Dois grandes
Em 2024, Brasil e China comemoraram 50 anos de relações diplomáticas. Como os frutos foram notáveis e crescentes em diferentes campos, em 2012 essa relação foi elevada ao nível de Parceria Estratégica Global, aprofundando assim os laços econômicos e políticos entre as duas nações e ganhando especial influência nos BRICS.
Atualmente, a China é a maior economia do sul global e o Brasil é a terceira maior. Desde 2009, o Brasil tem sido o principal parceiro comercial da China na América Latina e, ao mesmo tempo, a China é o principal parceiro comercial do Brasil no mundo.
Ambos os países administram, à sua maneira, seu impacto particular no BRICS, já com dez membros e 48% da população mundial, ocupando 35% do território do planeta. Eles respondem por 37% do PIB global e 28% do comércio global. O bloco também possui poderosos mecanismos de financiamento, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e o Arranjo Contingente de Reservas (CRA).
Nesse bloco global, o Brasil tem um PIB de US$ 2,1 trilhões (FMI, 2023) e ocupa a 9ª posição no ranking das maiores economias do mundo e a 1ª na América Latina. Sua renda per capita é de US$ 10.650, em uma população de 203 milhões de habitantes (IBGE, 2022). Sua dívida externa é equivalente a 84,7% do PIB (2023), uma das mais baixas entre os países mais poderosos do mundo, e é o quinto maior destino de Investimento Estrangeiro Direto (IED) do mundo.
E a China é a segunda maior economia do mundo, com um PIB de US$ 17,7 trilhões. Sua renda per capita é de US$ 12.514 em 2023, com uma população de mais de 1,4 bilhão. É o segundo maior destino de IED do mundo.
Desde 2013, tem desempenhado um papel central no comércio internacional e está integrada às principais cadeias de valor regionais e globais. Em 2023, o comércio chinês atingiu US$ 5,9 trilhões (excluindo Hong Kong, cujo comércio é superior a US$ 1,25 trilhão), enquanto os EUA alcançaram US$ 5,2 trilhões. O superávit comercial da China foi de mais de US$ 829,4 bilhões, o maior do mundo, seguido de longe pela Alemanha, com US$ 232,6 bilhões. O comércio internacional da China é uma importante fonte de divisas.
Apesar das enormes assimetrias entre os dois países, sua complementaridade na arena internacional é inegável. A China continuará a ser o principal parceiro comercial do Brasil por muito tempo. rasilbbb
Comércio bilateral
O Brasil lidera as exportações da América Latina para a China, atingindo um recorde de US$ 480 bilhões entre 2019 e 2023. Os principais produtos exportados são: soja (35%), minério de ferro (20%), petróleo (19%) e carne bovina (9%), que representam mais de 72% do total das exportações da América Latina para a China. Nesse período, o Brasil obteve um superávit comercial de US$ 69 bilhões.
Somente em 2023, o comércio bilateral faturou US$ 157,5 mil milhões, com um superávit de US$ 51,2 mil milhões em favor do Brasil, representando quase 52% do superávit comercial total brasileiro. O comércio é, como no caso chinês, uma importante fonte de divisas para o país.
Neste ano, o Brasil exportou US$ 104 bilhões para a China (27% do total das exportações brasileiras para o mundo), um valor muito superior ao valor das mercadorias exportadas para os EUA e a UE (24% e 15,8%, respectivamente). A soja, o petróleo e o minério de ferro, commodities, mantêm sua preeminência na cesta de exportação, representando 75% das exportações do país. Os principais estados fornecedores são Rio de Janeiro (petróleo), Minas Gerais (ferro), Mato Grosso (soja), São Paulo (produtos manufaturados) e Pará (petróleo, soja), nessa ordem, concentrando mais de 66% das exportações para a China.
Do valor total das exportações para a China, 37,3% correspondem à soja, 19,7% ao petróleo bruto ou minerais betuminosos e 18,9% ao minério de ferro e seus derivados. Essa situação cria um cenário de dependência do mercado chinês que, se persistir, pode se tornar um fator de impacto nada sutil na economia brasileira.
Por sua vez, a China se tornou o principal fornecedor de produtos de alto valor agregado do Brasil. Em forte contraste com suas exportações, as importações brasileiras da China são diversificadas e consistem em produtos manufaturados e semimanufaturados, muitos deles com alto grau de sofisticação tecnológica e alto valor agregado, como smartphones, máquinas e equipamentos. O impacto dessas importações na produção doméstica, que costumava abastecer o mercado interno, não demorou a chegar. Muitas fábricas, principalmente nos setores automotivo e farmacêutico, fecharam e outras estão tendo dificuldade de se sustentar no mercado enquanto houver um elemento de dumping dos produtos chineses.
Em 2023, o Brasil importou US$ 53,2 bilhões em mercadorias da China, o equivalente a 22,1% do total de importações do país. Dos EUA, mantendo uma tendência de queda, importou o equivalente a 15,2%. Entre 2019 e 2023, as importações totais do Brasil cresceram a uma taxa de 6,7%, enquanto as importações de origem chinesa cresceram 10,2%, fato que evidencia uma dependência duradoura dos produtos chineses.
Tal é a dinâmica do comércio bilateral que, apesar da relutância do Brasil em aderir à Iniciativa do Cinturão e Rota, o projeto “Rota da Seda Amazônica” foi colocado em pauta no Pará. Em nosso próximo artigo, detalharemos esse tema e o IED da China no Brasil.
(*) Nilo Meza é economista e cientista político peruano.