser recuperado é debate entre os especialistas.
Mas colocado assim, de forma genérica, se esconde o fato, já mais do que reconhecido, de que os efeitos da pandemia atingem de forma desigual os diferentes setores da população e, pior, aprofundam a desigualdade.
Há inúmeros trabalhos acadêmicos mostrando as várias facetas dessa desigualdade. Mas é entre as crianças que isso salta aos olhos. Uma coisa é o prejuízo da formação escolar no período etário adequado e outra é ficar sem merenda escolar durante mais de um ano, para um contingente enorme de crianças que tinham na merenda a parcela substantiva, quando não a única, de sua alimentação diária.
Assim, a prioridade da volta às escolas deveria, sem dúvida, estar no centro do debate há muito tempo. Mas ela precisaria estar condicionada a outra questão, que parece passar longe da preocupação da mídia e das autoridades: a adequação física dos edifícios e equipamentos escolares e a definição de protocolos seguros para um retorno que, se não puder ser completamente seguro, ao menos atenue os riscos a um nível aceitável.
Em outras palavras, a grande pergunta hoje não deveria ser se haverá réveillon ou carnaval, mas se nestes quase dois anos, os entes federativos responsáveis (união, estados e municípios) tomaram as medidas necessárias para preparar as escolas, públicas ou privadas, para um retorno mais seguro às aulas.
Construímos salas de aula mais espaçosas? Adequamos as salas para garantir ventilação permanente? Ao menos consertamos as janelas emperradas? Ampliamos os sanitários para as exigências de higiene que já conhecemos há quase dois anos? Definimos protocolos de segurança para proteger a saúde de alunos, funcionários e professores e suas famílias?
As respostas são uma sucessão de rotundos Não! E para rematar, a penúltima notícia deste país dantesco é que o desgoverno genocida, ganhou a “inesperada ajuda” de um hacker na desmontagem de todo o sistema de controle e registro de vacinação do país.
Se não fôssemos ingratos deveríamos reconhecer o denodado esforço em defender e garantir a nossa liberdade de contaminar e ser contaminado. Afinal quem, além dos covardes, liga para continuar vivo?