O fracassado golpe fascista de 8 de janeiro de 2023 segue impune: apesar de algumas poucas dezenas de pessoas insignificantes estarem presas, nenhuma delas é um dos mandantes do alto escalão das Forças Armadas ou um grande empresário financiador da conspiração. O fato mais inaceitável é que o notório chefe da quadrilha, Jair Bolsonaro, continua livre e está em turnê pelo Brasil para anunciar seus candidatos fascistas nas eleições municipais.
No caso de São Paulo, importa pouco o teatro da extrema-direita sobre quem é o favorito do Bolsonaro para a prefeitura da cidade: o fundamental é que a base social fascista siga mobilizada, com ousadia para sair às ruas com as mais abjetas gritarias. Todos eles vêm de verde-e-amarelo, uns fazem o M, outros fazem o 15, mas de alguma forma, todos estão juntos neste 7 de setembro.
Não é nenhuma coincidência que na sexta-feira, véspera dos atos golpistas, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Caroline de Toni (PL-SC), tenha pautado para a próxima sessão o Projeto de Lei para anistiar os criminosos do 8 de janeiro. Para o deputado bolsonarista autor do projeto, essa medida é necessária pois “as manifestações foram legítimas e conduzidas espontaneamente por cidadãos indignados pela forma como se deu o processo eleitoral”. Vamos aos fatos que chama de “espontâneos”: mais de cem ônibus fretados por empresários (alguns garimpeiros, outros latifundiários, todos golpistas), nove tentativas de sabotagem a torres de linhas de transmissão de relevância estratégica para a matriz energética nacional, minuta do golpe redigida e discutida pelo ex-presidente junto aos generais e comandantes das FA, etc, etc…
Pois bem, também na sexta-feira, Bolsonaro esteve em Juiz de Fora (MG) fazendo campanha para um de seus candidatos e ameaçou: “vamos desafiar o sistema”. Ora, que sistema? O sistema que não analisou nenhum dos 153 pedidos de impeachment do ex-presidente? O sistema que o permitiu continuar governando mesmo quando foi responsável direto pela morte de mais de 300 mil pessoas pela Covid-19? Quando foi denunciado pelo superfaturamento na compra de vacinas? Quando foi responsável por um verdadeiro genocídio contra o povo Yanomami? Enfim, Bolsonaro quer desafiar o sistema que até hoje, mais de 600 dias depois, ainda não prendeu nenhum mandante do golpe?
O antissistema é o socialismo
O povo sente revolta contra as injustiças diárias, contra a escravidão assalariada e o sufoco do aluguel. A maioria não acredita que vivemos uma verdadeira democracia ou que temos direito de decidir sobre nosso futuro, os trabalhadores sabem que estão condenados a uma vida miserável para sustentar alguns parasitas bilionários. Mas os falsos messias, com inúmeros meios de comunicação em massa a seu dispor, sequestram esses sentimentos em benefício próprio.
O nosso maior desafio é desmontar a farsa e denunciar que todos são faces desse mesmo sistema, uns mais brandos e de aparência democrática, outros escancaradamente fascistas, violentos e sedentos por sangue.
Da nossa parte, não vale a pena vender gato por lebre, disseminando ilusões nas instituições feitas para os interesses dos de cima. O socialismo é a resposta para a revolta popular e precisamos dedicar todas as nossas energias para mostrar o caminho para uma outra sociedade, para o contrário desse sistema. Vivemos tempos de guerra, não de paz.
(*) Isis Mustafa é dirigente do partido Unidade Popular pelo Socialismo e 1ª vice-presidente da UNE.