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Opinião

Amazônia ou o fim dos tempos

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Desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale Javari reforça a imagem negativa do governo brasileiro no que diz respeito ao meio ambiente

Carlos Ferreira Martins

São Carlos (Brasil)
2022-06-15T15:30:00.000Z

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Nos anos 60 e 70, a Amazônia era tratada como “Inferno Verde”, para justificar a estratégia dos militares de “ocupação” com o objetivo de “desbravar” o “desconhecido” e “incorporá-lo à vida do país.”

A motivação declarada era a necessidade de defender o vasto território de interesses estrangeiros, mas as riquezas do subsolo já motivavam incursões devastadoras como, nos anos 80, Serra Pelada, o maior garimpo de ouro a céu aberto do planeta.

Tentava-se reeditar a epopeia de Brasília, em que o cerrado do Planalto Central era considerado, até por intelectuais de esquerda, como um “vazio a ocupar”. Mas uma diferença fundamental é que, no final dos anos 50 e começo dos 60, isso implicou um reconhecimento da existência de populações indígenas que impactou tanto as políticas públicas quanto o imaginário nacional. 

Daí resultou a criação do primeira reserva indígena do país, o Parque Nacional do Xingu, em 1961. Apesar das críticas por significar uma remoção forçada de povos de seus territórios originários, sua concepção envolveu personagens progressistas fundamentais na política e na cultura do período. 

Os irmãos Villas Boas se transformaram nas figuras dos sertanistas modernos por antonomásia, como herdeiros da tradição humanista de Rondon, com quem trabalharam nos anos 40.

Seu percurso foi da percepção do indígena como entrave ao progresso para o seu reconhecimento como portador de visão de mundo e conhecimento próprios, a ser preservado do processo de aculturação e assimilação, o que os aproximou de outra figura crucial para a cultura e a política brasileiras, o antropólogo e educador Darcy Ribeiro, com quem compartilharam as iniciativas pela criação do Parque. 

No clima político dos anos 60, o Xingu representava, no imaginário progressista, a possibilidade de reconciliação do Brasil com suas origens, emblematicamente expressa no romance Quarup, de Antônio Callado.

Este excurso por décadas outras, tão próximas e tão distantes, vem a propósito de dois eventos, de sentido e repercussão opostos, cuja simultaneidade exacerba os contrastes a que a Amazônia parece condenada. 

O desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips na região do Vale Javari, um dos territórios com maior concentração de grupos não contatados, atraiu a atenção da mídia internacional, reforçando a imagem negativa do governo brasileiro no que diz respeito ao meio ambiente em geral e à Amazônia em particular. 

Iris Brasil/ Amazônia Real
Jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira desapareceram na região do Vale Javari

No momento em que escrevo ainda não há a confirmação oficial da identificação dos restos encontrados, mas a algaravia em torno das buscas – ou da sua ausência como ação organizada – assim como o fato de Bruno Pereira ter sido exonerado por denunciar a omissão da Funai na região, contribui para a imagem de culpa do governo federal, na melhor das hipóteses por omissão. 

No momento dessa tragédia soa premonitória a extraordinária exposição Amazônia, do fotógrafo Sebastião Salgado, que está no SESC Pompéia em São Paulo, depois de passar pela França, Itália e Inglaterra.

Resultado de sete anos de trabalho, com o apuro técnico e a forma de aproximação que caracteriza seu trabalho, a Amazônia de Salgado não é inferno nem paraíso. Expografia, ambiência musical e um extraordinário diálogo com o espaço concebido por Lina Bardi, potencializam o olhar de Salgado que nos joga no rosto e na alma uma Amazônia de dimensões cósmicas, com as magníficas fotos dos “rios no céu” ou da simbiose visual entre vegetação e água nos igarapés. 

A Amazônia que nos mostra Salgado é paisagem epopeica, mas é também o lar de povos variados nos costumes, nas línguas, nos adornos e vestimentas. Em comum, tem a consciência do pertencimento à floresta e a da ameaça genocida, expressa cristalinamente nos depoimentos em vídeo de caciques e xamãs. 

