Rebelar-se é justo: não seremos a geração do fim do mundo
É necessário que nós mesmos enfrentemos os setores econômicos que se apoderaram do país em 2019, pois não existe caneta capaz de parar essa máquina de destruição
Há quem acredite que basta eleger bons parlamentares para as Câmaras Municipais esse ano, preparando o terreno para melhorar o cenário federal em 2026, que enfrentaremos a crise que assola a vida dos trabalhadores brasileiros. Mas a realidade é implacável e as pessoas que sentem os problemas hoje não podem esperar o dia de amanhã. Queimadas, grilagem e emergência ambiental avançam: devemos aliar hoje a luta eleitoral à luta popular para defender os direitos do povo e enfrentar os interesses do agronegócio e das mineradoras, só assim será possível obter vitórias nas duas frentes de batalha.
O Brasil está em chamas
Foi em 10 de agosto de 2019 que assistimos o ex-presidente fascista ser conivente com o que ficou conhecido como “Dia do Fogo”, quando grileiros e fazendeiros coordenaram uma ação para incendiar florestas na região Norte do país. É claro que incêndios promovidos pelos latifundiários acontecem há décadas, compondo a fotografia da luta de classes no campo e da exploração desenfreada das terras e dos recursos naturais por esses parasitas. Entretanto, desde o aval de Bolsonaro, esses criminosos agora se sentem à vontade para incendiar o Brasil inteiro.
O fogo se alastra. Nos últimos dias, os céus escureceram em boa parte do território nacional e 76 pessoas morreram por síndrome respiratória aguda grave na cidade de São Paulo, que alcançou o posto de um dos piores ares do mundo após dezenas de cidades do Estado serem atingidas por queimadas. No Parque Nacional do Xingu (MT), as chamas atingem povoados indígenas e mais de 100 mil hectares de florestas foram queimados. Ao todo, são 11,39 milhões de hectares atingidos pelas queimadas este ano e a fumaça já atravessou o Atlântico, chegando até o continente africano.
Tragédia para o povo, lucros para poucos

(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 96% das queimadas são causadas por ações criminosas com interesses econômicos (preparar terreno para criação de gado, explorar as riquezas das florestas e o minério, etc). Na região do Pantanal, são quase 2 milhões de hectares em chamas há mais de dois meses e as investigações da Polícia Federal apontam para uma ação coordenada de grileiros com o intuito de realizar criação ilegal de gado.
Sem dúvidas, como o setor grileiro, também as mineradoras, o agronegócio e os latifundiários se beneficiam dessa tragédia. Enquanto as chamas consomem biomas inteiros, os lucros bilionários desses setores seguem intactos: a título de exemplo, as mineradoras lucraram 1,2 trilhão de reais entre 2019 e 2023 no Brasil.
Longos períodos sem chuvas, queimadas, poluição dos rios e do ar nas cidades: esse é o extrato do atual modo de produção predatório e insustentável. Não é demais dizer que precisamos parar urgentemente os exploradores, caso contrário, eles vão destruir o planeta. As pessoas sentem na pele essa urgência e há muita revolta no ar.
Não seremos a geração do fim do mundo
É chegada a hora de nós mesmos enfrentarmos os setores econômicos que se apoderaram do país em 2019, pois não existe caneta capaz de parar essa máquina de destruição. Só o povo em luta pode enfrentar os poderosos do agronegócio e seu rastro de morte.
Por um lado, o povo Guarani Kaiowá declara guerra contra os fazendeiros em Douradina (MS), na retomada das terras indígenas Panambi Lagoa-Rica. Por outro, os movimentos populares organizaram uma grande Marcha por Justiça Climática, Reforma Agrária e pelo fim das queimadas neste domingo, 22 de setembro.
Inspirados nos combativos trabalhadores franceses, ouso dizer que as lutas que se desenvolvem nos próximos dias podem ajudar no resultado das urnas no dia 6 de outubro. Para todos os efeitos, a esperança continua em nossas mãos.
