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Um projeto de país que se esvai...

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Assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari e a escandalosa atitude das autoridades responsáveis pela área tornou difícil julgar quem é o campeão da hipocrisia e do escarnio

Carlos Ferreira Martins

São Carlos (Brasil)
2022-06-20T14:05:00.000Z

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O assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari, assim como a escandalosa atitude das autoridades responsáveis pela vigilância e segurança da área, tornou difícil julgar quem é o campeão da hipocrisia e do escarnio.

O ex-capitão no exercício da presidência voltou a exibir o já conhecido desdém pelo sofrimento alheio e a prática de culpar a vítima.

O Comando Militar da Amazônia sentiu prazer na desfaçatez de um papel timbrado em que afirmava ter todas as condições materiais e de pessoal para realizar a busca enquanto aguardava “ordens superiores”. Desnecessárias, porque o Javari é região de fronteira e o Exército tem aí poder de polícia.

A Polícia Federal, origem do atual presidente da FUNAI, demonstrou uma eficiência capaz de fazer inveja ao Mossad, à CIA e à extinta KGB, ao concluir, mal encontrados os corpos, em nota divulgada em 17/06, que a perseguição, assassinato, esquartejamento e cremação das duas vítimas foi “ato isolado e sem mandantes”.

A simples denúncia da indiferença das autoridades, assim como o justo reconhecimento do valor do sertanista e do jornalista, carregam o risco de servir aos interesses dos algozes, se não formos capazes de focar na dimensão estrutural do drama das terras indígenas, sufocadas entre o aparelhamento da FUNAI, a mineração e o crime organizado na região.

Como até a grande mídia divulga, Sérgio Moro exonerou Bruno Pereira, exatamente por denunciar a articulação entre o garimpo em terras indígenas, a pesca ilegal e o tráfico internacional de drogas e armas, sob o olhar míope, na melhor das hipóteses, da Funai e do Comando Militar da Amazônia.

O delegado Alexandre Saraiva, exonerado da chefia da Polícia Federal da Amazônia, após denunciar a associação entre o ex-ministro Ricardo “Boiada” Salles e o crime organizado na região, aponta a omissão do Exército e denuncia que o crime organizado tem muitos políticos da região “no bolso”. Ele dá nome aos bois, com perdão do trocadilho. Só não apura quem não tem interesse.

O jornalista Bob Fernandes nos relembra, em um vídeo de 18 minutos de informação rigorosa, que Bolsonaro não está no poder “apesar” dos generais, mas que são eles que estão no poder por meio de Bolsonaro. Vale buscar no YouTube.

Mas a compreensão aprofundada do que ocorre na Amazônia desde o governo Temer demanda a leitura do alentado relatório recém divulgado pelo Instituto Nacional de Indigenistas – INA – e pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC- intitulado Fundação Anti-indígena. Um retrato da FUNAI sob o governo Bolsonaro.

Flickr
Em nota divulgada em 17/06, Polícia Federal disse que o assassinato, esquartejamento e cremação de Pereira e Phillips foi “ato isolado"

Em 220 páginas de informação rigorosa, os autores mostram a montagem e aplicação progressiva e asfixiante do que chamam de assédio institucional, o processo de "destruição de políticas acionadas em nível federal no período 2019-22."

Essa prática, planejada e organizada, opera em três instancias fundamentais: a destruição institucional das agências; a asfixia orçamentária e a perseguição e desqualificação dos servidores de carreira. O mesmo que se faz com a cultura ou as universidades. Com a diferença significativa de que as universidades ou a produção cultural tem mais meios de protesto e acesso aos canais de informação.

Não há como resumir neste espaço as informações do relatório. Mas podemos citar que “das Coordenações Regionais da Funai, apenas duas contam com chefes titulares servidores do órgão, já tendo sido nomeados 17 militares, três policiais militares, dois policiais federais e seis profissionais sem vínculo anterior com a administração pública.”

Fica claro que Dom Phillips e Bruno Pereira não foram aleatoriamente assassinados por dois pescadores ilegais mas por um poderoso consórcio entre forças militares, autoridades políticas e crime organizado que está retomando o projeto militar dos anos 60 e 70 de “ocupar a Amazônia”, desmatando, exterminando os indígenas e extraindo as riquezas do subsolo.

