Quarta-feira, 26 de março de 2025
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O vídeo do projeto “Trump-Gaza”, publicado no Instagram oficial do presidente, revela o nacional-imperialismo como a nova estratégia americana de dominação dos povos. A postagem vai de Trump e Benjamin Netanyahu, os dois lado a lado tomando sol, até Elon Musk jogando dólares para o alto, passando por estátuas e souvenirs do homem laranja e uma estátua dourada do presidente norte-americano.

Milhões de curtidas podem assustar, mas será que o Trump de Ouro (alô, Moisés, eu conto ou você conta?) é, também, um sinal de que o sistema imperialista tal como conhecemos ruiu?

Cenas de vídeo criado por inteligência artificial sobre como seria o resort de Trump em Gaza, publicado no perfil do presidente dos EUA, Donald Trump.
(Imagem: Reprodução / Instagram)

Desde os primeiros dias de seu governo, Donald Trump dava sinais da mudança de estratégia que buscará implementar ao longo de seu mandato. Protecionismo econômico, desalinhamento político com líderes do bloco ocidental, investidas unilaterais em assuntos de guerra e a retirada dos EUA de importantes conselhos da ONU foram apenas os primeiros recados de que a manutenção do sistema imperialista tradicional, fomentado pelo bloco capitalista no pós-guerra, não estaria nos planos do mandatário. O que se apresenta até aqui é a intenção de Trump de implementar o nacional-imperialismo norte-americano.

Por mais que os Estados Unidos liderem o bloco imperialista com amplos poderes, sua substituição por um sistema imperialista nacional representa uma drástica mudança em relação ao que conhecemos. A estratégia americana expõe a intenção de Trump não mais de fazer dos EUA o presidente do mundo — com seus principais aliados atuando como um parlamento —, mas sim de transformar o país no Imperador do mundo.

O assustador vídeo publicado hoje na conta oficial de Donald Trump é um grotesco exemplo desse cenário. Como se, ao seu bel-prazer, o presidente norte-americano pudesse transformar um país em um resort que leva seu nome, para que seus abastados amigos e semelhantes pudessem gastar seus muitos dólares às margens do Mar Mediterrâneo.

O aspecto imperial é escancarado: não há o mínimo receio do politicamente incorreto, do amoral, do injusto. O fato de que, para construir o projeto trumpista para a Faixa de Gaza, seria necessário continuar o extermínio e o exílio de famílias de suas terras não é sequer escondido — é o primeiro corte do vídeo. No modelo nacional-imperialista, nem mesmo a famosa demagogia americana restará. Não há sequer a dissimulação que conhecemos. No Iraque, diziam que havia armas químicas; no Afeganistão, terroristas; em Gaza, sol e entretenimento de luxo.

Também não há como ignorar a dimensão personalíssima do vídeo, como se Trump jogasse no ar sua intenção de fazer dos EUA o Imperador do mundo sob seu eterno comando. Não devemos pensar que se trata apenas de uma peça publicitária de mau gosto; é uma mensagem para o globo. Donald Trump testará até onde o planeta e a democracia americana suportam seus objetivos imperiais.

Por mais apavorante que possa parecer a ideia dos EUA, sob o comando atemporal de Trump, tornando-se os imperadores de fato do planeta, há também uma oportunidade para a luta de todos os povos. Antes de implementar o nacional-imperialismo americano, será necessário destruir o bloco ocidental que comanda o atual sistema imperialista – responsável pelas maiores mazelas dos oprimidos. Independentemente das piores intenções de Donald Trump, óbvio inimigo da humanidade, o desmonte do bloco ocidental abre uma brecha para a resistência em todos os cantos.

Caso o leitor seja um pessimista, ofereço um último ângulo de esperança: é a primeira vez que vemos tamanho rompimento entre as grandes potências que compõem o bloco ocidental. Os Estados Unidos promovem a passos largos seu isolamento, e Maquiavel já nos ensinou o que acontece com um rei sem súditos.

(*) Tom Altman é economista e empresário. É diretor-geral de Opera Mundi.