Quarta-feira, 14 de maio de 2025
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Em um texto que parece ecoar como um abraço acolhedor, o Papa Francisco nos convida a encarar o passar dos anos não com temor, mas com esperança. Suas palavras, escritas em fevereiro deste ano como prefácio ao novo livro do cardeal Angelo Scola, são mais do que uma reflexão teológica — são um convite íntimo, quase um diálogo entre amigos, sobre o que significa envelhecer com dignidade e propósito.

O livro Na espera de um novo começo: Reflexões sobre a velhice, que será lançado nesta quinta-feira (24/04), ganha um significado especial. Não apenas por trazer as memórias sinceras de Scola, que descreve o envelhecimento como algo que “chegou de repente”, mas por carregar a última contribuição escrita do Papa Francisco até então. E há algo de pessoal nisso: ao comentar as palavras do cardeal, o pontífice parece também compartilhar um pouco de sua própria jornada.

Com a simplicidade que o caracterizava, ele nos lembra: “envelhecer é natural; o problema é como isso acontece.” E é justamente nesse “como” que sua mensagem se torna tão humana. Ele não romantiza a velhice — fala da dor, da solidão, do medo da morte — mas insiste: há uma beleza nessa etapa que o mundo muitas vezes ignora. “Dizer ‘velho’ não significa dizer ‘descartável'”, escreve. “Significa experiência, discernimento, escuta. Valores de que estamos urgentemente necessitados.”

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É impossível não se emocionar ao ler suas palavras sobre os avós, esses “faróis” que iluminam o caminho das novas gerações. Ou ao ver como ele transforma a ideia de morte, não em um fim, mas em um “novo início, porque viveremos algo que jamais vivemos plenamente: a eternidade.”

Há uma doçura quase testamentária nesse texto, escrito pouco antes de seu estado de saúde se agravar. Ao prefaciar o livro de um amigo, Francisco parece também estar fazendo suas próprias pazes com o tempo. “Nas palavras de Scola — reconhece ele — há pensamento e afeto. E isso me comove.” E é exatamente isso que suas linhas transmitem: afeto e profundidade, como quem sussurra, no ouvido de cada leitor, que a vida, mesmo quando desgastada pelos anos, nunca perde seu valor.

No fim, o que fica é um convite: envelhecer não é perder, mas transformar. E, acima de tudo, não é estar sozinho. Porque, como ele mesmo ensina, a fé — e o amor — são formas de resistir ao esquecimento.

(*) Janaina César é jornalista e correspondente de Opera Mundi na Itália.