Dom e Bruno serão apenas as mais recentes vítimas de uma política deliberada que já ceifou mais de 40 lideranças indígenas e indigenistas nos últimos 3 anos ou a comoção provocada pelo seu sacrifício poderá motivar alguma reação social efetiva?

Os servidores da FUNAI anunciam greve para a próxima quinta-feira, dia 23, pedindo a demissão do delegado da Polícia Federal que hoje dirige o órgão e a retomada dos objetivos institucionais do órgão.

Em breve saberemos se, a exemplo do resto do Estado brasileiro, a FUNAI ainda pode ser resgatada ou se o consórcio entre militares, políticos e crime organizado, com o apoio, ou no mínimo a omissão, do grande capital e da mídia corporativa já levou o assédio institucional a um ponto de não retorno.

O título desta coluna veio da introdução do relatório do INA/PESC. Alerta ou epitáfio?

(*) Carlos Ferreira Martins e professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos.

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Meio Ambiente

Desmatamento na Amazônia Legal é o maior em 15 anos, aponta Imazon

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De agosto de 2021 a julho de 2022 foi destruída uma área equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-17T22:12:00.000Z

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Nos últimos 12 meses, a Amazônia Legal teve o maior índice de desmatamento em 15 anos. De agosto de 2021 a julho de 2022, foram derrubados 10.781 quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo e 3% a mais do que nos 12 meses diretamente anteriores. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (17/08), são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

É a segunda vez consecutiva em que o desmatamento na região ultrapassa os 10 mil quilômetros quadrados no período. Somadas, as áreas destruídas nos últimos dois calendários (ou seja, de agosto a julho) chegaram a 21.257 quilômetros quadrados, quase o tamanho do estado do Sergipe.

Ao analisar apenas o desmatamento em 2022, o índice de destruição é ainda maior. No período de janeiro a julho, a área de floresta perdida cresceu 7% em relação a 2021, passando de 6.109 quilômetros quadrados para 6.528 quilômetros quadrados. Isso significa que, somente em 2022, a região já teve destruída uma área de aproximadamente cinco vezes a cidade do Rio de Janeiro. E esse também foi o maior desmatamento para o período dos últimos 15 anos.

"O aumento do desmatamento ameaça diretamente a vida dos povos e comunidades tradicionais e a manutenção da biodiversidade na Amazônia. Além de contribuir para a maior emissão de carbono em um período de crise climática. Relatórios da ONU já alertaram que, se não reduzirmos as emissões, fenômenos extremos como ondas de calor, secas e tempestades ficarão ainda mais frequentes e intensos. Isso causará graves perdas tanto no campo, gerando prejuízos para o agronegócio, quanto para as cidades", alerta Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

Pará no topo do ranking de desmatamento

Levando em conta o desmatamento ocorrido nos últimos 12 meses, 36% ocorreu apenas na região conhecida como Amacro, onde se concentram 32 municípios na divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia. Nessa área, há um processo de expansão do agronegócio, que derrubou quase 4 mil quilômetros de florestas entre agosto de 2021 e julho de 2022. A destruição na Amacro também atingiu o maior patamar dos últimos 15 anos para o período, com alta de 29%.

O Pará é o estado que mais desmata na Amazônia Legal. Nos últimos 12 meses, foram derrubados 3.858 quilômetros quadrados de floresta -  36% do destruído na Amazônia. A segunda maior área desmatada no período foi registrada no Amazonas: 2.738 km² (25%).

O que é a Amazônia Legal

A Amazônia Legal é um conceito criado ainda na década de 1950 para promover uma agenda de desenvolvimento para a região. Sua delimitação não é baseada exclusivamente na vegetação, mas inclui conceitos geopolíticos. Por isso que, além da Floresta Amazônica, há uma parte de Cerrado e do Pantanal em seu mapa.2:42

Segundo dados atualizados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a região tem uma área de 5,2 milhões de km², o que corresponde a 59% do território brasileiro. Ela engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,Tocantins e parte do Maranhão, onde vivem atualmente cerca de 28 milhões de habitantes.

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