Quarta-feira, 14 de maio de 2025
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua tumultuando a economia global – sobretudo a de seu país – e desafiando a independência de poderes, instituições e nações. Esta semana, ele foi mais uma vez obrigado a retroceder e baixar o tom da sua guerra comercial. Mas há sinais de que os investidores estão começando a preferir lugares com regras menos instáveis.

Seus insistentes ataques e ameaças de demitir o presidente do Federal Reserve (Fed) por ele se negar a baixar as taxas de juros, derrubaram na segunda-feira (21/04) não só as bolsas norte-americanas, como o dólar. A independência do Fed é considerada sagrada por Wall Street.

Já na terça-feira (22/04), o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que a guerra comercial reduzirá o crescimento global em cerca de US$ 1 trilhão, que terá impacto de longo prazo e que ameaça a estabilidade financeira global. No dia seguinte, o secretário do Tesouro norte-americano defendeu que as missões do FMI e do Banco Mundial deveriam passar por profundas reformas.

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Ao longo da semana, como na anterior, o rendimento dos títulos da dívida pública dos Estados Unidos caiu ligeiramente. Analistas avaliam que a queda simultânea das ações, do dólar e dos títulos é sinal claro de fuga de investidores do país. A tendência já ganhou, até o nome de “negociação de venda da América”, diz o jornal britânico Guardian.

Diante das reações negativas, ainda na terça-feira, Trump mais uma vez retrocedeu e anunciou que reduziria substancialmente as tarifas contra a China e que não demitiria o presidente do Federal Reserve. As bolsas se recuperaram.

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Blefe desmentido

Entusiasmado com o poder de suas palavras, na quarta-feira (23/04), ele acrescentou que estava negociando com os chineses, com quem conversa “todos os dias”. No dia seguinte, porém, ele foi categoricamente desmentido por Pequim. O governo chinês garantiu não haver atualmente qualquer negociação em andamento entre os dois governos.

Prosseguiu também a chantagem financeira de Trump para calar os críticos e tentar impor um discurso único na sociedade norte-americana. É o caso do congelamento de verbas e subsídios federais para universidades onde ocorrem protestos pró-Palestina, para organizações da sociedade civil que o criticam e para governos estaduais que se negam a colaborar com a política de perseguição aos imigrantes.

Esta semana, no entanto, a Associação de Advogados e a Universidade de Harvard entraram na Justiça contra o congelamento. No caso de Harvard, a suspensão dos repasses foi por ter se negado a submeter sua seleção de alunos e de professores à aprovação do governo federal, que exige informes de posicionamento político de vários deles.

150 universidades se articulam

Além disso, 150 reitores assinaram um documento contra a intervenção federal nas instituições de ensino federal. Apesar disso, a maioria das universidades vem aceitando fazer muitas concessões às pressões de Trump.

Mesmo Harvard já fez demissões por pressões e, quinta-feira (24/04), a Universidade Coernell cancelou um concerto da cantora R&B Kehlani, por ela ter dito publicamente “Viva a Intifada”. A diversidade de opiniões está proibida no país que se advoga “a terra da liberdade”.

Também na quinta-feira, a guerra de Trump contra as políticas de igualdade chegou ao cúmulo de cancelar um projeto de tratamento de esgoto bruto em área residencial do Alabama. O projeto se destinava a um bairro pobre, de maioria negra, e isso bastou para considerá-lo parte das políticas de diversidade, equidade e inclusão, que o governo decretou ilegais.

O meio ambiente também esteve na mira, com a assinatura de decretos que simplificam e aceleram o licenciamento de projetos relacionados à combustíveis fósseis e à mineração em águas internacionais profundas.

Enquanto as pesquisas mostram que a aprovação do presidente cai lentamente – de 52% para 45% em três meses – Trump aposta em ganhar novos aliados entre os bilionários. Ee ofereceu um jantar aos 220 maiores investidores da $TRUMP, sua principal criptomoeda. Segundo o New York Times, o convite “é, na prática, uma oferta de acesso à Casa Branca em troca de investimento em suas moedas virtuais”.

Prisão de juíza

Também se manteve a guerra à imigração, as disputas legais e os desafios à Justiça. Trump pede à Suprema Corte que restabeleça a proibição de tropas transgênero nas Forças Armadas após a proibição ter sido suspensa por vários tribunais.

Mas foi na sexta-feira (25/04) que os desafios do governo federal à Justiça dos Estados Unidos atingiram patamares inéditos. Nesse dia, o FBI prendeu uma juíza sob a acusação de obstruir a prisão de um imigrante mexicano acusado de três agressões leves.

Segundo o diretor do FBI, juíza Hannah Dugan, de Milwaukee, teria escoltado o imigrante para sair de seu tribunal pela porta lateral do júri a fim de evitar sua prisão pelos agentes federais do país. Ela foi liberada em custódia no mesmo dia, mas a demonstração de força estava feita. A guerra judicial, em todas as frentes, está longe de terminar.