Quarta-feira, 14 de maio de 2025
APOIE
Menu

Nas semanas anteriores, o anúncio de novas tarifas aduaneiras por Donald Trump demonstrou que não se trata de apenas mais uma manobra comercial. É o sintoma de um sistema capitalista em crise profunda, que só sabe responder às suas contradições com mais exploração, guerras e autoritarismo.

O coração do imperialismo global, os Estados Unidos, estão asfixiados por seus próprios conflitos internos de sua classe dominante, mas não só; pela mobilização de seu povo e particularmente de sua classe trabalhadora formada por estadunidenses e também por milhões de imigrantes. 

Por décadas a deslocação de linhas de produção para outros países foi a forma de reduzir o custo do trabalho. Isso quer dizer: fazer com que o custo global de cada trabalhador seja reduzido ao mínimo, questionando os direitos já conquistados (jornada, horas-extras, férias, licenças médica…) e claro, arrochando os salários. Tudo isso baseado no fato que o dólar, moeda que domina o mundo, já não sustenta sozinho a economia americana. Para manter seu poder, o governo estadunidense recorre a duas armas: a pilhagem dos povos e a guerra.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

O dólar e a exploração global

Em 1971, o então presidente Nixon desvinculou o dólar do ouro, transformando-o numa ferramenta de dominação. Até então, o lastro do dólar estava vinculado à quantidade de ouro armazenado em barras de ouro no “Fort Knox”. Esse sistema agora está em colapso. O déficit comercial dos EUA é abissal, e a solução de Trump é fazer o mundo pagar por isso: tarifas absurdas, pressão para comprar armas americanas e a chantagem econômica contra nações soberanas.

Como disse Stephen Miran, o chefe dos assessores políticos da Casa Branca: “O comércio só prospera graças ao poderio militar dos EUA”. Ou seja, quem não se submeter, sofre as consequências.

Guerras e genocídios: o preço do lucro

Enquanto Trump anuncia tarifas, apoia sem hesitação o genocídio em Gaza e faz as declarações de ocupação da faixa para fazer um resort no território palestino. Enquanto a Europa se dobra às exigências militares da Organização do Tratado Atlântico Norte – OTAN, trabalhadores e trabalhadoras são demitidos e serviços públicos são desmontados para financiar tanques e mísseis. 

A guerra na Ucrânia, o massacre na Palestina e os conflitos na África e no Oriente Médio não são acidentes. São parte de um projeto: manter o sistema capitalismo vivo, mesmo que sobre montanhas de cadáveres.

A resistência cresce

Mas os povos não estão calados. No Brasil as manifestações do 1º de maio exigem a redução da jornada do trabalho e o fim da escravidão moderna da escala de trabalho 6×1, cujo realidade se aprofundou com a reforma trabalhista. Milhões saíram às ruas nos EUA, gritando “Dinheiro para o povo, não para a guerra!”, inclusive no 1º de maio, que lá não é feriado (o dia da classe trabalhadora nos EUA é 1º de setembro). Na França, com sindicatos e movimentos populares contra a escalada militar e o corte de recursos para os serviços públicos. Na Itália, exigindo “Verba para hospitais, não para mísseis!” Nos países árabes e em diversas outros lugares há uma denuncia permanente do genocídio palestino.

A classe dominante tem medo. Medo da China, que resiste às tarifas. Medo da América Latina, que tenta (ainda que timidamente) se organizar. Medo dos trabalhadores, que começam a ligar os pontos: a crise econômica e as guerras têm os mesmos responsáveis.

O que fazer?

É evidente que não há saída dentro deste sistema. E os sindicatos e a classe trabalhadora devem debater e se engajar na busca por uma saída baseada nos interesses do explorados e oprimidos. 

No Brasil não podemos aceitar que os sindicatos caiam na cantilena da defesa do livre comércio. Há quem questione Trump para defender todas as instituições globais e a dita “globalização” neoliberal que aplicaram as políticas “reformas neoliberais” de privatizações, de redução dos serviços públicos e dos investimentos públicos. Uma política econômica sob o ponto de vista da classe trabalhadora e da nação não tem nada a ver com Trump, muito menos com a papagaiada liberal que é vendida pelos telejornais e banqueiros. 

A única resposta é a luta da classe trabalhadora de todo o mundo é juntar suas forças lutar para romper com os governos que sustentam essa política que alimentam o financiamento militar para as guerras e destruição. 

É preciso fazer uma luta contra essa política de investimentos militares, exigindo verbas públicas para saúde, educação, assistência social, comunicação pública, acolhimento dos imigrantes, recuperação de direitos, fim da jornada 6×1 e salários dignos.

(*) Alexandre Linares é jornalista, professor e editor. Dirigente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) e colaborador do Jornal O Trabalho do PT.