Segunda-feira, 21 de abril de 2025
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Enquanto o mundo se reunia em Paris para o AI Summit no último fevereiro – evento que se propôs a debater os limites para exploração do potencial transformador da inteligência artificial –, uma inovação revolucionária está silenciosamente remodelando o cenário digital da África. O LugandaGPT, um modelo de linguagem alimentado por IA, está tornando o conteúdo digital mais acessível a milhões de falantes não ingleses ao oferecer suporte a línguas indígenas.

Durante anos, as barreiras linguísticas limitaram o acesso à tecnologia, aos negócios e à educação em toda a África. Com a maioria do conteúdo online disponível em inglês ou em outras línguas globais dominantes, muitos empreendedores, estudantes e pequenas empresas africanas têm lutado para participar mais amplamente da economia digital. O LugandaGPT e soluções semelhantes baseadas em IA estão mudando essa narrativa ao permitir tradução e comunicação perfeitas em línguas locais.

Um garoto lê um quadro negro durante uma aula de inglês na Somália, no Centro Hawa Abdi. (Foto: AU UN IST / Tobin Jones)
Um garoto lê um quadro negro durante uma aula de inglês na Somália, no Centro Hawa Abdi.
(Foto: AU UN IST / Tobin Jones)

O continente berço da humanidade reúne 54 países e fala mais de mil línguas. Ao falarmos de fronteiras físicas, geralmente não lembramos das fronteiras que separam África a nível simbólico, e apesar de defendermos uma união, a diversidade linguística pode apresentar um desafio especial. O vasto potencial de negócios dos modelos de IA adaptados para línguas africanas, particularmente em um continente onde pequenas e médias empresas impulsionam o crescimento econômico, demonstra como o continente africano pode mais uma vez representar o avanço tecnológico.

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Em uma conquista inovadora para a inteligência artificial, Felix Kitaka, um desenvolvedor de software e consultor de Uganda, também conhecido como Mutambuze, apresentou ao mundo o LugandaGPT, um assistente de voz capaz de conversar em luganda, uma das línguas mais faladas em Uganda.

Como o sociólogo Pierre Bourdieu uma vez afirmou, o que ele chama de capital cultural é um entrave no desenvolvimento da educação como um todo. A falta de acesso a conteúdos virtuais devido à profusão da língua inglesa sempre apresentou um entrave na comunicação digital de milhões de africanos educados e alfabetizados em suas línguas locais. Para citar outro importante pensador podemos trazer Stuart Hall, que afirma que o processo de globalização tem duas características distintas: uma local e outra global. Os globalismos são sempre pensados a partir da perspectiva hegemônica. 

A inovação do LugandaGPT é um marco significativo, não apenas para Uganda, mas também para a IA global, pois preenche lacunas linguísticas no espaço digital e destaca o potencial da tecnologia para preservar e promover o patrimônio cultural. 

(*) João Raphael (Afroliterato) é escritor, professor e mestre em educação pela UFRJ. É apresentador do programa “E aí, professor?” do Canal Futura.