Sexta-feira, 4 de julho de 2025
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Recentemente, Tony Blair confessou em uma entrevista na televisão que a
decisão de participar da guerra contra o Iraque não estava relacionada
a armas de destruição em massa. Ele disse: “Obviamente, você teria tido
de usar e implantar diferentes argumentos sobre a natureza da ameaça”
representada pelo regime iraquiano.

Assim, a guerra teria sido decidida. As justificativas não tinham
importância, exceto pelo ponto no qual eles conseguiram convencer o
sistema, o Parlamento. A opinião pública, enquanto isso, não tinha
valor. Milhões de manifestações anti-guerra tomaram as ruas de Londres
e de outras capitais europeias com palavras de ordem que não faziam eco
nos ouvidos das autoridades. Os tambores da guerra eram muito mais
altos. Seus sons vinham da profunda crença religiosa. O defensor ouvia
apenas o som da verdade (a voz de Bush). Ele não deu atenção a assuntos
como o assassinato de milhões, seus desalojados ou a destruição de seu
país. O terror depende da convicção desta dimensão religiosa, que
justifique a explosão de civis e pessoal de segurança para a salvação,
no sentido piedoso do termo?

Esta análise confirma que a suposta ameaça representada pelo regime
de Saddam Hussein aos vizinhos e ao resto do mundo foi a pior mentira
da máquina de propaganda de guerra. Depois de 13 anos de sanções, a
separação do norte do país em Bagdá, o desenvolvimento de armas no
Golfo, permitindo que o Irã recuperasse seu arsenal,  com a Turquia na
Otan e, o mais importante, o fato de Israel possuir armas nucleares –
depois de tudo isso, o Iraque tornou-se mais fraco na região neste
período, e a ameaça menos perigosa para a paz regional e internacional.

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O objetivo da guerra não é livrar-se das armas de destruição em
massa, porque elas não existem, como afirmaram investigadores
internacionais de armas antes da invasão. Blair, para não dizer o
presidente George Bush, sabia disso.

De qualquer modo, Blair se defendeu antes da guerra, afirmando que
Saddam Hussein poderia evitar uma guerra se ele recuasse (no que?) e
aderisse às resoluções internacionais. Blair estava mentindo. A guerra
foi iniciada sem a aprovação das Nações Unidas, com quaisquer
“combatentes” que aparecessem, nos moldes de Silvio Berlusconi, Jose
Maria Aznar e outros líderes do leste europeu, o que foi chamado de
coalizão dos dispostos.

A mentira de Blair foi descoberta muito antes de suas recentes
declarações. Suas mentiras foram descobertas quando o ex-secretário de
Estado norte-americano Colin Powell (o que poderia um combatente de cor
fazer em meio a oficiais e generais brancos?) declarou que ele nunca
havia sido tão constrangido como quando recebeu a incumbência de
promover a mentira sobre armas de destruição em massa ao Conselho de
Segurança da ONU, quando a razão para invadir o Iraque mudou de
livrar-se destas armas para derrubar o regime. 

Novas guerras

Blair reconheceu sua mentira. De qualquer modo, ele não se
arrependeu dela. Ele disse que o mundo estava muito mais seguro depois
que Saddam Hussein foi deposto. Ele ainda está profundamente
interessado em promover a morte e o terror. Depois da guerra no Iraque,
Israel iniciou uma guerra contra o Líbano e outra contra Gaza, enquanto
Blair foi o chefe do Quarteto internacional. Nós não ouvimos dele
nenhuma condenação de guerra. Depois da invasão, o Iraque se afogou no
sangue de seu povo, que foi morto pelos fiéis de ambos os lados.

Blair vai repetir suas declarações diante do comitê de investigação
sobre as razões para a participação britânica na guerra (o Chilcot
Inquiry). Ele estará mais auto-confiante porque o chefe dos
investigadores internacionais, Hans Blix, não foi convocado, e não tem
o poder de julgar. O comitê foi formado para tirar conclusões para o
futuro – o futuro de instituições britânicas, e não o futuro do Iraque
ou de qualquer país em que as pessoas estejam sujeitas à extinção. 

Artigo originalmente publicado no site Dar Al Hayat.

Blair, a guerra e novas mentiras

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