Na imprensa internacional ou nos depoimentos dos povos originários, todos os dedos e todas as bocas indicam um Jair Bolsonaro criminoso em escala planetária, genocida por ação e omissão.

Só não podemos esquecer que, na Amazônia ou no infame pedido de interferência do governo norte-americano nas eleições presidenciais, o tosco, o infame, o carente de empatia, o corrupto, é tudo isso, mas é também o representante de interesses muitos e poderosos, que vão das altas finanças a setores da magistratura, dos beneficiários dos orçamentos secretos à alta cúpula militar.

Ele só não conta com o apoio da maioria da população brasileira. Mas como perguntou certa vez Josef Stalin a propósito do Papa, quantas divisões militares tem a maioria da população brasileira?

(*) Carlos Ferreira Martins e professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos.

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Meio Ambiente

Desmatamento na Amazônia Legal é o maior em 15 anos, aponta Imazon

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De agosto de 2021 a julho de 2022 foi destruída uma área equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-17T22:12:00.000Z

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Nos últimos 12 meses, a Amazônia Legal teve o maior índice de desmatamento em 15 anos. De agosto de 2021 a julho de 2022, foram derrubados 10.781 quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo e 3% a mais do que nos 12 meses diretamente anteriores. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (17/08), são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

É a segunda vez consecutiva em que o desmatamento na região ultrapassa os 10 mil quilômetros quadrados no período. Somadas, as áreas destruídas nos últimos dois calendários (ou seja, de agosto a julho) chegaram a 21.257 quilômetros quadrados, quase o tamanho do estado do Sergipe.

Ao analisar apenas o desmatamento em 2022, o índice de destruição é ainda maior. No período de janeiro a julho, a área de floresta perdida cresceu 7% em relação a 2021, passando de 6.109 quilômetros quadrados para 6.528 quilômetros quadrados. Isso significa que, somente em 2022, a região já teve destruída uma área de aproximadamente cinco vezes a cidade do Rio de Janeiro. E esse também foi o maior desmatamento para o período dos últimos 15 anos.

"O aumento do desmatamento ameaça diretamente a vida dos povos e comunidades tradicionais e a manutenção da biodiversidade na Amazônia. Além de contribuir para a maior emissão de carbono em um período de crise climática. Relatórios da ONU já alertaram que, se não reduzirmos as emissões, fenômenos extremos como ondas de calor, secas e tempestades ficarão ainda mais frequentes e intensos. Isso causará graves perdas tanto no campo, gerando prejuízos para o agronegócio, quanto para as cidades", alerta Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

Pará no topo do ranking de desmatamento

Levando em conta o desmatamento ocorrido nos últimos 12 meses, 36% ocorreu apenas na região conhecida como Amacro, onde se concentram 32 municípios na divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia. Nessa área, há um processo de expansão do agronegócio, que derrubou quase 4 mil quilômetros de florestas entre agosto de 2021 e julho de 2022. A destruição na Amacro também atingiu o maior patamar dos últimos 15 anos para o período, com alta de 29%.

O Pará é o estado que mais desmata na Amazônia Legal. Nos últimos 12 meses, foram derrubados 3.858 quilômetros quadrados de floresta -  36% do destruído na Amazônia. A segunda maior área desmatada no período foi registrada no Amazonas: 2.738 km² (25%).

O que é a Amazônia Legal

A Amazônia Legal é um conceito criado ainda na década de 1950 para promover uma agenda de desenvolvimento para a região. Sua delimitação não é baseada exclusivamente na vegetação, mas inclui conceitos geopolíticos. Por isso que, além da Floresta Amazônica, há uma parte de Cerrado e do Pantanal em seu mapa.2:42

Segundo dados atualizados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a região tem uma área de 5,2 milhões de km², o que corresponde a 59% do território brasileiro. Ela engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,Tocantins e parte do Maranhão, onde vivem atualmente cerca de 28 milhões de habitantes.

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