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Opinião

Capitalismo predatório, feudalismo tecnológico e o fim da Amazonia

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Sobrevivência da Amazônia está em jogo nas eleições deste ano, e a visita do biliordário Elon Musk ao Brasil, com seu Starlink de monitoramento ambiental, fala muito sobre isso

Carlos Ferreira Martins

2022-05-24T15:40:00.000Z

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Enquanto as redes sociais, de direita e de esquerda, andam às voltas com questões super relevantes como o debate de um presidenciável com um comediante, o mundo segue em frente, embora não se saiba exatamente para onde. 

Na mesma semana em que o biliardário Elon Musk veio de surpresa ao Brasil e recebeu a deferente visita do pseudo presidente da república no hotel onde estava hospedado, a Der Spiegel (O Espelho), tradicional revista do mainstream alemão, dedicou sua capa aos “Fora da Lei. O mundo feudal dos super-ricos”.

Sobre uma ilustração onde aparecem o próprio Musk, Jeff Bezos, da Amazon, dois outros megaempresários e uma influencer californiana, a revista explicita no “fio” na capa o novo fenômeno: “Super bilionários como Jeff Bezos e Elon Musk estão formando uma nova nobreza global endinheirada. Eles quase não pagam impostos e, ao mesmo tempo, sua participação na riqueza mundial está crescendo. Os políticos olham impotentes”.  E arremata com uma pergunta surpreendente dado o caráter tradicional da revista: “Estamos diante de uma nova luta de classes?” 

Interessante que a revista tenha usado a expressão “mundo feudal” quando há vários economistas e cientistas sociais debatendo, ainda num âmbito restrito, a hipótese de que já não se trate do capitalismo em sentido clássico, mas de uma outra coisa, que alguns chamam de “tecnofeudalismo”. 

Basicamente a ideia é que as mega plataformas tecnológicas estabelecem formas de dominação novas, altamente regressivas e causadoras de aprofundamento abissal das desigualdades sociais.

O mito de uma era de liberdade apoiada no acesso ilimitado à informação deu lugar a uma acumulação escandalosa de lucros, a um punhado de tecno-oligarcas que acumulam fortunas inimagináveis, a milhões de novos desempregados e a um empobrecimento brutal de enormes contingentes populacionais. A “nova economia” se transformou em patamares inéditos de dominação e desigualdade.

Sobre a rápida incursão de Musk pelo Brasil, as versões ainda estão em disputa. Segundo algumas leituras ele veio para uma reunião de empresários que teria sido sequestrada pela invasão abrupta de Bolsonaro e Fabio Faria. Aliás, a esposa de Faria, Patrícia Abravanel, não deixou por menos e chamou Musk de “o novo Noé”. 

Ministério Das Comunicações/Flickr
Ministro das Comunicações, Fábio Faria durante evento com Elon Musk

Alguns fatos, entretanto, não dependem de versões. O primeiro é que seu Starlink não serve para o monitoramento ambiental, como deixou claro o cientista Ricardo Galvão, ex-presidente do INPE, que pediu demissão em função das pressões presidências contra a divulgação dos dados de desmatamento.

O segundo é que o sr. Musk é aquele que, perguntado sobre a relação entre o apoio estadunidense ao golpe da Bolívia e as enormes reservas de lítio, fundamentais para o desenvolvimento dos carros elétricos de sua empresa, respondeu sem titubear: “Sim, daremos golpes onde for necessário”.

Segundo Jânio de Freitas, em matéria na Folha, repercutida em vários veículos, a versão de uma intromissão de último hora de Bolsonaro numa reunião de empresários não se sustenta porque Fabio Faria teria sido um dos articuladores da vinda desde o início.

Se o sistema de satélites de Musk não serve para monitoramento ambiental, ele pode sim ser usado para prospecção das riquezas minerais da Amazônia, o que coincide plenamente com o projeto da atual cúpula militar para a região. 

Depois das declarações do presidente, acompanhado de ministros militares, de que os acordos estavam feitos sem maiores burocracias, uma coisa é certa: o homem mais rico do mundo, segundo a última atualização da Forbes, passa a ser mais um – e que um – a ter interesse pessoal e direto em evitar uma vitória de Lula.

Dinheiro e mídia não faltarão aos generais interessados em manter o capitão amigo de milicianos como seu boneco de ventríloquo.

A Amazônia, que havia sobrevivido às tentativas de ataque de Henry Ford, com sua Fordlândia nos anos 1920, e de Daniel Ludwig, com seu projeto Jari nos anos 1960, dificilmente resistirá ao ataque do tecnofeudalismo muskiano.

A preservação da maior floresta tropical do planeta, com seu papel crucial no equilíbrio climático e a sobrevivência do que resta das populações indígenas, dependem apenas da eleição de um candidato que tem contra si a grande mídia, o big Money brasuca, o alto oficialato militar e, para não deixar dúvida agora, o megacapital trumpista e suas maravilhosas máquinas de comunicação.

Jânio de Freitas conclui declarando saudades da Amazônia. A menos que não ocorra uma vitória épica em outubro, teremos saudades do Brasil.

(*) Carlos Ferreira Martins é Professor Titular do IAU-USP São Carlos.

