O PSOL surpreende os comentaristas por ter conseguido a mobilização social de uma proposta que, pela ordem natural das coisas, tinha que ser do PT. Faz sentido. Estar no governo não parece ser estímulo criativo para partido que, na oposição classista, abalou o jogo político brasileiro por duas décadas.
Importante no fenômeno em que a proposta do vereador Rick Azevedo se transformou é observar que ela se impôs por começar a responder a uma questão que vem tensionando os que discutem o sujeito histórico das relações de produção geradas pela Revolução Digital em mãos do capital privado, na sequência da desestruturação estrutural produzida pela Globalização Fianceira, lá na passagem dos 70 para os 80 do século passado.
Quem ocupa na conjuntura atual o lugar do proletariado do chão da fábrica, jogado na uberização, na terceirização, na informalidade e no desalento desmobilizador? Quem é o agente do mundo do trabalho no confronto com os maganos do capital privado?
Sim, porque a despeito dos que, no bojo da vaga identitária que empolgou tendências moderadas da Esquerda e fez perder amplos espaços sociais para a extrema direita, em função do arrefecimento do rupturismo que era sua marca, fica provado um teorema.
Quando a questão social se impõe, a realidade atropela o autoritarismo do lugar de fala, e as caixinhas se dividem em função do tema totalizante. Esquerda e direita se explicitam por cima da ditadura “lugar de fala”. Pretos, feministas, gays se dividem em torno da polarização inevitável da opressão estrutural.
“A luta de classes existe, e nós a estamos vencendo”, não hesitou em afirmar Warren Buffet, um dos principais manipuladores dos mercados especulativos no planeta, em entrevista a TV americana. E, nesse confronto, etnia e orientação sexual não são as categorias determinantes.
Exemplo recente dessa constatação se deu no Brasil sem muita repercussão, a despeito de tudo o que se dá de cobertura ao menor movimento desse bizarro Nikolas, jovem nome de ponta da extrema direita no Congresso. Ele se viu surpreendido pelos seus fanáticos seguidores nas redes por não ter assinado o requerimento demandando instalação da PEC que proporia o fim do 6 x 1. E o que pode ser lido dessa reprimenda?
É que, mesmo as camadas populares que se orientam pelas fake news que a extrema direita opera, o rupturismo do “contra tudo isso que está aí”, sequestrado da Esquerda quando era, então, anticapitalista, não resiste à falácia nele embutida, de ser apenas contra a ditadura do “politicamente correto” rejeitado por essas camadas populares.
Diante da realidade concreta, Nikolas agiu como agente dos inimigos, dos opressores que se colocam contra a luta de “Vida para Além do Trabalho”. Essa massa, quando empregada, é a principal vitima do 6 x 1.
E Rick Azevedo é um deles. Capturou, por isso, a reivindicação classista que, mesmo inconscientemente, existe de forma espontânea nos segmentos oprimidos. Segmentos que necessitam, na incapacidade cognitiva de gerar por si a teoria da prática emancipadora, que alguém informado – o militante de vanguarda do partido político – o aporte.
É claro que tal proposta levante resistências dos maganos do grande capital. Desde o século XIX, Marx já assinalava como primeira grande vitória do proletariado, na luta de classes, a conquista da redução de jornada de trabalho.
No Brasil, a implantação do salário-mínimo e do 13º salário despertaram editoriais furiosos de jornais conservadores, que viam na iniciativa a destruição da organização econômica.
Que a vitória política já obtida pela iniciativa heróica de Rick Azevedo sirva de estímulo na retomada do seu partido da linha política combativa, classista, anticapitalista, que o tornou um partido necessário.
Luta que Segue!