De certa forma, Paul Ryan é exatamente quem o presidente Barack Obama queria do lado republicano com Mitt Romney. Ao selecionar o congressista republicano de Wisconsin, cujo nome é sinônimo de “cortar-impostos-para-ricos” e “cortar-programas-para-classe-média-e-pobres”, Romney ajudou Obama em sua missão número 1: moldar as eleições não como um referendo quanto ao ritmo lento da economia, mas como um forte choque entre um conjunto de valores e programas opostos para o futuro.
Desde que o registro dos democratas foi limpo pelos republicanos do Tea Party nas eleições de meados de 2010, Obama perseguiu a grande estratégia política de configurar sua disputa eleitoral como uma escolha entre visões radicalmente diferentes. Muito antes de Romney ter vencido os anões do pacote republicano, Obama começou a usar a proposta de orçamento de Ryan como o principal fracasso. Em abril de 2011, ele fez um discurso na George Washington University que foi uma crítica ferrenha ao plano de orçamento de Ryan, que acabaria com o programa de seguro social de saúde (Medicare) como um benefício garantido e implementaria mais isenções fiscais do que George W. Bush poderia imaginar. Ryan, que presenciou o discurso, foi insultado e imediatamente criticou o presidente.
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Ao longo das batalhas sobre cortes de orçamento em 2011 (que quase causaram uma paralisação no governo) e o limite do teto da dívida (o que quase causou uma crise financeira), Obama continuou a apontar o orçamento de Ryan como um plano que causaria sofrimento para muitas pessoas e refletiu uma visão pessimista e Darwiniana dos republicanos sobre um futuro no qual os Estados Unidos não conseguirão investir em educação, infraestrutura e inovação – ingredientes necessários para uma economia forte que apoiaria uma classe média vibrante. Enquanto os republicanos prezavam pela liberdade individual e pelos poderes do mercado (que não funcionaram muito bem até a crise de 2008) e, uma vez mais, apregoaram a teologia do corte de taxas para o lado da oferta, Obama enfatizou a ação comunitária, investimentos prudentes e um responsável corte do déficit.
O orçamento de Ryan permitiu que Obama fizesse tudo aquilo. A presença de Ryan entre os republicanos fará o mesmo.
Agora, Romney detém o orçamento de Ryan – e a visão de Ryan: cortes de gastos governamentais draconianos que sujeitarão os beneficiários dos programas Medicare e Medicaid aos caprichos do mercado (e dilacerar outros programas governamentais, tais como inspeções de segurança alimentar, a aplicação da lei, e proteção ambiental) e mais taxas para o 1% da população.
A escolha pode dar a Romney um momento de força. Ryan é um homem branco, mas não um homem branco entendiante, sem mensagem para transmitir. Ele é um excêntrico evangelista de extrema-direita na política econômica. Mas este movimento vai permitir a Obama outra estratégia de ataque a Romney—um ataque que consumirá bastante oxigênio político. Em vez de falar de economia, Romney quer discutir detalhes do plano de Ryan? Aparentemente, sim.
Mais importante, esta escolha mostra que Romney, o uma vez moderado governador republicano do estado azul, está marchando em sintonia com o desfile do Tea Party, e não apenas aceitou como abraçou a guinada de seu partido até o final do espectro ideológico. Este é exatamente o tipo de comportamento que Obama esperava por parte dos republicanos.
A sabedoria convencional mostra que os candidatos a vice-presidência pouco importam. Isto é amplamente verdadeiro (e Sarah Palin talvez seja uma notável exceção). Contudo, A escolha de Romney por Ryan — o que a campanha de Romney chama de “A equipe norte-americana que voltou” — dá ao presidente a oportunidade de respaldar sua mensagem de uma visão diferente. Chicago não pode ficar descontente em relação a isso.
ATUALIZAÇÃO: Na manhã de sábado (11/08), o coordenador da campanha de Obama, Jim Messina, disparou um e-mail respondendo à escolha de Ryan para vice-presidente. “Esta eleição é sobre valores e, hoje, Romney retrocedeu em seu compromisso de levar o país de volta às políticas fracassadas do passado”, consta no comunicado.
* David Corn é chefe da redação da revista Mother Jones em Washington. Seus artigos (em inglês) podem ser lidos em http://motherjones.com/authors/david-corn.
Tradução: Daniella Cambaúva