No dia 16 de maio de 1983, um negro franzino deixou o mundo boquiaberto ao apresentar um passo de dança até então inimaginável. Vestindo jaqueta, calça, sapatos pretos e uma luva cintilante em uma das mãos, o jovem cantor deslizou por cerca de cinco metros, movendo-se para trás, como se o palco fosse a única exceção da lei da gravidade; como se, naquele momento, ele caminhasse sobre a lua.
A cena, desenrolada durante a festa de 25 anos da gravadora Motown, em Los Angeles, entrou para a história da música. Ficou marcada também na história cultura popular mundial e, alguns dias depois, foi descrita assim pela revista Rolling Stones. “Moonwalk [o tal passo de dança], no mundo do entretenimento, só é comparável ao andar de vagabundo de Chaplin, à sequência de Gene Kelly em Dançando na Chuva e aos passos de Fred Astaire no filme Núpcias Reais”.
O protagonista do ato é Michael Jackson, e o fato de ter transformado um passo de dança em um momento para a eternidade é apenas uma das inúmeras façanhas de uma carreira musical brilhante, permeada e arruinada por uma vida confusa e controversa.
A histórica apresentação:
Trajetória
A primeira dessas proezas Michael realizou com apenas cinco anos de idade. Ainda criança, o sétimo dos nove filhos de uma família pobre norte-americana cantava, dançava e chamava a atenção de seus pais. Foi escolhido, então, o vocalista do grupo formado por cinco membros da família, os Jacksons Five e, sob a rígida batuta de Mr. Jackson, emplacou suas primeiras quatro canções nas paradas de sucesso mundiais: I Want You Back, ABC, The Love You Save e I'll be There.
Em 1971, o jovem cantor arriscou seus primeiros passos na carreira solo e, em 1979, lançou seu primeiro disco sem a companhia dos irmãos: Off The Wall – segundo feito. O álbum, uma mistura de Black e Disco Music, também virou sucesso mundial. O single da música Don't Stop 'Til You Get Enough rendeu o primeiro Grammy a Michael e impulsionou a ascensão meteórica que, naquele momento, começava a se desenhar.
A façanha seguinte foi ainda mais extraordinária. Três anos depois de lançar seu primeiro disco, Michael finalizou aquele que seria o disco mais vendido de todos os tempos: Thriller, com cerca de 120 milhões de cópias.
Vídeo em homenagem ao aniversário de 25 anos de Thriller, com depoimento do produtor, Quincy Jones:
O álbum revolucionou a música pop. Transformou dança, moda e televisão. Billie Jean tornou-se o primeiro videoclipe de um músico negro a entrar na programação da MTV; a música Beat It, parceria de Michael com o guitarrista Eddie Van Halen, foi o primeiro rock a tocar nas rádios Black norte-americanas e o vídeo Thriller, no qual o cantor caracterizado de zumbi assombra as noites de um bairro de periferia, modificou completamente o conceito de videoclipe.
Com 25 anos, Michael tornara-se Rei do Pop e, a partir dali, passou a ser tratado como o maior popstar do mundo. Seus passos passaram a ser vigiados por fotógrafos, sua vida virou notícia e suas façanhas deixaram de ser só artísticas ou musicais. Passaram a ser também financeiras, sociais e pessoais.
Controvérsia
Em 1985, Michael compôs We Are The World e arrecadou 200 milhões de dólares para combater a fome da África. Em 1990, tornou-se o artista mais bem pago do mundo e entrou para o Guiness Book por ter faturado mais de 100 milhões de dólares em um ano. Cinco anos mais tarde, ele conseguiu mudar de raça, tornar-se branco e aida casar com a filha Priscila Presley, filha de Elvis Presley, para tentar limpar sua imagem após ter sido acusado sexualmente de um garoto.
As denúncias de abuso sexuais, aliás, marcaram o início de mais uma façanha de Michael: a sua decadência. Depois de ganhar milhões de dólares, tornar-se a maior estrela da música mundial, ele conseguiu pôr tudo a perder. Envolveu-se em novos escândalos, novas polêmicas, teve contratos defeitos, cancelou projetos e faliu.
Michael viu na sua volta aos palcos a chance de redenção. Àquela altura, mais uma realização extraordinária não seria nada de execepcional. No entanto, um ataque cardíaco encerrou seus planos. Pôs um ponto final em sua vida, em sua carreira e em sua trajetória negação do impossível. Impossível, entretanto, será apagar a imagem do cantor do imaginário popular. Críticas à parte, não é todo dia que nasce um homem capaz de ganhar 25 Grammys, intepretar 41 hits mundiais e vender 750 milhões de discos.
* Vinicius Konchinski é jornalista e fanático pelo Michael Jackson
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