Não há dúvidas de que vivemos um período histórico em que a classe hegemônica dedica muito esforço material para impor o seu controle ideológico sobre a juventude brasileira, através da disseminação de símbolos e referências que se manifestam principalmente através das redes digitais. São incontáveis conteúdos de extrema-direita, com valores nazistas, racistas e sexistas, espalhando o ódio aos imigrantes, nordestinos, mulheres, negros e indígenas. Mas não é só isso: idealizam um padrão de comportamento a ser reproduzido pelos seus seguidores. Os chamados influenciadores ou coaches não formam as opiniões somente do “tiozão do zap”; cada vez mais cedo, se infiltram pelas telas das crianças e adolescentes, derramando anticomunismo e distorcendo a realidade para impor sua visão de mundo.
É uma batalha muito desigual, afinal, o homem mais rico do mundo é o proprietário da rede digital mais asquerosa em conteúdos extremistas. Vamos além: não fosse suficiente todo o aparato ideológico dos filmes, músicas, livros e religiões, com a reforma do Ensino Médio e a silenciosa implementação das escolas sem partido, até mesmo as salas de aula se tornam instrumentos do neoliberalismo e dominação ideológica da direita. Não são raras as denúncias de apologia ao nazismo, abusos e mentiras nas salas de aula, tornando heróis os algozes do povo e criminosos aqueles que lutaram por justiça, além da forte repressão à organização dos grêmios estudantis.
Essa força toda parece invencível, é verdade. Mas foi com “paus e pedras” que o povo vietnamita derrotou o mais forte e tecnológico exército norte-americano.
A história do povo brasileiro é permeada pela luta por liberdade, pelo fim da exploração dos seres humanos, pela socialização da terra e das fábricas, por justiça e igualdade. Essa história também fez pessoas comuns se tornarem símbolos e referências que inspiram milhares de jovens até os dias atuais. Na batalha ideológica, com nossos paus e pedras, mas com a maioria do povo que é explorado, nós vamos derrotar o exército do fascismo.
USP realiza diplomação de estudantes mortos pela ditadura militar
Durante a semana em que se completam 45 anos da Lei da Anistia, através do projeto Diplomação da Resistência, a Universidade de São Paulo realizou uma cerimônia, no dia 26 de agosto, para diplomar mais 15 estudantes que foram mortos durante a ditadura militar brasileira. Em 2023, a USP já havia diplomado Ronaldo Queiroz e o patrono do Diretório Central dos Estudantes, Alexandre Vannucchi Leme. Essa ação é uma das recomendações da Comissão da Verdade da instituição.
As diplomações fazem parte da reparação às vítimas da ditadura militar fascista que torturou 20 mil e assassinou 434 lutadores sociais, segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade.
Essa ação, apesar de simbólica, também cumpre um papel fundamental de contar a história dos verdadeiros heróis da juventude brasileira.
Helenira Resende de Souza Nazareth, conhecida como Preta, era estudante de Letras na Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL-USP) quando foi presa pela primeira vez quando tinha apenas 23 anos, em 1967, por escrever “Abaixo as leis da ditadura” nos muros da Universidade Mackenzie. Incansável defensora do socialismo, Preta foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes e vanguardeou a luta pela derrubada da ditadura militar. Foi assassinada aos 28 anos na guerrilha do Araguaia. A família de Helenira jamais pôde enterrar seu corpo.
Luiz Eduardo da Rocha Merlino, estudante de História na USP, foi sequestrado, preso e torturado no DOI-Codi, em 1971, aos 23 anos de idade. Merlino morreu agonizando numa sessão de tortura que durou 24 horas, comandada pelo próprio coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. O coronel morreu de velho, sem jamais responder por esse e outros tantos crimes.
Homenagear os nossos heróis
Helenira, Merlino, Marighella e Zumbi dos Palmares são aqueles que de fato representam a identidade do povo brasileiro, sua resistência e seus sonhos. É fundamental empreender todos os nossos esforços para homenageá-los, contar suas histórias e fazer com que as novas gerações os conheçam.
Do lado de cá, cabe refletir: eles parecem gigantes digitais com seus milhões de seguidores, mas é de carne e osso a juventude que ocupa as ruas, enfrenta as leis injustas e que derruba ditadores. O olho no olho, a conversa, a revolta que se transmite num discurso inflamado, as passeatas… tudo isso é muito mais forte. Nessas eleições, essa é a única forma de enfrentar a batalha ideológica contra as ideias do fascismo. Jamais subestimar o inimigo, empreender toda a nossa energia para vencer.