Qual é a sua utopia? Essa pergunta é essencial para pensar no futuro. Mas de maneira ainda mais provocadora, podemos questionar: qual é a sua utopia preta?
A palavra utopia surge na literatura mundial ainda a partir do século XVI, período profundamente marcado pelas grandes navegações e pelo impacto do encontro na perspectiva colonial com outras culturas e povos que proviriam a riqueza e a opulência para os governos absolutistas ao longo dos próximos três séculos. Thomas Morus, um pensador que se opunha ao absolutismo, pensou numa tal Ilha de Utopia, um mundo ideal, igualitário e justo.
A palavra acabou por representar uma perspectiva filosófica idealista, na qual somos capazes de imaginar futuros melhores para, assim, agir e transformar a realidade em que vivemos. No entanto, as populações negras e indígenas historicamente foram sendo excluídas de qualquer possibilidade de futuro. Nas literaturas, nas ficções, na indústria cultural, as representações de futuro nunca foram inclusivas, nunca foram diversas, nunca foram plurais.
Em “O perigo de uma história única” Chimamanda Adichie, celebrada escritora nigeriana, nos fala sobre como desde sua infância toda a literatura à qual tinha acesso representava pessoas brancas, europeias, inglesas, de maneira a fazê-la acreditar que a única possibilidade de escrever fosse sobre esse tipo de pessoas. A autora, então, nos mostra a armadilha de histórias contadas apenas sobre a perspectiva dos colonizadores.
O afrofuturismo, como conceito nomeado pelo escritor branco norte-americano Mark Dery na década de 90, mas com raízes iniciadas ainda no âmbito musical por Sun Ra, por volta das décadas de 50 e 60, se apresenta no sentido de pensar um futuro negro, um futuro mais plural e igualitário, livre das amarras e das armadilhas do colonialismo. Hoje, o afrofuturismo está presente, como movimento cultural, também nas diversas artes, como nos filmes de Jordan Peele, nos livros de Fábio Kabral ou Ale Santos, nas músicas de Larissa Luz, Ebony e tantos outros artistas celebrando as perspectivas múltiplas de se pensar o futuro.
Mas qual é a nossa pretopia? Se hoje já somos capazes de pensar no futuro, ainda é possível projetá-lo em nossas próprias vivências?
Nesse Novembro Negro eu me uno a uma grande amiga, Jacqueline Oliveira (@jacqueaoliveira) para lançar o Pretopia Podcast (@pretopia_pod), uma produção da In Consert (@inconsert_produtora), e no episódio de estreia nós conversamos justamente sobre utopias pretas através da história de Soul City, um experimênto nos EUA nos anos de 1970, que se propôs a construir uma cidade negra. Entre sonhos e desafios, refletimos sobre igualdade e como construir o futuro que desejamos.
O Pretopia é um podcast sobre coragem, sonhos e futuros que busca refletir quem somos. Numa conversa entre amigos, abordamos temas como ancestralidade, criatividade e transformação e inovação. Esse artigo não acaba aqui, então fica o convite a todes, que ouçam o Pretopia, nos sigam nas redes sociais e atendam o chamado para sonharmos juntos.
Te espero lá.