Em 22 de janeiro do ano passado, exatamente um ano atrás, foi lançado oficialmente o Nova Indústria Brasil, plano de retomada nas atividades produtivas brasileiras, como reação ao nítido processo de desindustrialização acentuado nos últimos 10 anos. O presidente Lula colocou a missão sob responsabilidade do vice-presidente e também Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Geraldo Alckmin, que articulou uma agenda interministerial que transformou a NIB na espinha dorsal do crescimento econômico. Parte da abordagem das Missões de Desenvolvimento Sustentável sistematizada pela economista ítalo-americana Mariana Mazzucato, pautada tanto no envolvimento de todos os setores do poder público, mercado e sociedade civil participantes ou impactados, quanto numa visão que não se reduz à recuperação da indústria tal como era antes da emergência da Economia 4.0, mas da reestruturação em padrões sustentáveis.
Como resultado, conseguiu mobilizar esforços de outras áreas além do MDIC, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia, Banco do Nordeste, além do BNDES, Finep e Embrapii, ampliando consideravelmente o montante de recursos destinados ao investimento, dos iniciais R$ 300 bilhões para R$ 506,7 bilhões. Na medida em que esta nova concepção de desenvolvimento industrial, mais sustentável (por isso justifica-se o uso do conceito “neoindustrialização”, ao invés de simplesmente “reindustrialização”), é capaz de mobilizar outros atores, como foi o caso, ganha importância a cooperação entre um colegiado setorial como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industria – CNDI, que deu sustentação para a NIB, e outro que abarque os mais variados setores da sociedade, e certamente a instância do Governo Federal que melhor satisfaz este critério é o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável – CDESS. Além de trazer um apanhado geral deste primeiro aniversário da NIB, pretendo aqui sustentar porque pode ser fundamental o fortalecimento desta agenda no CDESS.
Voltando ao desenho e resultados da NIB, em seu lançamento foi divulgado o Plano de Ação para a Neoindustrialização, onde constam 6 eixos prioritários:
- Missão 1: Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar, nutricional e energética
- Missão 2: Complexo econômico industrial da saúde resiliente para reduzir as vulnerabilidades do SUS e ampliar o acesso à saúde
- Missão 3: Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva e o bem-estar nas cidades
- Missão 4: Transformação Digital da indústria para ampliar a produtividade
- Missão 5: Bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as gerações futuras
- Missão 6: Tecnologias de interesse para a soberania e defesa nacionais
No final de 2024, 31 de dezembro, foi divulgado um balanço que atesta os bons resultados, inclusive sobre como o Plano Mais Produção, sistema de financiamento da neoindustrialização executado pelo BNDES, articulou estas missões em programas de outros ministérios, proporcionando uma noção de ação em conjunto para um desenvolvimento integrado. No total, os recursos da NIB somados aos do Novo PAC e do Plano de Transformação Ecológica somaram R$ 2,212 trilhões em investimento. Dadas as conhecidas demandas por infraestrutura, inclusive para a otimização dos demais investimentos, era esperado que esta área contasse com valores bem acima das demais. Porém, há de se destacar os valores em áreas até então estranhas à uma política industrial, como agroindústria e bioeconomia. Seguem os valores apresentados:
- 1,06 trilhão – construção civil
- 100,7 bilhões – TICs
- 130 bilhões – automotivo
- 296,7 bilhões – agroindústria
- 100 bilhões – siderurgia
- 105 bilhões – papel e celulose
- 380 bilhões – bioeconomia e energia renovável
- 39,5 bilhões – indústria da saúde
(fonte: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202412/mdic-avanca-na-retomada-da-industria-brasileira)

Presidente Lula designou vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, como principal responsável pelo projeto Nova Indústria Brasil
Desde 2023 a prioridade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial foi a retomada da industria em outros moldes. A abordagem, as missões, o Plano de Ação, tudo consta em suas atas, antecipando o anunciado e os resultados atingidos. Um passo adiante consiste na interlocução desta câmara setorial com outra de maior abrangência, capaz de traduzir um projeto minucioso numa linguagem mais geral, por canais diversificados, e aí entra o papel que pode ser cumprido magnificamente pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável – CDESS. Por contar com uma representatividade mais plural, seria capaz de elaborar uma estratégia mais sensível e criativa sobre como os resultados podem chegar aos mais diversos setores da sociedade, inclusive alguns grupos empresariais, fortalecendo um engajamento extraordinário.
De acordo com a 12ª Edição do Barômetro da Infraestrutura Brasileira, diagnóstico desenvolvido em parceria da consultoria EY e a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base – ABDIB, esta clareza dos agentes econômicos em relação ao Plano e seus resultados é o passo necessário para consolidar a confiança nesta mobilização governamental para um novo ciclo de crescimento. Publicado em dezembro de 2024, o estudo identifica que 57,8% dos empresários entrevistados apontam como principal desafio para a NIB é a “articulação do governo com o setor produtivo” (fonte: https://www.ey.com/pt_br/insights/infrastructure/barometro-da-infraestrutura-brasileira-edicao-12).
Considerando que se trata de um projeto de aceleração da atividade produtiva que opera na fronteira da Economia Industrial, extremamente sofisticado e sendo executado com efetividade – mesmo em uma conjuntura complexa -, a iniciativa respaldada pelo CNDI e precisamente elaborado por ele ganha uma adesão muito maior em parceria com o CDESS. Aprimorar a articulação não apenas com o setor produtivo como com a sociedade como um todo levará à otimização dos resultados e a esperada adesão geral prevista no paradigma das Missões. Trata-se de algo de suma importância em um ano em que as demandas socioambientais que estarão no topo das prioridades, pois receberemos a COP 30.
O Nova Indústria Brasil é uma realidade, um dos projetos federais que mais está dando certo, e cujos impactos devem marcar uma nova era de nosso desenvolvimento. Como pode ser observado no montante direcionado para cada setor, impacta algumas de nossas mais significativas cadeias de valor. Se considerarmos que a reconstrução de nossa democracia passa pela geração de emprego e renda sustentada no longo prazo, ganhar capilaridade proporcionará a consistência econômica para a garantia dos direitos básicos do cidadão e um ambiente vigoroso para nossos empresários. Está dando certo, e este tipo de aprimoramento pode fortalecer ainda mais.
Marcos Rehder Batista é sociólogo e pesquisador no CEAPG (EAESP/FGV), e no CPTEn (FEEC/Unicamp).