Alguma pesquisa feita pela consultoria CID-Gallup na semana passada indicou que a maioria de hondurenhos apoiava o golpe militar contra o presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya? Sim, de acordo com o Washington Post (9 de julho),com o Wall Street Journal (10 de julho), com o Christian Science Monitor (11 de julho) e com a Reuters (9 de julho), que reportaram que a pesquisa mostrava 41% a favor do golpe, com somente 28% contra.
Mas de fato a pesquisa mostrava que 46% – maioria – era contra o golpe, de acordo com o New York Times (10 de julho) com a Associated Press (11 de julho) e com o presidente do CID-Gallup, em uma entrevista para a revista Voice of America em 9 de julho.
Até o horário em que estou escrevendo este texto – tarde de domingo (12) – nenhum dos veículos que reportaram a pesquisa incorretamente haviam corrigido seus erros.
Ao mostrar a pesquisa de maneira incorreta, o Post, o Journal, o Monitor, e a Reuters deram a impressão de que mais hondurenhos apoiavam o golpe que se opunham a ele, sugerindo que era problemático para a coalizão internacional – que inclui o presidente costa-riquenho Oscar Arias, o secretário geral da Organização dos Estados Americanos, Juan Miguel Insulza, assim como a administração Obama – continuar a fazer pressão pela restauração do presidente Manuel Zelaya.
Claro, mesmo se uma pesquisa houvesse mostrado uma maioria a favor do golpe, isto não legitimaria o golpe. Mas a opinião da população, mesmo difícil de se discernir em meio à repressão seguida ao golpe, é sem dúvida um fator chave para entender a situação. Reportar errado um fator-chave é desinformar de maneira substancial. Falhar em corrigir um erro só adiciona gravidade.
A reportagem com a pesquisa incorreta parece ter se originado no jornal hondurenho La Prensa. Mas a imprensa norte-americana deveria ter checado antes de simplesmente repetir o que estava no La Prensa, particularmente um fato tão importante, particularmente porque era tão contraintuitivo.
Mas talvez o resultado não fosse contraintuitivo para esses meios de comunicação, e isto pode sugerir um problema ainda mais profundo: a imprensa norte-americana está fora de contato com a maioria da população em Honduras e, portanto, crédula com os resultados que desinformam sobre a opinião pública hondurenha como sendo muito mais similar com as opiniões das elites de Honduras.
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