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20 Minutos

Manuela d’Ávila: esquerda precisa se reconectar com a vida cotidiana do povo urgentemente

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Para ex-deputada, setores progressistas negligenciam solidariedade no combate à fome e deixam espaço aberto para extrema direita; veja vídeo na íntegra

Pedro Alexandre Sanches

São Paulo (Brasil)
2022-07-06T20:48:00.000Z

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A ex-deputada federal pelo Rio Grande do Sul, Manuela d’Ávila, afirmou, no programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (06/07), que setores progressistas brasileiros se afastaram da esfera pública tanto no mundo virtual como no real e, portanto, se desconectaram da vida cotidiana da maioria do povo.

"Muitos de nós resistimos a iniciativas de solidariedade prática, como quem diz que é assistencialismo, mas são espaços de articulação de saídas para o dia a dia do povo”, disse a ex-parlamentar filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), defendendo uma adoção imediata de ações emergenciais para o combate à fome na base da população brasileira.

Para d'Ávila, o período da pandemia evidenciou ainda mais essa ausência de articulação e de atuação prática. “Como não tivemos um grito unificado em defesa das cozinhas das escolas públicas abertas produzindo alimento para o povo? Não tem explicação para isso”, diz, acrescentando que tais espaços vagos, como já vinha acontecendo, acabaram preenchidos por comunidades de base como as reunidas em torno de igrejas evangélicas.


A partir da institucionalização que acomodou os governos progressistas de 2003 a 2016, argumenta a comunista, a extrema direita avançou sobre os espaços deixados vagos e continuará forte quaisquer que sejam os resultados eleitorais de 2022. 

Em sua avaliação, o bolsonarismo está bem organizado e terá entre 15% e 25% do Congresso Nacional. Nesse sentido, ela ainda faz um alerta para uma das consequências graves do processo de afastamento entre governos progressistas e a massa da população. “Só vamos ter a interrupção do bolsonarismo porque Lula resgatou seus direitos políticos e, no alto de seus 76 anos, topou disputar a eleição. Se não fosse ele, nós não teríamos força para derrotar esse grupo”, opina.  

Manuela, que foi candidata a vice-presidenta da República em 2018 na chapa de Fernando Haddad, identifica os “feixes de luz” que despontaram na “escuridão severa” pós-2014: estão representados pela juventude que se manteve na rua, pelas mulheres mobilizadas a partir da construção do golpe contra Dilma Rousseff e pelos negros e negras que constituem a base trabalhadora do país e se expressam em bancadas antirracistas em diversas instâncias legislativas. 

Quanto à questão religiosa, D’Ávila combate a ideia de um “sujeito universal” evangélico, difundida habitualmente à esquerda, e diz não reconhecer uniformidade na população neopentecostal. “Na primeira vez que fui a um templo desses, o que me impactou foi a autoestima das mulheres negras superexploradas no trabalho, vítimas de violência, que chegam ali e celebram, cantam, se arrumam”, declara. De modo análogo, ela questiona a uniformização corrente da “classe operária” ou “classe trabalhadora” na compreensão da desigualdade brasileira.

flickr/PCdoBnaCamara
'A esquerda tem que enfrentar a desigualdade, e no Brasil igualdade sem recorte de raça e de gênero não existe', diz Manuela d'Ávila

A ex-deputada, que se afirma marxista, rejeita a avaliação de que suas posições políticas sejam “identitaristas”: “quem são os trabalhadores mais explorados do nosso país? Falar em negros e negras é falar de trabalho precarizado”. A rejeição ao “identitarismo" seria então, segundo ela, a reafirmação de uma determinada identidade, do homem branco em posição de poder. 

"Não sei que sujeito universal é esse que fica revoltado quando falo que existe uma estrutura de poder que privilegia determinadas pessoas em determinadas posições”, afirma.

Entre esses elementos concretos, cita a diferença salarial entre homens brancos e mulheres negras em cargos e posições iguais, a população carcerária majoritariamente negra, a ausência de pensadores negros na bibliografia acadêmica nacional e o próprio passado brasileiro. 

"Tivemos cinco milhões dos 10 milhões de mulheres e homens escravizados na África. Se nós, marxistas, não colocarmos isso no centro da nossa formação estamos olhando para o lugar errado. Tem a ver com certo tipo de pensamento muito eurocentrado, que desconecta o debate da nossa realidade concreta”, argumenta.

Esse conjunto de dados tem implicação direta no dia a dia político, em sua avaliação: "Tem servido apenas para não percebermos o que o povo já percebeu, que sua representação política precisa ser mais plural e estar mais conectada com a classe trabalhadora. E, surpresa, a classe trabalhadora no Brasil tem negros e tem mulheres, e isso não é sobre identidade, é sobre desigualdade. Vocês acharam que estavam na Suécia e não estão”. 

Manuela d’Ávila explica também as razões pelas quais tende a não participar da disputa eleitoral neste ano, ligadas à necessidade de buscar a unidade política mais ampla possível para derrotar o bolsonarismo no Brasil e no Rio Grande do Sul. Em seu estado natal, o objetivo da “reconstrução de relação” seria evitar o que aconteceu nas duas eleições mais recentes, quando o segundo turno foi ocupado por uma alternativa de extrema direita e outra da direita neoliberal. 

Mas também contempla na decisão o que outros chamariam de “identitarismo" e ela entende como fator primordial para o avanço progressista: “Minhas candidatas a deputada federal e estadual vêm da bancada antirracista de Porto Alegre. Não é valorizar identidade em detrimento de projeto político. A esquerda tem que enfrentar a desigualdade, e no Brasil igualdade sem recorte de raça e de gênero não existe”. 

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