Terça-feira, 10 de junho de 2025
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A questão Damares e comunidade Kamayurá do alto Xingu me parece um equívoco cultural, isso é, um conflito entre vozes de distintas tradições culturais. A gente tem que continuar disputando aqui do lado de fora pela autonomia dos direitos indígenas e, nesse caso especificamente, pelos direitos sexuais e reprodutivos de todas as mulheres do território brasileiro e latino-americano. Porque no episódio Damares (que envolve uma moral cristão evangélica colonizadora) os debates têm um profundo parentesco.

As mulheres Kamayurá cometem neonaticídio quando não existem condições sustentáveis para a criação de um filho em seu entorno – isso pode ter relação com doenças congênitas da criança, miséria da comunidade ou outras modalidades míticas que NÃO NOS CABEM JULGAR.

Damares se arroga salvadora de crianças indígenas e atravessa um processo tradicional de autorreferência e desenvolvimento demográfico, humano, coletivo, para impor sua fé e suas formas de controle das culturas subalternizadas, que julga pagãs porque fogem aos ritos eurocêntricos.

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Quantas mulheres do lado de cá, no nosso terreno ocidentalizado, pobres, periféricas, não sofrem os mesmos dilemas que as Kamayurá (minha comparação aqui não é individual é social… Até porque alguns conceitos de indivíduo não cabem para alguns segmentos populacionais indígenas)? 

Diante da percepção de que não podem criar seus filhos recorrem a técnicas inseguras e clandestinas de aborto.

O que quero dizer é que o que precisamos lutar do lado de cá, se a gente tá do lado dos povos que diz estar, é pela preservação do poder de autonomia dos indígenas em relação à terra e ao seu rito comportamental histórico. 

Bem como precisamos continuar disputando o direito das mulheres ao aborto legal e seguro. O olhar de Damares e suas asseclas sobre o direito ao aborto é muito semelhante àquele que criminaliza o neonaticídio praticado por alguns povos indígenas.

O olhar de Damares e suas asseclas sobre o direito ao aborto é muito semelhante àquele que criminaliza o neonaticídio praticado por alguns povos indígenas

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O olhar de Damares e suas asseclas sobre o direito ao aborto é muito semelhante àquele que criminaliza o neonaticídio praticado por alguns p