Quinta-feira, 12 de junho de 2025
APOIE
Menu

O que explica o sucesso de um brinquedo? Por que há o ano do relógio Omnitrix do Ben 10, o ano do pogoball, o ano do War Império Romano? Por que alguns brinquedos “pegam” e outros não? Por que neste ano acabaram nas lojas, em tempos diferentes, as bonecas (e alguns bonecos também) Monster High e os Beyblades?

Algumas das respostas a esses movimentos coletivos infantis são óbvias: o marketing agressivo e muitas vezes sem limite legal ou moral, que busca ocupar os espaços da imaginação das crianças onde quer que elas estejam: videogame, televisão, banca de jornal, internet.

Outros, nem tanto: por que um brinquedo “pega” mesmo quando ele deixa de ser uma aventura individual e torna-se uma ação conjunta, um elemento de organização de um certo tipo de conhecimento, um jogar que é, sobretudo, elaborar em sociedade.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

Para os que não estão suficientemente informados pela movimentação das crianças, as Monster High são um conjunto de bonecas e bonecos de tradicionais famílias “assustadoras”: Draculaura, Frankie Stein, Abbey Bominable, Clawd Wolf – vampira, frankenstein, abominável garota das neves, lobisomem, respectivamente, entre outras e outros. As colegiais (as garotas, claro, são as protagonistas) herdam dos seus parentes as características “monstruosas”, mas também incorporam radicalmente o consumo de moda. Elas podem perdem alguns de seus membros: a mão desencaixa, por exemplo, e podem ser, em muitos casos, “remontadas”.

Já os Beyblades são a retomada de uma velha ideia, o pião. Não o pião de enrolar, mas o pião de correia dentada. Além da correia, o brinquedo tem um lançador, uma ponta que também pode, eventualmente, ser trocada entre os diferentes modelos e uma espécie de chave, para apertar o conjunto, formado por três peças, uma delas de metal.

Por inimaginável que possa ser, há algo comum entre os dois projetos: a diversidade. Assim como as bonecas Monster High são colecionáveis, porque cada uma tem uma personalidade e uma história diferente, os piões Beyblades, voltados especialmente para os meninos, são diferentes entre si: cada um exerce uma função (ataque, defesa, equilíbrio, por exemplo) no grande momento do brinquedo, que é o combate.

Para o combate, há uma “arena” especial, onde vence quem ficar mais tempo girando. A lógica do combate reproduz um método comum a muitos jogos de outras modas, como Pokémons e Bakuguns, nem sempre totalmente compreendidos pelas crianças.

As Monster High, sucesso há dois Natais, talvez estejam pondo fim à era das abomináveis Barbies, que ditavam um padrão único de beleza, e suas variantes (como Susies) nem sempre bem sucedidas. As Barbies eram sempre elas mesmas, em diferentes papéis – praia, escola, médica, clube etc. Uma boneca esnobe, que as feministas combateram com razão por muitos anos. As Monster High enterram a ideia de pasteurização, em nome do direito à diferença e à “estranheza”.

Os Beyblades, por suas vez, mostram a força de uma velha ideia, adaptada aos novos tempos. Os garotos sabem tudo sobre eles, e acumulam informações que, para os adultos, não chegam a ser irrelevantes, porque na maioria das vezes não são nem ao menos identificáveis.

Monster High e Beyblades são atualizações bem sucedidas comercial e socialmente de velhas formas de brincar. Mas nem tudo é alegria: a diferença, que gostamos de celebrar, nos dois casos está ligada à necessidade de dar vazão à hiperprodução que domina, cada vez mais, nosso dia a dia.

Monster High e Beyblades mostram como a celebração da diferença – ou seja, do modelo Barbie de coleção –, no caso dos brinquedos que fizeram este Natal, é também o novo motor, talvez mais potente, da coleção e do hiperconsumo. Em outras palavras, casas cheias de brinquedos, e pais de bolsos vazios.

Os brinquedos mostram como a celebração da diferença é também motor do hiperconsumo

NULL

NULL

NULL