Quarta-feira, 18 de junho de 2025
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Esquerdista e militante anti-fascista, Ivan Khutorskoi, 26 anos, foi baleado ao sair de seu apartamento no dia 16 de novembro. Dias depois, Daniil Sysoyev, um padre ultraconservador ortodoxo russo, levou um tiro e foi morto em sua igreja.

O assassinato de Khutorskoi é atribuído a um grupo fascista clandestino. Ainda não está claro quem foi o autor do assassinato de Sysoyev, embora a suspeita esteja diretamente ligada a fundamentalistas muçulmanos ou, ainda, a um enigmático grupo de “pagãos”.

Os dois assassinatos têm mais em comum do que o fato de terem ocorrido em dias próximos, com utilização de arma de fogo e, obviamente, terem sido premeditados. Independente das crenças das vítimas, argumentos ideológicos na nossa sociedade estão cada vez mais baseados em meios violentos.

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Nós há muito tempo deixamos de considerar assassinatos de trabalhadores estrangeiros, estudantes ou anti-fascistas como notícia sensacional, mas há algum tempo a ultradireita passou de ataques espontâneos à realização de ataques bem planejados, premeditados.

Parece que com o assassinato, em janeiro, do advogado de direitos humanos Stanislav Markelov, a Rússia cruzou uma linha trágica. Markelov foi atingido por um tiro no centro de Moscou, depois de acompanhar uma coletiva de imprensa, na frente de diversas pessoas que passavam pelo local. O homicídio foi considerado uma provocação política. É por isso que, ao contrário de muitos outros crimes, as autoridades foram mais atuantes na investigação do assassinato de Markelov, anunciando em 5 de novembro a detenção de dois suspeitos – Nikita Tikhonov e Yevgenia Khasis. O assassinato de Khutorskoi pode significar um sinal da ultradireita: apesar das prisões, o terror vai continuar.

O limite para a violência política tem sido claramente reduzido. Pode ser que o ataque contra Sysoyev tenha sido uma forma de vingar os inflamados discursos do sacerdote contra os pagãos, muçulmanos ou adeptos da Teoria da Evolução de Darwin, mas também pode ter sido com a intenção de desestabilizar o ambiente político, provocando uma nova onda religiosa e política motivada pela violência.

Fachada



Embora anti-fascistas tenham se envolvido em brigas de rua com neonazistas por muitos anos, nenhum líder ou membro fascista havia sido morto. Mas a situação esquentou. No dia 17 de novembro, depois da audiência do assassinato de Khutorskoi, cerca de 70 jovens anti-fascistas mascarados atacaram a sede do grupo de juventude Jovem Rússia em Moscou, do qual eles suspeitam ter ligações com ultranacionalistas.

De acordo com um dos agressores, o Jovem Rússia serve como fachada para Russian Image, uma organização radical nacionalista. À Russian Image foi concedida permissão oficial organizar um show do grupo Kolovrat no feriado do Dia da Unidade Nacional, em 4 de novembro, no centro de Moscou. As letras das canções falam por si só: imagens pagãs combinadas com ódio por judeus e admiração por eslavos que “também serviram nas legiões da SS”. Seriam os mesmos pagãos que organizaram o assassinato do padre?

Com ativistas radicais de esquerda intensificando sua luta contra a ameaça neo-nazista, é inevitável que veremos um crescimento da violência entre esses dois grupos. As autoridades reagiram com chamadas vagas para o combate ao “extremismo”, englobando praticamente todo grupo indesejável que encontram sob este rótulo – de perigosas alas de direita radical a líderes sindicais que distribuíram panfletos contra a redução dos salários de trabalhadores durante a crise. Militantes anti-fascistas enfrentam a ameaça de serem perseguidos por autoridades e atacado por neo-nazistas, e é por isso que usam máscaras para esconder seus rostos.

Como se constata, na Rússia é muito mais fácil e seguro para os neonazistas realizarem suas atividades do que para seus adversários.

Boris Kagarlitsky é diretor do Instituto de Globalização e Movimentos Sociais em Moscou. Artigo publicado no site do Transnational Institute.

Rússia: violência política foge do controle

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