Quinta-feira, 24 de abril de 2025
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O segundo turno das eleições no Equador acontece neste domingo (13/04). Luisa González e Daniel Noboa não conseguirão escapar da sombra de Rafael Correa. “González é a candidata do correísmo”, gritam, em tom alarmista, os que odeiam o ex-presidente. Do campo da esquerda e do progressismo, reconhece-se a ligação, de modo otimista. Diabolizar Correa não parece ser a melhor estratégia da ultradireita que apoia Noboa.

A violência da criminalidade no Equador fez mais vítimas sob a gestão de Daniel Noboa do que nas décadas anteriores a seu governo. O país observa, atônito, o crescimento do número de assassinatos impunes durante os governos de Lenín Moreno, Guillermo Lasso e Noboa. Em 2024, foram registrados 856 homicídios, o que corresponde a uma taxa de 38,8 mortes por cada 100 mil habitantes. Esse cenário coloca o Equador entre os países mais violentos da América Latina.

Violência no Equador

Noboa, impassível, limitou-se a afirmar que o país vive um “conflito armado interno”, razão pela qual declarar “estados de exceção” se tornou sua principal forma de combater o crime organizado. No entanto, os resultados têm sido insatisfatórios, opinião compartilhada por seus aliados e seus críticos.

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A insegurança é apenas um dos problemas que Noboa não conseguiu resolver, apesar das promessas. Da mesma forma, a crise econômica e social, agravada pela crise energética e pela corrupção generalizada, permanece sem solução. Foram esses temas — e, de maneira específica, educação, previdência social e saúde — que dominaram a campanha eleitoral.

Os problemas mencionados, somados ao embate entre os principais candidatos, levaram à polarização política, marcada por acusações mútuas sem provas. Noboa acusou o correísmo de envolvimento com o narcotráfico, enquanto González afirmou que Noboa utilizava caixas de bananas para exportar drogas.

O fantasma de Rafael Correa

Já se passaram mais de oito anos desde que Correa saiu, como um exilado político, do Equador. Segundo os porta-vozes da oligarquia equatoriana, isso marcaria o fim político de quem ousou desafiá-los. A história, mais uma vez, parece estar julgando o contrário.

Tudo indica que Correa retorna em grande estilo via Luisa González. Não conseguiram liquidá-lo politicamente, tampouco afastá-lo do povo que representou por 10 anos. A traição de Lenín Moreno foi insuficiente. Correa terminou seu mandato com 62% de aprovação.

Setores da direita e ultradireita criticaram duramente a gestão “autoritária” de Correa, mesmo após seu asilo na Bélgica. Isso não surpreende, principalmente porque suas medidas afetaram os interesses da oligarquia, em especial os da grande mídia. Correa também enfrentou o Fundo Monetário Internacional (FMI), sempre que foi necessário defender a soberania nacional.

Superando desafios, Correa construiu uma liderança nacional e internacional que ainda perdura. O povo dificilmente esquece que a redistribuição de renda era um tema central que incomodava a elite equatoriana. Ele rejeitou fortemente a falácia do “equilíbrio fiscal” às custas da redução de gastos com serviços essenciais e desenvolvimento. Preferiu reduzir a pobreza extrema de 17% (em 2007) para 8% (em 2017). Não se pode dizer que tudo foi “uma maravilha” — houve momentos de tensão e descontentamento — mas durante seus 10 anos de governo, o Equador viveu uma estabilidade inédita, após um período em que os presidentes mudavam a cada dois anos.

Na política externa, Correa foi claramente integracionista e defensor da fundação da União de Nações Sul-americanas (Unasul). Demonstrou solidariedade com povos e governos que enfrentavam o imperialismo, como Cuba, Venezuela, Irã e Nicarágua. Também ofereceu asilo político a Julian Assange, apesar das ameaças dos Estados Unidos.

Luisa González

Uma parte significativa da opinião pública afirma que Luisa González é “herdeira do correísmo”. De fato, ela é candidata do partido fundado e liderado por Rafael Correa, o “Movimento Revolução Cidadã”. Isso a torna herdeira? Algo semelhante foi dito sobre Lenín Moreno, guardadas as devidas proporções. González se declara de esquerda e ocupou cargos importantes durante o governo de Correa, além de ter presidido o Movimento Revolução Cidadã.

“Reviver o Equador” é o lema principal de sua campanha, referindo-se à violência criminal que assola o país. Essa proposta está inserida no “Projeto de Pátria” impulsionado pela Revolução Cidadã, que visa mais e melhores empregos, educação e saúde. Para isso, segundo González, será necessário “colocar a casa em ordem” no que se refere à segurança e à economia.

Luisa González e Daniel Noboa
Segundo turno neste domingo decide entre Luisa González e Daniel Noboa
Reprodução / @LuisaGonzalezEc e @DanielNoboaOk

Entre suas propostas destacam-se:
1) Recuperar a segurança cidadã, reorganizando o sistema de justiça, direitos humanos e os ministérios do Interior e do Governo por meio de um processo constituinte participativo.

2) Maior controle estatal sobre a geração e gestão de energia elétrica, com transição energética e sustentabilidade ambiental, priorizando fontes limpas como solar, eólica e hídrica.

3) Reduzir a dependência do petróleo, promovendo a diversificação produtiva e agregando valor às exportações, com o objetivo de aumentar significativamente a entrada de divisas.

4) Educação e saúde gratuitas, universais e de qualidade. Em vez de privatizar, o Estado garantirá educação gratuita, universal e de qualidade até o ensino universitário.

5) Igualdade de gênero, empoderamento, inclusão e direitos. Promete “igualdade fundamental entre homens e mulheres” e combate à discriminação em todas as formas.

O segundo turno no Equador

No primeiro turno, que ocorreu em 9 de fevereiro, Noboa obteve 44,17% dos votos e Luisa González, 44%. O movimento indígena, liderado por Leonidas Iza, conquistou 5,25%, o que pode ser decisivo no segundo turno.

Apesar da ligeira vantagem de Noboa, González conquistou 67 cadeiras no Parlamento para a Revolução Cidadã, contra 66 do atual presidente, da Ação Democrática Nacional.

Esses resultados frustraram as expectativas de Noboa, que esperava uma vitória contundente no primeiro turno. Ele evitou a imprensa e abandonou o “ato de celebração” preparado por seus apoiadores em Quito. Enquanto isso, González comemorava o resultado apertado como uma vitória sobre a direita.

O segundo turno ocorre em um cenário onde boa parte da população está politizada e há um sentimento crescente de apoio a Luisa González, que recebeu o apoio do movimento indígena.

Noboa, presidente e candidato ao mesmo tempo, visivelmente desesperado, viajou a Miami em busca de apoio do governo Trump para tentar reverter a tendência eleitoral desfavorável. Diversas pesquisas apontaram Luisa González como favorita. Em breve saberemos o quão precisas são essas previsões.