Os governos capitalistas nada fazem para pôr fim ao massacre na Palestina
Não faltam condenações ao genocídio cometido por Israel, é verdade. Mas, até agora, foram poucas as nações que colocaram a vida humana acima dos interesses econômicos
No Brasil, milhares de pessoas foram às ruas no último domingo (22) pedir o rompimento das relações com o Estado de Israel e o fim do massacre contra o Povo Palestino. Foi o maior e mais unitário ato de rua pela causa Palestina das últimas décadas. A data fez parte de uma articulação internacional, com manifestações no Chile, Turquia, Espanha, Indonésia, França e Inglaterra.
Foi uma semana de intensas mobilizações, com a Marcha Global por Gaza que reuniu cerca de 4 mil pessoas e mais de 80 nacionalidades em caminhada através do Egito em direção à fronteira com Rafah para romper o bloqueio israelense e levar ajuda humanitária aos palestinos. No mesmo período, outra ação conseguiu furar o cerco midiático: a Flotilha da Liberdade que levava 12 ativistas internacionais pelo Mar Mediterrâneo até Gaza, mas foi interceptada pelas forças terroristas do exército de Israel. A ditadura de Netanyahu executou a prisão ilegal e deportação dos militantes, entre eles o brasileiro Thiago Ávila e a ambientalista sueca Greta Thunberg.

Faixa de Gaza em setembro de 2014.
(Foto: Frode Overland Andersen/UD)
Esses fatos nos levam à inegável constatação: independentemente de seus governantes, a solidariedade dos povos se multiplica em todos os cantos do mundo desde o início da ofensiva neonazista israelense em 2023. Lembremos ainda das universidades estadunidenses que foram ocupadas em maio do ano passado, fazendo com que rapidamente os estudantes da Austrália, Líbano, Índia, França e Canadá também aderissem ao movimento.
Solidariedade cresce apesar da censura
A máquina sionista é bastante poderosa e usa do domínio político e econômico para censurar quem denuncie a barbárie contra o povo palestino, atuando através das empresas donas do monopólio das mídias digitais. Essa constatação foi realizada pelo Observatório Palestino de Violações dos Direitos Digitais, que identificou mais de 5.100 casos de censura digital e veiculação de conteúdo enganoso pela Meta. Além disso, os grandes veículos de comunicação de massa e demais aparatos ideológicos, como as igrejas neopentecostais, encabeçam a guerra de desinformação, escondendo os crime contra a humanidade cometidos por Israel e disseminando a mentirosa tese do combate ao terrorismo.
Furar este bloqueio não é tarefa fácil. O mundo precisa saber que existe uma empresa estadunidense disfarçando-se de ajuda humanitária para matar mulheres e crianças, como faziam os nazistas nos campos de concentração.
Por esse motivo, de fato é impressionante que, apesar da máquina, observamos o crescimento vertiginoso da solidariedade com os palestinos. É realmente emocionante. Os olhos marejam e a fé na humanidade se renova e se fortalece. A guerra não é da maioria do povo, daqueles que trabalham para sobreviver, daqueles que plantam e colhem, constroem casas e produzem mercadorias. Esse povo é solidário, humilde e honesto em qualquer parte do mundo. Esse povo condena a injustiça.
Se a guerra, a fome, a morte, o racismo e o terror existem, é por obra das classes dominantes, porque está na sua essência explorar e sugar até a última gota de sangue e o último minério que a terra dá para satisfazer sua ganância sem fim. É nessa contradição fundamental que está lastreado o genocídio hoje.
Ações valem mais do que palavras
Não nos surpreende, portanto, que mesmo diante do horror, os governos capitalistas e imperialistas não façam absolutamente nada para impedir o extermínio de mulheres e crianças na Faixa de Gaza. São mais de 600 dias de pura inércia. Sem dúvidas, isso deve tirar o sono dos mais bem intencionados entusiastas da tese da nova ordem multipolar como saída para a crise mundial.
Por exemplo: diante da Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, no dia 2 de maio, o representante do governo da China, Ma Xinmin, que é assessor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, condenou o bloqueio de Israel à entrada de ajuda humanitária em Gaza. Em março passado, Ma Xinmin já tinha afirmado que o povo palestino tinha direito à resistência armada e suas organizações não poderiam ser rotuladas como terroristas, também na CIJ.
Mas como diz o ditado popular, as ações valem mais do que palavras. E apesar das boas palavras, a China segue sendo a segunda maior parceira comercial de Israel. Uma empresa chinesa de tecnologia militar, a DaJiang Innovation Technology, por exemplo, é responsável pela importação de drones usados pela polícia e as forças de repressão israelenses. É uma contradição insolúvel.
Não faltam pronunciamentos e condenações ao genocídio cometido por Israel, é verdade. Mas até agora, foram poucas as nações que colocaram a vida humana acima dos interesses econômicos. Por esse motivo, a pressão popular é determinante para que os governos rompam relações diplomáticas e principalmente comerciais com os neonazistas israelenses. Os povos do mundo estão com a Palestina.
(*) Isis Mustafa é dirigente do partido Unidade Popular pelo Socialismo.