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Leia também o não: Migrar é um direito humano
Estados devem restringir a entrada de imigrantes por motivos econômicos?
SIM
De uma perspectiva econômica, a migração internacional de trabalhadores cria ganhadores e perdedores, pelo menos no curto prazo. Os maiores beneficiários da migração de trabalhadores são os migrantes e seus empregadores no país que os acolhe. Os perdedores são os trabalhadores residentes (incluindo os migrantes já existentes) que estão competindo com novos migrantes no mercado de trabalho.
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O emprego no exterior permite que os migrantes ganhem salários muito mais altos do que eles conseguiriam obter nos seus próprios países. Por essa razão, liberar a migração [de trabalhadores] pouco qualificados para países de maior renda poderia levar facilmente a maiores ganhos em renda e desenvolvimento humano. O Banco Mundial, por exemplo, acredita que uma maior migração internacional laboral é uma das maneiras mais eficientes de aumentar a renda dos trabalhadores em países de baixa renda.
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Empregadores se beneficiam da migração porque ela permite que eles tenham um leque maior de trabalhadores para contratar, que são mais bem qualificados que os residentes e/ou aceitam trabalhar recebendo salários menores. Os migrantes geralmente aceitam trabalhar por salários e em condições que são inaceitáveis para os trabalhadores residentes, portanto, a migração reduz a necessidade de os empregadores aumentarem os salários e melhorarem as condições de trabalho, especialmente em ocupações de baixo nível técnico.
Wikicommons
Moradores de Santa Cruz na California, protestam contra o tratamento legal de imigrantes
Mas o que é melhor para os empregadores não é sempre o melhor para a economia do país como um todo. No curto prazo, a migração pode pressionar os salários e as perspectivas de emprego dos trabalhadores residentes que têm nível de qualificação semelhante ao dos migrantes e têm de competir com os migrantes por empregos.
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No Reino Unido, por exemplo, pesquisas mostraram que a migração aumenta o salário dos trabalhadores com vencimentos mais altos, mas diminui os salários dos trabalhadores de salários mais baixos. No longo prazo, a migração pode levar a um aumento na demanda de trabalho que pode ajudar a reverter alguns dos efeitos negativos iniciais sobre o salário. Mas não há dúvida de que, no curto prazo, os salários e as perspectivas de emprego de alguns trabalhadores no país de acolhida (principalmente os de baixa renda) podem ser prejudicados.
O dilema é que um aumento da migração de trabalhadores de baixo nível técnico – o tipo de migração que é atualmente mais restrito – poderia ajudar a diminuir a inequidade salarial entre países, mas poderia também aumentar a inequidade salarial dentro dos países acolhedores. A mensagem básica é que a migração laboral internacional envolve compensações.
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Então, deveriam os países restringirem a migração de trabalhadores? Essa é uma questão normativa que não tem resposta correta. Tudo depende dos interesses que você tem em mente. Empregadores em países de alta renda e trabalhadores de baixa qualificação em países de baixa renda se beneficiariam muito de haver menos restrições, ou nenhuma restrição. Mas os trabalhadores residentes nos países de maior renda seriam prejudicados, uma vez que seus salários e condições de trabalho não seriam mais protegidos da competição global.
Reprodução/ Event Wave Cast Pro
Martin Ruhs é professor-associado de Economia Política da Universidade de Oxford
O meu próprio ponto de partida para essa avaliação é “cosmopolita”, no sentido de que eu acredito que as políticas de imigração deveriam levar em contas os interesses dos migrantes e dos países que os enviam, em vez de serem apenas baseadas nos interesses dos cidadãos do país acolhedor. Mas eu também tenho uma “abordagem pragmática” que aceita algumas realidades, incluindo a necessidade dos países desenharem suas políticas de tal forma que deem pelo menos alguma prioridade aos interesses dos cidadãos (ou, pelo menos, dos residentes existentes), em relação às pessoas de outros países.
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Eu sou contra fronteiras abertas por causa de seus efeitos adversos sobre os trabalhadores de baixa renda nos países de alta renda, o que poderia, por sua vez, levar a um retrocesso social e político. Entretanto, eu sou a favor de aumentar significantemente a migração de trabalhadores de baixa qualificação de países de baixa renda para países de alta renda por meio de programas cuidadosamente administrados de migração, que admitam os migrantes em setores e ocupações específicas e por um período de tempo limitado.
A concepção de Programas de Migração Temporária (TMPs, por sua sigla em inglês) efetivos envolve muitos desafios, mas os TMPs são a única forma realista de liberar políticas de migração de trabalhadores de baixa qualificação em países de alta renda.
Uma política de “fronteiras totalmente abertas” para os trabalhadores migrantes pode ser desejável dentro de alguns quadros normativos, mas, é provável, que termine tendo efeitos contraproducentes na prática.
Martin Ruhs, professor-associado de Economia Política da Universidade de Oxford, é autor do livro The Price of Rights: Regulating International Labor Migration (Princeton University Press 2013)
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